Pesquisar em Antropoide News

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Cinco músicas para te curar da ressaca de amor

Nem o Homem de Aço suportou e foi afogar as mágoas após Lois Lane fugir com Lex Luthor. Fica assim não Superman e leia o nosso post


Às vezes tudo dá errado. Sabe aquela menininha linda, cheia de carinhos, com um toque todo especial? Ela te deixou.  Aí você fica perdido, não sabe o que fazer, corre o risco de cair na bebedeira e ficar em uma agonia profunda durante alguns dias. Nesses momentos, aquele disco especial, aquela música toca na alma. Parece que todas as canções foram feitas pra você e seu par e bate aquela bad. No Toca CD, no MP3, no celular, onde quer que seja, sua playlist vai de “Cryin'”, do Aerosmith, até “Retalhos de Cetim”, de Benito Di Paula.  Mas deixe de lado esse astral negativo e cure suas dores de amor com as cinco músicas abaixo. Garanto que você vai ficar excelente rapidinho.

05 – Bad Company - Good Lovin' Gone Bad: presente em “Straight Shooter" , segundo disco da banda, e escrita por Mick Ralphs, é daquelas que você se identifica na hora. Sabe aqueles relacionamentos enrolados, com pessoas que parecem bipolares? É mais ou menos o que essa música descreve. Vale a pena colocar no talo e se deixar contagiar pelo vocal poderoso de Paul Rodgers. Certeza que você irá resolver dar a volta por cima.

04 – The Faces - Ooh La La: Essa é a canção que dá nome ao quarto álbum da banda, lançado em 1973. Escrita e cantada pelo lendário Ronnie Lane, trazendo uma tremenda lição em suas estrofes: “Eu queria saber o que sei agora, quando era mais novo./ Queria saber o que sei agora, quando era mais forte.” Quem não queria? Até mesmo Rod Stewart e Ronnie Wood, colegas de banda de Lane e que regravariam essa canção anos depois.

03 – Lou Reed - A Gift: sua autoestima anda baixa, tem horas que você quer cortar os pulsos ou fugir? Não faça isso e escute essa ótima música do grande Lou, que faz parte de “Coney Island Baby”, afinal, você também é um presente para as mulheres (ou homens) desse mundo.  





02 – Wando e Nando Reis – Minhas Amigas: a tristeza te pegou, seus amigos tiram o sarro de você só por conta de sua forte paixonite. Não esquenta e faça como o Mestre Maior do Universo, o saudoso Wando, e seu camarada ruivo Nando Reis e vá procurar suas velhas amigas. Elas sempre estão dispostas a proferir palavras de conforto, pode ter certeza.


01 – Tom Waits - The Part You Throw Away : nada de depressão, ok?  Faça como o Tom Waits e decida o que você vai jogar fora. É sempre bom e possível também arrumar novos sentimentos, pessoas e amores. O restante você jogar fora por aí!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Cão sem osso – Carta aberta para uma cadela

O ritual sagrado de ir até a escada e esperar minha mãe voltar do trabalho
Os dois últimos dias foram difíceis e você sabe a razão. Na verdade, desde o ano passado tenho recebido alguns golpes baixos. Primeiro foi minha tia-avó, Apparecida Durante, a Tia Cida (ou “Palonça”), que foi embora, agora você. É muita sacanagem para menos de dois anos. Quando a Tia faleceu foi foda, mas ao mesmo tempo, libertador.  Até hoje fico emocionado quando lembro dela e aliviado, porque sei que ela se foi por vontade própria. Cansou-se das dores na coluna e se entregou de vez. Ela morava com a minha avó materna, Dona Dirce, e com meu tio Abel.  De vez em quando vou almoçar lá, mas confesso que não tenho coragem de subir no quarto da “Palonça”. Acho que tenho medo de quebrar o encanto que era ir lá e receber aquele beijo babado, mas extremamente carinhoso que só ela me dava. Eu vou subir, abrir a porta e ela não vai estar, então prefiro fingir que a qualquer minuto ela vai descer a escada e irá sentar na cadeira branca que fica estrategicamente colocada ao lado do sofá da sala. Mas e com você, como faço?


Sabe, hoje eu levantei, subi as escadas e não vi os seus jornais, já fiquei chateado. Aí fui ao quarto e foi fatal: você não estava lá, no seu cantinho, enrolada em seus panos velhos. Caí na real e percebi que nunca mais ia poder passar a mão na sua cabeça, bater no seu cobertor e te ver estender as patas, sempre abanando o rabinho. Senti um tremendo vazio e chorei muito, feito criança. Logo eu que sempre julguei idiota alguém chorar pela morte de um cão. Confesso que mudei de opinião e percebo que o imbecil era eu. Ainda muito triste, me sentei no sofá e liguei a televisão, mas quando senti a falta do seus potes de ração e água, as lágrimas voltaram a cair. Nem me deu vontade de almoçar, afinal, não tinha alguém para comer as sobras do meu prato ou pegar os pedaços de carne que eu arremessava e iam direto para a sua boca.


Fui sentindo sua falta durante o dia, ia à cozinha e não via aquele seu olhar desconfiado, pensando no que eu estava indo fazer lá.  Ficava lembrando as vezes em que te deixava em casa sozinha e ia resolver meus problemas ou comprar algo aqui por perto e a senhora, propositalmente, dava aquele “mijão” na cozinha. Aí eu sempre te dava uma bronca, te ignorava e você me olhava de forma cínica, meio que querendo dizer o seguinte: “Você me deixa aqui sozinha, me abandona e eu nunca fiz isso contigo, então fiz xixi aí mesmo só pra você limpar, seu trouxa.”


Nas conversas com amigos e parentes, ficamos lembrando suas histórias. Lembra quando você era novinha, mexeu em minhas coisas, pegou uma nota de R$50,00 e a rasgou? Eu fiquei possesso, ameacei te dar umas cintadas, mas não tive coragem. Mesmo assim Greta, você tinha o sangue ruim e dando altos pulos, avançava em mim. Outra memória que me veio, foi quando passamos juntos uns dias na casa da minha avó Cleide e você cutucou os vasos dela. Ela não se esqueceu disso e me falou que chorou ao saber de sua partida. Mas de tudo que você fez, o que eu não vou esquecer foi o dia em que você salvou minha mãe. Se houve algum tipo de missão destinada para ti, sem dúvida foi isso. Sempre alerta, você ouviu o estralo do estuque e começou a latir, acordando a dona Sandra. Foi só vocês duas saírem do quarto e o teto desabou. Só por essa atitude, já sou grato eternamente.

Bem, por mim ficava o dia todo falando desses quase 14 anos juntos, de quanto estou sentindo a falta do barulho dos seus passinhos, de suas artes e principalmente da sua companhia, mas tenho que te deixar em paz agora. Ontem, para aliviar um pouco essa dor, escutei uma música que se chama Old Shep. É a história de um menino e seu pastor-alemão. É uma canção linda. Os dois últimos versos dizem o seguinte: “Mas se cães têm um céu, há uma coisa que eu sei. O velho Pastor tem um lar maravilhoso”. Sou agnóstico, não tenho uma crença específica, mas pode ser que haja um paraíso reservado para os cachorros e imagino que você já esteja nesse local, doida para voltar. Mas não se preocupe com a gente, viu? Eu, dona Sandra e a Dami estamos aqui, como cães sem osso, tentando nos adaptar com esse silêncio e vazio que a nossa casa ficou sem tua presença, com esse mundo mais triste sem sua alegria e esperteza.

Preciso te deixar em paz e também ficar em paz, mas obrigado pelos anos de convívio, pelas alegrias, amor, afeto, companheirismo e principalmente por sua lealdade conosco. Desculpe-me pelas broncas, xingamentos, brincadeiras fora de hora e por ter te deixado sozinha em alguns momentos ou não ter o hábito de te levar para passear. Tudo que eu pude fazer, eu fiz. Obrigado Greta, se cuida e apronta muito por aí, mas saiba que eu estou morrendo de saudades. Um beijo, igual àqueles que eu te dava na testa. Se um dia resolver voltar, o que acho bastante improvável, as portas da nossa casa sempre estarão abertas. Fique bem sua “cadela”. Qualquer dia, nos vemos por aí...


 
A última foto

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Gigantes do ringue

Desempregado X Mercado de Trabalho -  O Duelo de Gigantes

E ele vai ao ringue outra vez. Já cansado, mas com muita força, preparado para a próxima porrada. Sua visão já não é mais a mesma de outrora e seu modo de caminhar já está mais lento, mas mesmo assim, se sente preparado, sabendo que tem grandes chances de vencer. Com suas luvas negras e com um calção desbotado, irá enfrentar seu pior adversário, o mais forte de todos. Ele já foi nocauteado por esse oponente algumas vezes e, mais do que uma revanche, é a chance de mostrar para si próprio, a capacidade de garra e talento que tem.  O oponente não treme, nem se intimida, sabe que é pior do que Ali, Mike Tyson, George Foreman ou Eder Jofre. É um sujeito sanguinário, uma verdadeira máquina, nasceu para ser campeão e foi criado para isso. Apesar disso, se sente vazio diversas vezes, mesmo após fumar um de seus charutos cubanos.  É chegada a hora do combate, chamado por muitos de “O Embate dos Séculos”.  Mais uma vez, como faz dia após dia, o Trabalhador Desempregado tenta vencer o Mercado de Trabalho.

O Trabalhador Desempregado se preparou da seguinte maneira: prestou vestibular, fez faculdade privada por quatro anos, ainda deve algumas mensalidades, mas todo dia tenta se aprimorar mais. Lê bastante, estuda mais um pouco, busca melhorar seu inglês e também quer aprender outros idiomas. Pega chuva, trem, metrô e ônibus lotado, mas não desiste da sua tentativa de vencer o, cada vez mais difícil, Mercado de Trabalho. Já o Mercado de Trabalho se utiliza de uma frase clichê, diz que nasceu pronto e que sempre está disposto para uma revanche. E não é que o danado está preparado mesmo!

Agora os dois estão no ringue, o público mantém os olhos fixos no grande palco da humanidade. Todos cantando e gritando muito. O coro arrepia os verdadeiros gladiadores do Terceiro Milênio. O juiz já está apostos, dita as regras e realiza o toque das luvas. Começou o primeiro round. Trabalhador Desempregado estuda o jogo do adversário, observando principalmente a dança, a maneira suave que o Mercado de Trabalho se desenvolve pelo tablado. Opa! Um momento de desatenção do Desempregado e um swing de direita de Mercado de Trabalho. Desempregado cai à lona e nesse momento deve estar pensando nos anos desperdiçados. Deve se lembrar de quando a família ofereceu a oportunidade de cursos de especialização e ele não aproveitou, das aulas perdidas na faculdade, naqueles momentos de pura infantilidade, onde preferiu tomar algumas cervejas e relaxar, ao invés de se arriscar em uma oportunidade de construir algo singelo, mas com alicerces seguros. Lembra também que muitas vezes desistiu simplesmente por desistir, talvez falta de entusiasmo e, por conta disso, mais a necessidade, foi obrigado a fazer o que não gostava. Mas agora não, ele sabe que será um crime desistir e antes do juiz iniciar a contagem, como em um filme de Rocky Balboa, se levanta. Nada vai abalá-lo dessa vez. A luta recomeça.

 
Desempregado já cansado de tanto apanhar


Trabalhador Desempregado se sente firme e com todo ar que possui em seu pulmão, vai pra cima do grande campeão e solta um forte jab de esquerda, agora um cruzado, mas mesmo assim Mercado de Trabalho não se entrega.  Apesar de uma sequência fantástica de golpes, Trabalhador Desempregado está aparentemente cansado e abre a guarda. Uma ótima oportunidade para Mercado dar a porrada final. É o que ele faz. Um soco direto coloca o Desempregado ao chão, mas dessa vez nenhum filme passa na cabeça desse oponente quase derrotado. A contagem começa: “dez, nove, oito...”, vai dizendo o arbitro, até que, surpreendentemente, Mercado de Trabalho oferece sua mão direita e puxa o Trabalhador Desempregado. Os dois se abraçam. Mercado de Trabalho sussurra as seguinte palavras : “Eu preciso de você, cara. Já ganhei trilhões, muita grana mesmo, mas sem sua presença, nada disso era possível. Todos os dias que você pegou chuva, enfrentou o transporte público lotado, eu estava lá, te observando. Talvez seja por isso que estou mais preparado do que você e acabei ganhando as outras lutas. E, propositalmente, vire e meche, colocava você para lutar com adversários menores, até mesmo com seus próprios demônios. Mas hoje você não desistiu e por isso te ofereci a minha mão. Vi que se arrependeu dos erros do passado e está tentando começar com força total agora, mas para eu poder te ajudar, preciso que você mantenha a mesma postura dessa luta. Tenha força, garra e o foco dessa noite. Eu só posso ser campeão se você estiver junto. Posso contar contigo?”

Desempregado, com os olhos cheios de lágrimas, disse que dessa vez o Mercado de Trabalho poderia contar com ele, pois estava preparado. Mercado riu e conclui sua fala: “Vamos ter muitas brigas ainda, mas sabendo que você não sairá do trilho, vamos ser sempre campeões.”

 
Mercado de Trabalho e o Desempregado confraternizam 



Trabalhador Desempregado, completamente suado, apertou as mãos do Mercado de Trabalho e percebeu que agora, apesar da luta continuar, estaria seguro e pronto para as próximas batalhas, mas podendo contar com um parceiro de peso. Como em um filme americano, o duelo de gigantes teve um final feliz e com ambos vencedores. Foi uma grande luta!

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Contra os sonhos, o direito a educação e a juventude

FEBEM - Fábrica de Querôs



A diminuição da maioridade penal não resolve o problema. Mas as pessoas que estão se apegando nessa ideia insistem em dizer frases apelativas como: “Se fosse um filho ou um sobrinho seu vítima de um crime cometido por um adolescente  tenho o certeza que você apoiaria!”


Será que essa é a raiz de todo esse dilema ou seria apenas a solução mais fácil?


Sem dúvida alguma é bem mais fácil alterar essa lei, superlotar cadeias, transformar adolescentes infratores em verdadeiros criminosos e ainda pagar quase R$1000,00 para mantê-los em ‘cana’. O povão aprova, bate palma para o governador, deputado, senador ou presidente que é a favor dessa situação, afinal, a educação e a cultura não é importante e nem transformam vidas. A progressão continuada, ah, essa sim, mantém a garotada na escola e mesmo sem aprender coisa alguma, ele será alguém um dia. Realmente, será alguém que não consegue construir seus sonhos, porque a educação, que é seu direito constitucional, foi negada. Não sobrarão opções e ir para o crime é a única saída (ou a única que ele conhece), afinal, os governantes não estão nem aí para a periferia.

Saibam vocês que são a favor da redução da maioridade penal e que aplaudem de pé essa causa, que os verdadeiros assassinos continuarão soltos e ainda irão rir de sua cara, pois cada crime cometido por um adolescente, quem deveria ir preso é cada um dos políticos que negaram ou roubaram grana da educação, cultura e de projetos sociais, porque querendo ou não, foram eles que colocaram a arma na mão desse jovem, afinal, negaram a ele o básico de sua vida.

Então, em vez de gastar energia defendendo a varrição da sujeira para baixo do tapete, apoiem causas nobres, saiam para as ruas e peçam medidas realmente decentes para a juventude desse país. Briguem pela educação, para salários melhores para os professores e deixem dessa ideia de matar as saudades de um tempo ruim que não vale a pena ser lembrando, afinal, você sente falta das velhas FEBEMS dos anos 80, 90? Você não julgava esse tipo de instituição como uma verdadeira escola de criminosos? Então deixe de ser hipócrita e grite, esperneie e se revolte pelo direito de educação, sonhos e trabalho. Fora isso,  é bem melhor se manter calado.

(escrito em abril)

Entre os extremos da megalópole

Av. Washington Luís - o limite entre dois mundos em um  lugar  só


Às 7h30 em Diadema, 10h30 no periférico Jardim Miriam, 11h15 na divisão de mundos que é a Av. Washington Luís, 11h45 aprecio os grandes monumentos na região do Ibirapuera, às 12h15 desço e dou uma volta na pomposa Brigadeiro Luís Antônio, por volta das 13h30, após me deliciar de um tradicional e suculento Virado à Paulista, caminho um pouco pelos arranha-céus da gloriosa e étnica Av. Paulista. Entre um metrô e outro acabo comprando o livro 'A Primavera do Dragão', de Nelson Motta, em uma daquelas máquinas maravilhosas que incentivam a leitura. Quando olho para o relógio já são 14h e já estou na estação da Barra Funda esperando o trem que vai sentido Franco da Rocha. Quando bate as badaladas das 14h15 e duas estações depois, tomo um cafezinho no Largo da Lapa. Ufa, nem eu acredito que fiz um verdadeiro tour por Sampa hoje. É incrível como não precisamos ir tão longe para vermos a mais extrema pobreza e, alguns minutos depois, o luxo e do dinheiro. Essa é São Paulo, uma cidade cheia de mistérios. Uma mulher que ainda exala seu ar sexy, mas que por dentro já está velha, cansada, bastante magoada e quase sem tesão.

(escrito originalmente em 22 de abril de 2013)

quinta-feira, 14 de março de 2013

As Sandálias do Pescador


Francisco ou Jonathan Pryce?




Habemus papam: na última quarta-feira, 13 de março, o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos foi escolhido como o 266º Papa, o sumo pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana. Mal foi eleito e Bergolglio, que adotou o nome de Francisco  em homenagem a São Franciso de Assis, já é alvo de controvérsias. Envolvido em dois processos judiciais, o primeiro envolvendo o sequestro de dois jesuítas em 1976, sendo que uma das vítimas o acusa de ter sido o alcaguete. O segundo envolve sua omissão no sequestro de bebês por militares da alta cúpula, nos tempos da ditadura militar da Argentina (1976 - 1983). Quando líder dos jesuítas argentinos, no mesmo período do regime ditatorial, teria dito aos seus colegas de batina para não se envolverem no ativismo político, mas sim, se dedicarem apenas ao trabalho paroquial. Além disso foi contra a legalização do casamento gay, fato que ocorreu no país em 2010. Polêmicas a parte, mesmo sendo o primeiro jesuíta e latino-americano a assumir o posto máximo do catolicismo e de histórico humilde, mas sem perfil progressista, ainda é muito cedo para conclusões, mesmo a Igreja Católica precisando urgentemente de reformas.

A instituição da Igreja já passou por males súbitos, inclusive de maiores gravidades do que ocorre hoje. Um dos casos mais conhecidos ocorreu no papado de Rodrigo Borgia, acusado por muitos cardeais da época de extrema corrupção e até mesmo de realizar orgias na antiga Roma. Mas voltando ao século XX, desde a morte do hoje Beato João XXIII (foto), talvez o último sacerdote a adotar uma postura mais progressista através da convocação do Concílio Vaticano II, em 1962, uma reflexão da Igreja Católica pela própria Igreja e uma tentativa de adequá-la aos tempos contemporâneos, transformando-a em uma entidade mais democrática e aberta ao povo. Infelizmente, durante as reuniões, João XXIII faleceu, vítima de um câncer no estômago. Seu sucessor, Paulo VI, aprovou muitas das  políticas de renovação do Concílio e manteve aberto o diálogo com outras religiões, mas nas mais radicais acabou recuando, mantendo o poder da Igreja centralizado entre cardeais, bispos e tendo uma postura conservadora, principalmente nas questões sexuais, algo seguido por todos os seus sucessores. 

Um rosto sem sorriso

Capa do Jornal do Brasil anunciando a morte de João Paulo I. Pelo título dá para perceber que ainda não hávia teoria da conspiração

Após a morte de Paulo VI,  Albino Luciani  é escolhido como seu sucessor e adota o nome de João Paulo I, mais conhecido pelos fiéis como o 'Papa Sorriso'. De origem pobre e com raízes socialistas, fica a frente da Igreja apenas 33 dias, pois em 28 de setembro de 1978, é encontrado morto, possivelmente por uma freira, que após sua morte jurou voto de silêncio. A versão oficial do Vaticano seria que um dos padres que compunham seu secretariado o teria encontrado já falecido, vítima de enfarte do miocárdio. Na época, o Vaticano alegou que devido as leis canônicas, uma autópsia não poderia ser realizada. 

 Muitos estudiosos do caso, afirmam que na verdade, Luciani sofreu uma embolia pulmonar, mas segundo algumas teorias da conspiração, João Paulo I teria sido presa de um assassinato rigorosamente premeditado. No livro 'Em Nome de Deus - Uma investigação do assassinato do papa João Paulo I', o escritor inglês David Yallop sugere que o 'Papa Sorriso' teria sido eleito por cardeais conservadores como um mero 'laranja'. Mas ao contrário do que estes esperavam, Luciani mostrou um imenso carisma  e  estava disposto a  mudar a igreja internamente e exonerar grande parte da cúpula que cuidava do Banco do Vaticano, que supostamente teria ligações com a Cosa Nostra, maçonaria e também era ligado ao banco privado católico 'Ambrosiano Veneto', cuja a diretoria estava altamente envolvida em operações ilegais. Alguns outros autores citam que até o antigo serviço secreto russo, a KGB, estaria envolvido no fato. No livro feito por encomenda do Vaticano,  'O Ladrão da Noite', o ex-seminarista   John Cornwel cita que o alto poder da entidade sabia que Albiani sofria de embolia pulmonar e que este necessitava de tratamento, mas pouco fizeram. Cornwel ainda cita que se João Paulo I tivesse sido devidamente medicado, haveriam poucas chances de morte.  Mario Puzo e Francis Ford Copolla romancearam o fato em 'O Poderoso Chefão III', apenas mudando o nome das maiorias das instituições e transformando Luciani em um Cardeal chamado  Lamberto. 


Em outubro de 1978, o conclave escolhe o Cardeal polonês  Karol Józef Wojtyła como o novo Papa (o primeiro não italiano em 455 anos) e o mesmo homenageia o seu antecessor, assumindo a alcunha de João Paulo II.   O papado de Wojtyla (foto) é marcado por seu forte carisma, de postura inflexível, ortodoxa e forte luta contra o comunismo diante do mundo. João Paulo II foi um forte crítico a ligação de religiosos ao marxismo, principalmente da 'Teologia da Libertação', doutrina que se espalhou na América Latina  durante os anos 60 e que pregava a aproximação dos conceitos de Marx aos ensinamentos cristãos e com forte apelo as classes oprimidas pelo capitalismo e anos depois por ditaduras militares. João Paulo II parecia ter medo de que a América Latina se tornasse uma nova União Soviética.  Wojtyla, juntamente com o Cardeal Joseph Aloisius Ratzinger, o futuro Bento XVI, chegou a perseguir, descomungar  e impor  voto de silêncio a sacerdotes ligados a corrente, como o teólogo  brasileiro Leonardo Boff. Nesse meio tempo, o que se torna popular na América do Sul,  especialmente no Brasil, é a Renovação Carismática, movimento de origem norte-americana, inspirado nas pregações protestantes e desenvolvido a partir dos anos 60 no mundo.   Além disso é criticado por seu suposto acobertamento de casos de pedofilia, apoio a complexa Opus Dei , visões conservadoras diante dos métodos  anticoncepcionais, mesmo em caso de doenças sexualmente transmissíveis e diante da homossexualidade. 


A renuncia

Bento XVI: pouca ação contra a corrupção e pedofilia


Em 2005, após a morte de João Paulo II, o alemão Joseph Ratzinger (foto), braço direito de Wojtyla, foi eleito papa e adotou o nome de Bento XVI.  Extremamento ortodoxo e não muito carismático,  Ratzinger não suportou as pressões do cargo e o  renunciou no ínicio deste ano. Bento XVI, como o seu antecessor, f acobertou diversos casos de pedofilia e nunca teve uma postura clara sobre esses acontecimentos. O mínimo que grande parte da população (católica ou não) esperava, é que os envolvidos em  casos como esses fossem punidos rigorosamente, coisa que Ratzinger nunca fez. No documentário de 2011,  'Abused: Breaking The Silence', uma produção da BBC, mostra um grupo de  ex- estudantes de colégios católicos da Inglaterra e Tanzânia, que sofreram abusos por parte de  dois sacerdotes católicos. Um deles,  o padre Kit Cunningham, chegou a receber das mãos da Rainha Elizabeth II, a  Ordem do Império Britânico, devolvida antes de os escândalos virem a público (fato que só ocorreu após a sua morte em 2010). Em 'Abused' é mostrado que Bento XVI não estava muito interessado a mexer nesse  'vespeiro'.  Talvez um dos poucos aspectos positivos de Bento XVI foi adentrar ao mundo virtual no final de 2012 através de uma conta no microblog 'Twitter". Agora Bispo Emérito de Roma, promete ficar afastado das definições do futuro do catolicismo. 


Com a eleição de Francisco I, a Igreja Católica mostra que está disposta a se reformar. Parafraseando o ditador  brasileiro Ernesto Geisel, parece que está transformação será de maneira lenta, gradual e segura. Fica em aberto a expectativa de que o novo papa se volte a políticas sociais e seja mais rigoroso diante dos escândalos sexuais e financeiros que cercam a igreja mais poderosa do mundo. Quem sabe São Francisco de Assis não dê uma luz para o agora seu xará e o faça transformar todo o ouro e riqueza obtido pela Igreja Católica em cestas-básicas para os milhões de famintos que habitam este mundo enorme. Para os fiéis,  o negócio é rezar muito e ter fé que Jorge Mario Bergoglio saberá usar 'as sandálias do pescador'. 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Quando o jogo é bem jogado, a tacada pode ser certeira

O cartaz do filme, que segundo a Cinemateca Brasileira, é de autoria  do diretor teatral Elias Andreato

O feltro de uma mesa de sinuca. Um pano verde onde sonhos são expostos e a malandragem muitas vezes é exposta ao seu ápice. Dependendo da sorte e do seu talento no taco, você até pode se dar bem. Mas se o azar te pegar, suas chances são mínimas e tudo pode ser perdido. E é mais ou menos sobre isso que 'O Jogo da Vida', filme dirigido em 1977 por Maurice Capovilla e baseado em um conto do livro de mesmo nome, 'Malagueta, Perus e Bacanaço', de João Antônio, ganhador do Prêmio Jabuti de Revelação e Melhor Livro de Contos em 1963, trata. Um filme que talvez não seja tão conhecido, mas que é um dos retratos mais humanos de nosso cinema.

Em 'O Jogo da Vida', acompanhamos uma noite na vida de três malandros do subúrbio de São Paulo - Malagueta (Lima Duarte), um faminto apostador, batedor de carteiras e morador de alguma favela paulistana, Perus (Gianfrancesco Guarnieri), ex-funcionário de uma fábrica de cimento que decide ganhar a vida por meio do seu talento como jogador, e de Bacanaço (Maurício do Valle), um sujeito metido a malandro, mas que se deu mal em seus outros golpes - e sua procura por vítimas, possíveis perdedores, pelos salões de sinuca mais barras-pesadas.  Por meio de flash-backs vamos descobrindo quem são esses três homens e o porquê de o destino tê-los levado a esse estilo de vida, em que se ganha e perde com muita facilidade.
Uma das edições do livro com capa baseada no filme.

O trio de atores que dão vida a esses anti-heróis paulistanos realizam um trabalho magnífico, obtendo verdade e sensibilidade de maneira certa, sem nunca exagerarem no tom. Lima Duarte, em um papel destinado a Grande Otelo, está chapliniano, Guarnieri é a realidade, o equilíbrio entre os três e Maurício do Valle, um dos símbolos do Cinema Novo, dá seu toque de leveza ao mais obscuro dos personagens principais. O elenco de coadjuvantes se dá ao luxo de ter Joffre Soares como um dos otários que o grupo engana, Antônio Petrin como um malandro que cobra um tipo de pedágio entre os jogadores, Maria Alves como namorada de Bacanaço. A baiana Martha Overbeck Bastos é a irmã de Perus e Myrian Muniz é a companheira de Malagueta, uma figura muito ímpar e mais um dos pontos positivos de 'O Jogo da Vida'.  Por esse papel, Myrian recebeu o Kikito de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Gramado de 1978. 'O Jogo da Vida' ainda tem participações especiais de grande jogadores de bilhar da época, como o lendário Carne Frita e Joaquinzinho, o pato da cena final .


Maurice Capovilla já planejava levar o conto para as telas de cinema desde os anos 60, e juntamente com Gianfrancesco Guarnieri escreveu os diálogos, enquanto João Antônio fez uma revisão final. O roteiro, que é inteligentíssimo, se torna ainda melhor através da improvisação do elenco. Capovilla não erra a mão como diretor, colocando-se como mais um espectador da vida desses personagens. Em nenhum momento ele julga ou politiza os personagens. Também não “glamouriza” e nem torna a miséria um espetáculo, mostrando que é possível viver dessa forma marginal. Dib Lufti, hoje afastado do cinema por conta do Mal de Alzheimer, é primoroso com a fotografia, que é na minha opinião, uma das melhores, senão a melhor, do cinema brasileiro, tirando proveito dos neons da já tão depravada Rua Augusta e dos bares da Zona Oeste paulistana. É incrível como em momentos em que a luz é mais escura, como em alguns salões de sinuca, sua fotografia nos transporta para aquele ambiente, dando a sensação de que estamos dentro do filme, observando sob o mesmo ponto de vista que Malagueta, Perus e Bacanaço. Outra coisa bastante agradável em 'O Jogo da Vida' é a música do Maestro Radamés Gnatalli e as duas músicas de Aldir Blanc e João Bosco, 'O Jogador' e 'Tabelas', que realizam um casamento perfeito entre a trilha sonora e a imagem. Segundo Maurice Capovilla em sua autobiografia 'A Imagem Crítica', escrita com base em depoimentos ao crítico Carlos Alberto Mattos, as duas canções foram compostas antes que a dupla assistisse ao filme, durante várias partidas (e algumas cervejas) disputadas entre ele, João Antônio, Aldir Blanc e João Bosco em uma sinuca do Rio de Janeiro.

Capa do compacto que contém as duas músicas  do filme.


Se o cinema americano tem 'Desafio à Corrupção' como o filme definitivo sobre bilhar e sinuca, não ficamos devendo em nada, porque 'O Jogo da Vida' é um filme sublime, lírico, uma verdadeira poesia cinematográfica, que nos emociona e que 36 anos depois, continua atual, pois nesses últimos tempos, apesar de certos avanços em algumas áreas, a pobreza, as favelas, o desemprego e outros problemas urbanos só se multiplicaram e continuam deixando grande parte da população à margem de uma vida digna, ou seja, é cada vez mais difícil conseguir dar a tacada certeira.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Djaaaaaaaaaangooooooooooooooooooooooo



Os mocinhos: O Dr. King Schultz e Django preparando uma emboscada nas montanhas

Sim, a música do argentino Luis Bacalov continua a ecoar em meu ouvido. Foi o tema de abertura de 'Django', o  original de Sergio Carbucci, de 1966 e é também deste  já clássico contemporâneo filme chamado  "Django Livre'. Lembro-me que em uma conversa informal com o  Professor Doutor Roberto Elisio dos Santos, chegamos à conclusão de que depois de 'Os Imperdoáveis', de Clint Eastwood, nunca mais veríamos um  grande western nas telonas. Estávamos enganados, pois Quentin Tarantino teve culhão para trazer novamente o 'bang bang' de volta das cinzas, como um italiano louco chamado Sergio Leone fez nos anos 60.  

O roteiro é rápido, sagaz e inteligente e todas as referências de Tarantino estão neste filme, em que, pelo menos em minha opinião, ele ameniza a violência de seus filmes anteriores. Lembramos de "Laranja Mecânica", de Kubrick,  ou  '... E o Vento Levou', de Victor Fleming, a 'Shaft', de Gordon Parks, toda a cultura cinematográfica de Quentin está lá, ou seja, grande parte do que o cinema já produziu, de melhor ou pior. O mais incrível de tudo, é que ela está fresca e revigorada, como se esses outros filmes nunca existissem. Bom, vamos ao filme. 


Os caras maus: Stephen (para os  íntimos  Uncle Ben's) e Mounsier Candie 



Django (Jamie Foxx muito bom) é um escravo que é comprado pelo Dr. King Schultz (Christopher Waltz surpreendendo novamente - eu desconfio que o nome de seu personagem seja inspirado no alemão que salva Carlitos em 'O Grande Ditador'), um dentista que se transformou em um caçador de recompensas. Juntos, eles formam uma dupla que caça diversos bandidos no inverno do velho oeste. Mas Django pretende resgatar sua mulher, que está na fazenda de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio mostrando que é um grande ator e sua atuação, é sem dúvida, um dos pontos altos do filme), um maléfico 'sinhô', dono da maior plantação de algodão do Mississípi. Tem como criado fiel Stephen (Samuel L. Jackson, a cara do 'Uncle Ben's', mas estrondosamente maravilhoso, em um dos melhores papéis de sua carreira), um velho negro responsável pela criadagem da casa. Já resumi bastante o que é o filme, agora vamos voltar para algumas referências técnicas.


E além deste fantástico elenco, Tarantino traz de volta às telonas grandes atores que estavam sumidos (e esquecidos), como Bruce Dern, em um extensivo close-up merecido, Don Stroud, o velho surfista que não fazia um grande filme desde '007- Permisão Para Matar', Tom Wopat, o eterno Luke Duke de 'Os Gatões', Robert Carradine, que junto dos irmãos David e Keith , estrelou  'Cavalgada dos Proscritos', um dos últimos suspiros do gênero, dirigido pelo grande Walter Hill e Michael Parks, seu parceiro desde 'Um Drink No Inferno'. Mas sem dúvida nenhuma, as participações mais marcantes são a de Don Johnson, o eterno Sonny Crockett de 'Miami Vice', que se tornou melhor ator ainda com o tempo, interpretando o sulista "Big Daddy" e claro, Franco Nero, o verdadeiro 'Django', com seus grandes olhos azuis e sua presença marcante, trava um diálogo rápido com o novo 'Django'.  Além disso, a cenografia e os figurinos são esplêndidos. A fotografia fica a cargo d o três vezes ganhador do Oscar, Robert Richardson, parceiro constante de Tarantino, Scorsese e Oliver Stone, que faz um trabalho com a lá Lucien Ballard, fotografo de diversos westerns clássicos. Os closes nos pés e o ponto de vista do morto, marcas de Quentin Tarantino estão presentes também em 'Django Livre'. 
O presente e o passado: Jamie Foxx e Franco Nero (na foto ao alto em 'Django', de 1966), os Djangos de hoje e ontem. 


Eu ainda acho que 'Cães de Aluguel' (que já completou 20 anos!) e 'Pulp Fiction' (que no próximo ano completa 20 anos!) são as melhores coisas que Tarantino filmou e 'Django Livre' com certeza entrará no hall, sendo o meu terceiro filme favorito do diretor. Também não é o melhor western já feito, Nem é 'Era Uma Vez no Oeste', de Leone, nem 'O Homem Que Matou o Facínora', de John Ford, mas é um ótimo bang bang, como há muito tempo não se fazia. Ah, 'Django Livre' também tem a tradicional ponta de Quentin Tarantino e bem nessa hora, durante a projeção,  três garotos sentados algumas cadeiras a frente da minha conversavam entre si e perguntavam um ao outro se aquele era Tarantino, o diretor do filme. E agora, por meio deste texto, eu  respondo: "Sim rapazes, este é o Tarantino, que por enquanto é o último cineasta inovador de Hollywood. Acho que ele realizou uma apresentação inesquecível para vocês, não é?" Acho que agora vai ser difícil de eles esquecerem o nome e o rosto de Quentin Tarantino, o eterno garoto da vídeo locadora, que é sem dúvida nenhuma a maior escola para cineastas. 

Preparem os lenços (ou "Cinco filmes que fazem qualquer homem chorar")

Nem o maléfico George W. Bush resistiu quando viu os filmes da nossa lista; chorou como um bebê. 


Uma das melhores maneiras de fazer alguém se emocionar, principalmente as mulheres, é colocando um filminho água com açúcar, aqueles romances bem paupérrimos, como o clássico 'Love Story', de Arthur Hiller. Acho que os casos mais recentes de filmes que fazem  as menininhas do público irem as lágrimas, foram a tal 'Saga Crepúsculo' e há alguns anos atrás 'Titanic'. Mas e os homens? Quando eles choram indo ao cinema? 

Às vezes, nós, os homens, deixamos nosso lado "macho" à deriva. Nos esquecemos da cerveja, do futebol e tendemos a ser mais sentimental, principalmente quando o assunto é a amizade, companheirismo e superação. O homem em si precisa de momentos de ternura e mesmo o mais durão dos durões chora. E quando os machões assistem aos cinco filmes abaixo, eles dispensam a tarefa de cortar cebola, porque é choro na certa.

1 - Sindicato de Ladrões (On The Waterfront, 1954, EUA) -  O ex-pugilista Terry Malloy (Marlon Brando no melhor trabalho de sua carreira) atrai o jovem Joey Doyle  até um telhado. Lá, dois capangas do 'chefão' do Sindicato, Johnny Friendly (Lee J. Cobb), empurram o Doyle para a morte, pois ele iria delatar os integrantes do Sindicato. Terry, que achava que os rapazes de Friendly  apenas dariam uma 'coça'  em Joey, fica com  peso na consciência e no dia seguinte é procurado por dois membros da comissão que apura os crimes que ocorrem próximo ao cais, mas ele não diz nada.  Logo após esses acontecimentos, Terry conhece Edie Doyle (Eva Marie Saint), irmã do falecido, e se apaixona por ela. Após algumas conversas com o Padre Barry (o sempre maravilhoso Karl Malden), Terry fica em dúvida se deve delatar  Johnny Friendley e  principalmente seu irmão, Charley Malloy (o incrível Rod Steiger), que é o advogado do Sindicato.   

Sucesso de crítica e público, foi inspirado em um artigo vencedor do Pulitzer. Arthur Miller e Elia Kazan começaram a escrever o roteiro de 'Sindicato de Ladrões', mas  após Kazan ter delatado companheiros do partido comunista ao Comitê de Investigações de Atividades Anti-Americanas, Miller deixou o projeto e a amizade entre os dois nunca mais foi a mesma. Budd Schulberg reescreveu toda a história. Podemos dizer que o diretor  busca por sua redenção e o personagem de Marlon Brando,  Terry Malloy, pode ser visto como um alter-ego do diretor, ou seja, alguém que procura o perdão, principalmente após se apaixonar por Edie. 

Em resposta a 'Sindicato de Ladrões', Miller escreveu  'Panorama Visto da Ponte', peça maldita, que também narra a história de um estivador do cais de Nova York acusado de delação. Seria Eddie uma personificação de Kazan? Talvez.  Em 1964, Kazan e Miller fazem as pazes e montam na Broadway 'Depois da Queda'. 

Por que faz os homens chorarem? - Porque todo homem já sofreu das mesmas dúvidas que Terry Malloy  sofre, ou em algum momento da vida já se questionou, como na  cena do automóvel, em que Brando diz a famosa frase:  - Eu poderia ter sido alguém!


2 - Era Uma Vez Na América (Once Upon A Time In America, 1984, Itália/ EUA) - O testamento de Sergio Leone, talvez o maior cineasta de todos os tempos.  A história de amizade entre quatro garotos judeus, pequenos trombadinhas, que crescem  e se transformam em mafiosos  respeitados. Traições e reviravoltas marcam a história dos amigos e já mais velho, David 'Noodles" Aaronson (Robert De Niro em uma de suas interpretações mais contidas, sem o seu exagero habitual) retorna ao bairro do Brooklyn e relembra a história de ascensão e queda de seu bando. 

Era Uma Vez Na América estreou em Cannes em 1984, na sua versão original de 229 minutos, mas Ladd Company, estúdio responsável pela produção, lançou nos cinemas americanos uma versão de apenas 144 minutos, o que fez  o filme ser um fracasso de público e crítica. Em 2012 foi lançado da maneira que Leone desejava, com mais de 269 minutos. Há uma história sobre um crítico que escreveu que ao ver a versão editada considerou o filme era o pior de 1984.  Anos depois, ele viu ao original e considerou a melhor produção cinematográfica dos anos 80. E realmente 'Era Uma Vez Na América' é o que houve de melhor no cinema naquela década e também um dos melhores filmes de gangsters já produzido, rivalizando diretamente com 'O Poderoso Chefão', filme que Sergio Leone não aceitou dirigir e se arrependeu depois. Mas após assistir 'Era Uma Vez na América', acho que você o perdoará por essa decisão.

Por que faz os homens chorarem? - Porque todas as amizades tem altos e baixos e anos depois um bom papo pode resolver tudo, como acontece com 'Noodles' e 'Max' Bercovicz (James Woods em seu primeiro papel de destaque). Além disso, ninguém na história do cinema nos deu imagens tão poéticas como Sergio Leone, que novamente se aliou a Ennio Morricone e criou um dos maiores épicos de todos os tempos.

3 - Um Sonho de Liberdade ( The Shawshank Redemption, 1994, EUA) -  Dramático, delicado e cômico em alguns momentos. Depois de 'O Poderoso Chefão', é o filme preferido do público americano. Baseado em um conto curto de Stephen King, tem a direção e o roteiro de Frank Darabont, ná época estreando nas telonas.

Andy Dufresne (Tim Robbins) é condenado a prisão perpétua pelo assassinato do sua esposa e amante e é levado a Prisão de Shawshank, apesar de sua inocência. Lá ele faz amizade com Ellis "Red" Redding (Morgan Freeman), também condenado a prisão perpétua e  um dos responsáveis pela 'muamba' que chega  ao local. Com o passar dos anos Andy vai melhorando as condições de vida dos presidiários e paralelamente vai ajudando o Diretor da Penitenciária em seus negócios excusos. Não demora muito para Andy ter sua redenção em Shawshank.

Por quê faz os homens chorarem? - Além de retratar a grande amizade de Andy e Red e o drama de outros presos, 'Um Sonho de Liberdade' é uma história de redenção e superação, marcada pela persistência de Andy em provar um dia sua inocência e realizar seu sonho de viver em paz, Ao mesmo tempo que busca a paz para si mesmo, ele a oferece para os outros presos. Não vou entregar a história, mas garanto que ao assistir 'Um Sonho de Liberdade' você vai se emocionar. 



4 - O Pagamento Final (Carlito's Way, 1993, EUA) -  Carlito Brigante (Al Pacino sempre muito bom) é solto da prisão com a ajuda de seu advogado David Kleinfeld (Sean Penn parecendo o Larry de 'Os Três Patetas") e pretende andar na linha desta vez, comprando uma boate e juntando dinheiro para ir com sua namorada para as Bahamas. Mas o crime  não sai de sua sombra. 

O filme marca  o reencontro de Al Pacino com o diretor Brian De Palma, 10 anos depois de 'Scarface'.

Por que faz os homens chorarem? - 'O Pagamento Final' é um filme eletrizante e com muita ação, mas em seu decorrer, faz o espectador sentir as mesmas angústias que Carlito Brigante, principalmente em sua cena final. 


5 - A Última Missão (The Last Detail, EUA, 1973) -  Os oficiais da marinha Buddusky (Jack Nicholson treinando para 'Um Estranho no Ninho') e Mulhall (Otis Young) são encarregados a levar o marinheiro Meadows (Randy Quaid em início de carreira) para a prisão. Mas antes decidem mostrar alguns prazeres da vida para  o jovem. 

'A Última Missão' possui um ótimo roteiro de Robert Towne, baseado na novela de Darryl Ponicsan. Hal Ashby sempre foi um bom diretor para melodramas com toque de humor e aqu ise sai bem novamente.  O filme foi indicado para três Oscars, inclusive Melhor Ator para Jack Nicholson e Melhor Ator Coadjuvante para Randy Quaid. 


Por que faz os homens chorarem? - 'A Última Missão' retrata descobertas que todo homem passa, como o sexo, a bebedeira e até mesmo uma boa briga a troco de nada. Mas principalmente o elo formado pelos três personagens principais é algo muito comum nas nossas vidas e às vezes de pequenos conflitos, surgem grandes amizades.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Quando os cowboys comiam espaguete

Os dois Djangos: Jamie Foxx e Franco Nero, os protagonistas de ambas versões de Django

Estreou na última sexta-feira  ‘Django Livre’. Dirigido por Quentin Tarantino, o longa é uma homenagem que o cineasta faz para o spaghetti western, ou como chamávamos por aqui, o “bang bang à italiana” e além disso, um tributo a Sergio Corbucci e Franco Nero (que faz uma ponta em ‘Django Livre’), o diretor e o astro de ‘Django’, de 1966, que introduziu um herói trágico ao ciclo de faroestes italianos. O pistoleiro Django, que arrasta um caixão por onde vai,  busca vingança, diferente do “homem sem nome” interpretado por Clint Eastwood na “Trilogia dos Dólares” (Por Um Punhado  de Dólares – 1964, Por Uns Dólares a Mais – 1965 e Três Homens em Conflito – 1966), todos dirigidos por Sergio Leone, que é para mim, o maior cineasta de todos os tempos, pois inovou nas técnicas de filmagem (os closes nos olhos são magníficos e uma das melhores coisas já feitas no cinema), trazendo para o público algo inédito (nem tanto, pois 'Por Um Punhado de Dólares' é uma refilmagem disfarçada de 'Yojimbo', de Akira Kurosawa),  e impactante e que principalmente contrastava a maneira cansada que o gênero vinha sendo tratado nos Estados Unidos. Além disso introduzia a fantástica trilha sonora do genial Ennio Morricone, o maestro dos maestros.

O curioso é que podemos considerar como marco inicial do spaghetti western  o filme americano ‘Sete Homens e Um Destino', de 1960 e com direção de John Sturges, que também é inspirado em uma película de Akira Kurosawa, no caso 'Os Sete Samurais'.  Outra curiosidade é que esse momento histórico do cinema revelou e redescobriu grandes astros, americanos ou italianos, como os já citados Clint Eastwood e Franco Nero, o ex-nadador olímpico Bud Spencer, Mario Girotti, mais conhecido pelo público como Terence Hill e ainda mais famoso pelo nome Trinity (e que estrelou  algumas continuações não oficiais de Django), Giuliano Gemma (herói de 'O Dólar Furado', filme que fez o spaghetti western se tornar popular no Brasil), Gian Maria Volonté, que depois se tornou símbolo do cinema político europeu e também um ítalo-brasileiro, que estrelou tanto como Django ou como Sartana (ambos continuações não oficiais), Anthony Steffen, ou Antônio De Tefé (falecido no Rio de Janeiro em 2004), homem de sangue nobre, bisneto do barão de Tefé. Todos são heróis que povoam o imaginário do público até hoje.

Anthony Steffen - o cowboy ítalo-brasileiro


Mas vamos voltar  a ‘Django Livre’, filme que já está causando polêmica (Spike Lee criticou o tratamento que Tarantino dá à escravidão americana; acredito que seja pura dor de cotovelo e um artificio que Lee está usando para aparecer) e é uma chance de (re)descobrir um gênero que atraia multidões às salas de cinema do mundo todo. Após essa minha longa introdução, faço uma lista de cinco faroestes que duvido que você assistiu, mas que se não viu, vale a pena conhecer, mesmo não sendo grandes filmes e sim, curiosidades, sendo a maioria grandes sátiras. Eis os cinco escolhidos:

1 -  Charro! (Idem, EUA, 1969) -  Jess Wade, um pistoleiro americano,  tem de lutar contra sua antiga gangue que roubou um canhão banhado a ouro usado pelo Imperador Maximiliano (que quase foi genro de Dom Pedro I) em sua luta contra Benito Juaréz, lider popular e presidente deposto durante a fundação do Império Mexicano.  Além disso, Jess tem que proteger uma cidade mexicana que está sendo ameaçada pela gangue, que dispara o canhão para assustar os membros do povoado.

Genuinamente americano, era para ser talvez uma resposta ao spaghetti western, produzida pelo canal de televisão NBC e estrelada pelo ‘Rei’ do Rock, Elvis Presley. Mas tudo foi por água abaixo. Dirigido por um cineasta experiente (e medíocre) em faroeste, Charles Marquis Warren, que tem a mão pesada e quase foi baleado (acidentalmente) por Elvis.

'Charro!’ é lento, apesar da tentativa de Elvis fazer um personagem sério, com uma barba a lá Eastwood, possui diálogos banais (com certeza foi uma mãozinha no roteiro do Cel. Tom Parker) e só é uma curiosidade. Um detalhe, é o único filme em que  Elvis Presley não aparece cantando.

2 -  Shalako ( Idem, Grã-Betanha/Alemanha,  1968) -  Um faroeste inglês e  ainda estrelado por  James Bond e  o grande símbolo sexual da época, Brigitte Bardot . Uma bela ideia que não deu muito certo.

Sean Connery é Shalako, um cowboy que resgata a Condessa Irina de um ataque indígena e ajuda aristocratas europeus a se manterem vivo no territórrio apache.
Apesar de ter causado alvoroço na mídia e possuir um bom elenco e um renomado diretor ( Edward Dmytryk), o filme não emplaca e nem é convincente. Vamos falar a verdade, é difícil acreditar em um cowboy escocês.

'Shalako' é repleto de curiosidades, a primeira delas é que para estrelá-lo, Sean Connery rescindiu seu contrato para interpretar 007, pois queria explorar novos horizontes em sua carreira. A segunda é que Brigitte Bardot preferiu realizar este filme, do que ser a bondgirl em '007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade', o único da série estrelado por George Lazenby. Após o fiasco de 'Shalako' e de Lazenby, Sean Connery recebeu o salário mais alto da época e retornou a franquia mais famosa do cinema para seu ato final como James Bond. 


3 - Os Reis do Faroeste  (The Outlaws Is Coming, EUA, 1965) -  Após o sucesso dos curta-metragens dos Três Patetas na televisão, a Columbia Pictures produziu  seis  filmes com "o trio mais biruta da tela" e exatamente 'Os Reis do Faroeste' é o último deste período. Moe Howard, Larry Fine e Curly Joe, o último terceiro pateta, que fez um bom trabalho substituindo os ótimos Shemp e Curly Howard e o sem graça Joe Besser, são o ajudantes de Kenneth Cabot (interpretado por Adam West, o Batman do seriado cult dos anos 60), editor de uma revista que decide investigar uma gangue que matou todos os bufalos para irritar os índios e  destruiu com a Cavalária Americana. Chegando ao oeste, Kenneth é nomeado xerífe acidentalmente e  os Três Patetas se envolvem nas maiores confusões com os bandidos. 

Cheio de sátiras a outros filmes e raro de ser exibido (me lembro de ter passado em 1996 na TV Gazeta e sei de alguns colecionadores que possuem as  cópias em 16 mm)  aqui no Brasil,  'Os Reis do Faroeste' é a despedida das telas de cinema de um dos grupos humorísticos mais querido em todos os tempos.  Alguns anos depois, Larry Fine sofreria um derrame e Moe Howard seria vítima de um câncer de pulmão. Era o fim de seis décadas do mais fino humor pastelão, que sem dúvida alguma deixou muitas saudades, inclusive neste que vos escreve.

4 - Uma Pistola Para Djeca (Brasil, 1969) - Muito antes de Tarantino, o grande Ary Fernandes, o criador de "O Vigilante Rodoviário", dirigiu esse roteiro de Amácio Mazzaropi, onde ele interpreta Gumercindo, um homem que tem a filha seduzida pelo filho de seu patrão, o dono de uma grande fazenda, que não se casa com a moça e acaba abandonando o filho.  Quando a criança cresce, se torna alvo de piadas por não ter pai  e Gumercindo é despedido da fazenda, o que o obriga a se unir a fazendeiros vizinhos para a vingança.

Comédia que possui pitadas de trágedia, se tornando mais um dos grandes sucessos de Mazzaropi, trazendo em seu título uma refêrencia explicita a 'Django', mostrando o impacto que o spaghetti western teve no mundo todo, inclusive no Brasil.

5 -  Cactus Jack - O Vilão (The Villain, EUA, 1979) -  No velho oeste, um bandido atrapalhado que se veste todo de preto conhecido como Cactus Jack, o vilão, é contratado para roubar Charming Jones, uma moça que está indo buscar uma grande quantia de dinheiro. Mas além de ser um bandido trapalhão, Cactus  Jack não contava com a presença do  xerife "Bonitão" Strange, o responsável por proteger Charming durante esta viagem arriscada.


Uma sátira aos antigos "bang bangs", dirigida por Hal Needham, de 'Agarre-me Se Puderes' e estrelada por Kirk Douglas (Cactus Jack), Ann - Margret (Charming Jones) e Arnold Schwarzenegger ("Bonitão" Strange), em começo de carreira. A intensão do diretor e dos roteiristas é homenagear o desenhos antigos da Warner Brothers, principalmente o "Papa - Léguas", com Cactus Jack representando a figura do Coiote.