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Os dois Djangos: Jamie Foxx e Franco Nero, os protagonistas de ambas versões de Django |
Estreou na última sexta-feira ‘Django Livre’. Dirigido por Quentin Tarantino, o longa é uma homenagem que o cineasta faz para o spaghetti western, ou como chamávamos por aqui, o “bang bang à italiana” e além disso, um tributo a Sergio Corbucci e Franco Nero (que faz uma ponta em ‘Django Livre’), o diretor e o astro de ‘Django’, de 1966, que introduziu um herói trágico ao ciclo de faroestes italianos. O pistoleiro Django, que arrasta um caixão por onde vai, busca vingança, diferente do “homem sem nome” interpretado por Clint Eastwood na “Trilogia dos Dólares” (Por Um Punhado de Dólares – 1964, Por Uns Dólares a Mais – 1965 e Três Homens em Conflito – 1966), todos dirigidos por Sergio Leone, que é para mim, o maior cineasta de todos os tempos, pois inovou nas técnicas de filmagem (os closes nos olhos são magníficos e uma das melhores coisas já feitas no cinema), trazendo para o público algo inédito (nem tanto, pois 'Por Um Punhado de Dólares' é uma refilmagem disfarçada de 'Yojimbo', de Akira Kurosawa), e impactante e que principalmente contrastava a maneira cansada que o gênero vinha sendo tratado nos Estados Unidos. Além disso introduzia a fantástica trilha sonora do genial Ennio Morricone, o maestro dos maestros.
O curioso é que podemos considerar como marco inicial do spaghetti western o filme americano ‘Sete Homens e Um Destino', de 1960 e com direção de John Sturges, que também é inspirado em uma película de Akira Kurosawa, no caso 'Os Sete Samurais'. Outra curiosidade é que esse momento histórico do cinema revelou e redescobriu grandes astros, americanos ou italianos, como os já citados Clint Eastwood e Franco Nero, o ex-nadador olímpico Bud Spencer, Mario Girotti, mais conhecido pelo público como Terence Hill e ainda mais famoso pelo nome Trinity (e que estrelou algumas continuações não oficiais de Django), Giuliano Gemma (herói de 'O Dólar Furado', filme que fez o spaghetti western se tornar popular no Brasil), Gian Maria Volonté, que depois se tornou símbolo do cinema político europeu e também um ítalo-brasileiro, que estrelou tanto como Django ou como Sartana (ambos continuações não oficiais), Anthony Steffen, ou Antônio De Tefé (falecido no Rio de Janeiro em 2004), homem de sangue nobre, bisneto do barão de Tefé. Todos são heróis que povoam o imaginário do público até hoje.
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Anthony Steffen - o cowboy ítalo-brasileiro
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Mas vamos voltar a ‘Django Livre’, filme que já está causando polêmica (Spike Lee criticou o tratamento que Tarantino dá à escravidão americana; acredito que seja pura dor de cotovelo e um artificio que Lee está usando para aparecer) e é uma chance de (re)descobrir um gênero que atraia multidões às salas de cinema do mundo todo. Após essa minha longa introdução, faço uma lista de cinco faroestes que duvido que você assistiu, mas que se não viu, vale a pena conhecer, mesmo não sendo grandes filmes e sim, curiosidades, sendo a maioria grandes sátiras. Eis os cinco escolhidos:

1 - Charro! (Idem, EUA, 1969) - Jess Wade, um pistoleiro americano, tem de lutar contra sua antiga gangue que roubou um canhão banhado a ouro usado pelo Imperador Maximiliano (que quase foi genro de Dom Pedro I) em sua luta contra Benito Juaréz, lider popular e presidente deposto durante a fundação do Império Mexicano. Além disso, Jess tem que proteger uma cidade mexicana que está sendo ameaçada pela gangue, que dispara o canhão para assustar os membros do povoado.
Genuinamente americano, era para ser talvez uma resposta ao spaghetti western, produzida pelo canal de televisão NBC e estrelada pelo ‘Rei’ do Rock, Elvis Presley. Mas tudo foi por água abaixo. Dirigido por um cineasta experiente (e medíocre) em faroeste, Charles Marquis Warren, que tem a mão pesada e quase foi baleado (acidentalmente) por Elvis.
'Charro!’ é lento, apesar da tentativa de Elvis fazer um personagem sério, com uma barba a lá Eastwood, possui diálogos banais (com certeza foi uma mãozinha no roteiro do Cel. Tom Parker) e só é uma curiosidade. Um detalhe, é o único filme em que Elvis Presley não aparece cantando.
2 - Shalako ( Idem, Grã-Betanha/Alemanha, 1968) - Um faroeste inglês e ainda estrelado por James Bond e o grande símbolo sexual da época, Brigitte Bardot . Uma bela ideia que não deu muito certo.
Sean Connery é Shalako, um cowboy que resgata a Condessa Irina de um ataque indígena e ajuda aristocratas europeus a se manterem vivo no territórrio apache.
Apesar de ter causado alvoroço na mídia e possuir um bom elenco e um renomado diretor ( Edward Dmytryk), o filme não emplaca e nem é convincente. Vamos falar a verdade, é difícil acreditar em um cowboy escocês.
'Shalako' é repleto de curiosidades, a primeira delas é que para estrelá-lo, Sean Connery rescindiu seu contrato para interpretar 007, pois queria explorar novos horizontes em sua carreira. A segunda é que Brigitte Bardot preferiu realizar este filme, do que ser a bondgirl em '007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade', o único da série estrelado por George Lazenby. Após o fiasco de 'Shalako' e de Lazenby, Sean Connery recebeu o salário mais alto da época e retornou a franquia mais famosa do cinema para seu ato final como James Bond.

3 - Os Reis do Faroeste (The Outlaws Is Coming, EUA, 1965) - Após o sucesso dos curta-metragens dos Três Patetas na televisão, a Columbia Pictures produziu seis filmes com "o trio mais biruta da tela" e exatamente 'Os Reis do Faroeste' é o último deste período. Moe Howard, Larry Fine e Curly Joe, o último terceiro pateta, que fez um bom trabalho substituindo os ótimos Shemp e Curly Howard e o sem graça Joe Besser, são o ajudantes de Kenneth Cabot (interpretado por Adam West, o Batman do seriado cult dos anos 60), editor de uma revista que decide investigar uma gangue que matou todos os bufalos para irritar os índios e destruiu com a Cavalária Americana. Chegando ao oeste, Kenneth é nomeado xerífe acidentalmente e os Três Patetas se envolvem nas maiores confusões com os bandidos.
Cheio de sátiras a outros filmes e raro de ser exibido (me lembro de ter passado em 1996 na TV Gazeta e sei de alguns colecionadores que possuem as cópias em 16 mm) aqui no Brasil, 'Os Reis do Faroeste' é a despedida das telas de cinema de um dos grupos humorísticos mais querido em todos os tempos. Alguns anos depois, Larry Fine sofreria um derrame e Moe Howard seria vítima de um câncer de pulmão. Era o fim de seis décadas do mais fino humor pastelão, que sem dúvida alguma deixou muitas saudades, inclusive neste que vos escreve.

4 - Uma Pistola Para Djeca (Brasil, 1969) - Muito antes de Tarantino, o grande Ary Fernandes, o criador de "O Vigilante Rodoviário", dirigiu esse roteiro de Amácio Mazzaropi, onde ele interpreta Gumercindo, um homem que tem a filha seduzida pelo filho de seu patrão, o dono de uma grande fazenda, que não se casa com a moça e acaba abandonando o filho. Quando a criança cresce, se torna alvo de piadas por não ter pai e Gumercindo é despedido da fazenda, o que o obriga a se unir a fazendeiros vizinhos para a vingança.
Comédia que possui pitadas de trágedia, se tornando mais um dos grandes sucessos de Mazzaropi, trazendo em seu título uma refêrencia explicita a 'Django', mostrando o impacto que o spaghetti western teve no mundo todo, inclusive no Brasil.
5 - Cactus Jack - O Vilão (The Villain, EUA, 1979) - No velho oeste, um bandido atrapalhado que se veste todo de preto conhecido como Cactus Jack, o vilão, é contratado para roubar Charming Jones, uma moça que está indo buscar uma grande quantia de dinheiro. Mas além de ser um bandido trapalhão, Cactus Jack não contava com a presença do xerife "Bonitão" Strange, o responsável por proteger Charming durante esta viagem arriscada.
Uma sátira aos antigos "bang bangs", dirigida por Hal Needham, de 'Agarre-me Se Puderes' e estrelada por Kirk Douglas (Cactus Jack), Ann - Margret (Charming Jones) e Arnold Schwarzenegger ("Bonitão" Strange), em começo de carreira. A intensão do diretor e dos roteiristas é homenagear o desenhos antigos da Warner Brothers, principalmente o "Papa - Léguas", com Cactus Jack representando a figura do Coiote.