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sábado, 29 de dezembro de 2012

O embalo frustrado de sábado a noite

Stallone orientando Travolta em "Os Embalos de Sábado Continuam"
Falam que é ruim, mas não é para tanto. Apesar de ser um dos 10 maiores filmes de sucesso de 1983, “Os Embalos de Sábado Continuam” (Staying Alive, 1983, EUA) foi massacrado pela crítica e pelo público, mas hoje não parece ser tão ruim assim. Retratando a vida de Tony Manero (John Travolta, nunca tão em forma) cinco anos depois de “Os Embalos de Sábado a Noite” (Saturday Night Fever, 1977, EUA) e sua luta para se tornar um bailarino da Broadway em meio de suas confusões amorosas com Jackie (Cynthia Rhodes, cantora de um sucesso só), uma cantora e aspirante a dançarina que apoia Tony em todos os momentos e Laura (Finola Hughes), uma charmosa bailarina de sucesso que possui o que quer e aque balança o mundo do pobre Manero.

Travolta em "Os Embalos de Sábado a Noite"
John Travolta foi o grande galã dos anos 70, uma verdadeira febre entre as jovens, mas viu sua carreira esfriar no início da década de 80, apesar do sucesso de bilheteria “Cowboy do Asfalto” (Urban Cowboy, 1980, EUA) e de uma ótima atuação em “Um Tiro na Noite” (Blow Out, 1982, EUA), hoje um cult, dirigido por Brian De Palma. E talvez “Staying Alive” foi a pá de cal que derrubou a carreira de Travolta até 1994, quando mais velho e acima do peso,  interpretou Vincent Vega no aclamado “Pulp Fiction”. Seu retorno como Tony Manero não é ruim, pelo contrário, mostra as mudanças que o personagem passou no período entre os dois filmes. Talvez um dos erros seja a direção de Sylvester “Sly” Stallone, escolhido por Travolta e pelo produtor Robert Stigwood, que não soube dirigir e nem filmar as sequências de dança, sua insistência em colocar o irmão Frank Stallone como coadjuvante e as duas atrizes principais que nunca convencem. Mas talvez o grande problema dessa continuação seja o impacto que o filme anterior teve. Toda uma geração se vestiu e dançou os passos de Tony Manero, além disso, “Os Embalos de Sábado a Noite” retrata conflitos que quase todos os jovens passam, além de ser um símbolo de uma era, como “Juventude Transviada” foi nos anos 50 e 'Sem Destino” na década seguinte. A grande verdade é que só aspirantes a dançarinos se interessam pela história de alguém que quer fazer sucesso na Broadway e a partir do momento em que “Staying Alive” deixa de fora o lado urbano do filme original, fica difícil do espectador se identificar.

Se você não viu, vale a pena assistir para conferir a ponta do futuro astro Patrick Swayze e também a  cena onde Travolta esbarra com Stallone na rua, além da  ótima música dos Bee Gees (é, eles não escaparam dessa fria). Apesar de ser um embalo frustrado, é uma ótima companhia para um sábado a noite.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A última viagem de motocicleta de um rebelde de Hollywood





Dennis Hopper em Hell Ride
Dizem que Quentin Tarantino falou para Larry Bishop, ator de filmes de gangues de motocicletas do fim dos anos 60 e que realizou uma ponta em Kill Bill, que ele estava destinado a realizar o melhor filme de motoqueiros de todos os tempos e que iria produzir este épico. O resultado da parceria entre Tarantino e Bishop pode ser visto em Hell Ride, de 2008, que não é tão bom assim não arrancou o título de Sem Destino como maior marco no gênero. Mas Hell Ride  tem sua importância, pois além de ser um tributo a essa corrente cinematográfica idealizada por Roger Corman, é também o último filme de motociclistas feito por Dennis Hopper, diretor e ator em  Sem Destino e talvez o maior símbolo, juntamente com William Smith e Peter Fonda, do assunto.



Hell Ride  narra a saga de Pistolero (Larry Bishop), The Gent (Michael Madsen, de “Cães de Aluguel”) e Comanche (Eric Balfour) que fazem parte da gangue 'Victor's” e buscam vingança após o assassinato de um de seus principais membros pelo grupo rival “6-6-6”, liderado por Deuce (David Carradine, o eterno Caine de “Kung Fu”) e Billy “Wings” (Vinnie Jones, um dos atores favoritos de Guy Ritchie). Mas além deste crime, uma morte do passado volta para assombrar Pistolero, que terá que resolver este enigma. Dennis Hopper faz uma participação especial como Eddie Zero, um dos fundadores dos “Victor's” e aliado de Pistolero em sua busca pelos fatos. 


O ótimo elenco, repleto de atores que marcaram o cinema independente americano, belas mulheres e a fotografia de Scott Kevan salvam o filme, que possui um roteiro falho e extremamente fraco escrito pelo próprio Bishop. Outro ponto que merece destaque é a ótima trilha sonora que possui clássicos do rock e temas de outros filmes de moto, como “Anjos Selvagens” e “Anjos do Inferno”.

Dennis Hopper, falecido em 2010, vítima de um câncer na próstata, tem uma participação marcante e até mesmo engraçada, abordo de uma motocicleta Indian, da qual era o dono legítimo. O ator, que trabalhou em clássicos como “Juventude Transviada”, “Rebeldia Indomável”, dirigiu  Sem Destino e que nos anos 70, mesmo extremamente paranoico por conta de seu uso abusivo de drogas, atuou em ótimos filmes como O Amigo Americano e Apocalypse Now  e que já limpo realizou um retorno triunfante em Veludo Azul, faz sua última aventura no gênero que o tornou um dos principais símbolos da contracultura.

Hell Ride  pode não ser um clássico, mas é uma justa homenagem a todos os nomes que marcaram o gênero, além de ser uma das chaves para quem quer viajar e conhecer mais profundamente ao cinema explotation. Se você não viu, procure na internet ou compre o DVD importado e veja a última viagem do grande rebelde de Hollywood.

DISCOS INESQUECÍVEIS (E QUASE DESCONHECIDOS)

Del Shannon - Rock On







As vezes parece que os caras sabem que irão morrer e realizam o seu melhor trabalho em seus discos derradeiros. Acho que no caso do Del Shannon ele sabia, pois pouco depois do fim das gravações de "Rock On", ele resolveu meter uma bala de 22 na cabeça, isso em fevereiro de 1990. Uma pena, talvez estivesse prestes a ressurgir das cinzas e voltar a ter certo sucesso, pois este, sem dúvida alguma é seu melhor trabalho e foi lançado postumamente em outubro de 1991. Produzido por Jeff Lynne e contando com a participação de Tom Petty, este disco é um dos melhores do início dos anos 90, com um Del maduro e com a voz mais forte do que nunca.

A primeira música, "Walk Away" é uma grande balada, como "Runaway", sucesso de Shannon nos anos 60, é o tipo de música que você se apaixona de primeira por conta do arranjo magnífico e dos backing-vocals feitos por Lynne e Petty soarem muito bem.

Em "Who left Who", sentimos amargura do velho coração de Del e até entendemos o porquê de ter tomado uma atitude tão drástica. "Are You Lovin' Me Too" nos lembra um pouco as canções de Roy Orbison. O curioso é que Del estava cotado para substituí-lo no "Traveling Wilburys", mas infelizmente não deu tempo para ouvi-lo juntamente de Harrison e Dylan.

"Callin' Out My Name" é mais uma paulada de tristeza e romantismo de primeiro, uma das minhas preferidas, com uma letra sobre um homem que não pode ficar com a mulher que ama e como ele diz em um trecho da música, por ela fazer mal ao coração dele. Logo em seguida vem a minha favorita de todo o álbum, "I Go to Pieces", uma atualização de um sucesso escrito e gravado por Shannon em 1965. Mas com o seu coração magoado, esta versão ficou melhor, mais dramática e com uma atmosfera única, apesar de nos remeter diretamente aos anos 60.

“Lost in a Memory" não acrescenta nada ao álbum, sendo uma das mais fracas.
"I Got You" diferente da tristeza das outras canções traz um sopro de felicidade e tem um lindo arranjo que lembra um pouco o trabalho dos "Wilburys", apesar de ser uma canção apenas de Del. "What Kind of Fool 

Do You Think I Am? " possui um grande contraste  pois é uma balada tristonha mas com um arranjo totalmente para cima e um grande solo de guitarra, talvez o melhor de todo o álbum.

Em "When I Had You " eu já vou logo avisando, se você é ou for virar fã de Shannon, cuidado, pois a primeira estrofes da música parece ser profética.Para encerrar o disco, há o country "Let's Dance”, a mais fraca das 10 canções do álbum.

Na edição em CD temos cinco músicas bônus, o grande Rock' n' Roll com certa pitada de blues "Hot Love", um country de respeito, que nos leva há algum ponto remoto do Monument Valley, a locação favorita do diretor John Ford mostrada em  clássicos como “Rastros de Ódio” ou “Nos Tempos das Diligências”. O disco segue com a grande letra de "Nobody's Business", que apesar de ótima, soa um pouco chata no refrão.

"You Don't Know What You've Got (Until You Lose It) " é mais uma grande balada de Del e parece ser o encerramento perfeito do disco, mas para somos surpreendidos com  a  pedrada "Songwriter", uma demo emocionante, que prova que Shannon  é um dos melhores compositores de baladas em todos os tempos. Nada mais justo para o cara que escreveu "Runaway", uma das músicas eternas da era de ouro do Rock' n' Roll.

(Ficou curioso em conhecer este disco? Escute ele online clicando aqui)