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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Djaaaaaaaaaangooooooooooooooooooooooo



Os mocinhos: O Dr. King Schultz e Django preparando uma emboscada nas montanhas

Sim, a música do argentino Luis Bacalov continua a ecoar em meu ouvido. Foi o tema de abertura de 'Django', o  original de Sergio Carbucci, de 1966 e é também deste  já clássico contemporâneo filme chamado  "Django Livre'. Lembro-me que em uma conversa informal com o  Professor Doutor Roberto Elisio dos Santos, chegamos à conclusão de que depois de 'Os Imperdoáveis', de Clint Eastwood, nunca mais veríamos um  grande western nas telonas. Estávamos enganados, pois Quentin Tarantino teve culhão para trazer novamente o 'bang bang' de volta das cinzas, como um italiano louco chamado Sergio Leone fez nos anos 60.  

O roteiro é rápido, sagaz e inteligente e todas as referências de Tarantino estão neste filme, em que, pelo menos em minha opinião, ele ameniza a violência de seus filmes anteriores. Lembramos de "Laranja Mecânica", de Kubrick,  ou  '... E o Vento Levou', de Victor Fleming, a 'Shaft', de Gordon Parks, toda a cultura cinematográfica de Quentin está lá, ou seja, grande parte do que o cinema já produziu, de melhor ou pior. O mais incrível de tudo, é que ela está fresca e revigorada, como se esses outros filmes nunca existissem. Bom, vamos ao filme. 


Os caras maus: Stephen (para os  íntimos  Uncle Ben's) e Mounsier Candie 



Django (Jamie Foxx muito bom) é um escravo que é comprado pelo Dr. King Schultz (Christopher Waltz surpreendendo novamente - eu desconfio que o nome de seu personagem seja inspirado no alemão que salva Carlitos em 'O Grande Ditador'), um dentista que se transformou em um caçador de recompensas. Juntos, eles formam uma dupla que caça diversos bandidos no inverno do velho oeste. Mas Django pretende resgatar sua mulher, que está na fazenda de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio mostrando que é um grande ator e sua atuação, é sem dúvida, um dos pontos altos do filme), um maléfico 'sinhô', dono da maior plantação de algodão do Mississípi. Tem como criado fiel Stephen (Samuel L. Jackson, a cara do 'Uncle Ben's', mas estrondosamente maravilhoso, em um dos melhores papéis de sua carreira), um velho negro responsável pela criadagem da casa. Já resumi bastante o que é o filme, agora vamos voltar para algumas referências técnicas.


E além deste fantástico elenco, Tarantino traz de volta às telonas grandes atores que estavam sumidos (e esquecidos), como Bruce Dern, em um extensivo close-up merecido, Don Stroud, o velho surfista que não fazia um grande filme desde '007- Permisão Para Matar', Tom Wopat, o eterno Luke Duke de 'Os Gatões', Robert Carradine, que junto dos irmãos David e Keith , estrelou  'Cavalgada dos Proscritos', um dos últimos suspiros do gênero, dirigido pelo grande Walter Hill e Michael Parks, seu parceiro desde 'Um Drink No Inferno'. Mas sem dúvida nenhuma, as participações mais marcantes são a de Don Johnson, o eterno Sonny Crockett de 'Miami Vice', que se tornou melhor ator ainda com o tempo, interpretando o sulista "Big Daddy" e claro, Franco Nero, o verdadeiro 'Django', com seus grandes olhos azuis e sua presença marcante, trava um diálogo rápido com o novo 'Django'.  Além disso, a cenografia e os figurinos são esplêndidos. A fotografia fica a cargo d o três vezes ganhador do Oscar, Robert Richardson, parceiro constante de Tarantino, Scorsese e Oliver Stone, que faz um trabalho com a lá Lucien Ballard, fotografo de diversos westerns clássicos. Os closes nos pés e o ponto de vista do morto, marcas de Quentin Tarantino estão presentes também em 'Django Livre'. 
O presente e o passado: Jamie Foxx e Franco Nero (na foto ao alto em 'Django', de 1966), os Djangos de hoje e ontem. 


Eu ainda acho que 'Cães de Aluguel' (que já completou 20 anos!) e 'Pulp Fiction' (que no próximo ano completa 20 anos!) são as melhores coisas que Tarantino filmou e 'Django Livre' com certeza entrará no hall, sendo o meu terceiro filme favorito do diretor. Também não é o melhor western já feito, Nem é 'Era Uma Vez no Oeste', de Leone, nem 'O Homem Que Matou o Facínora', de John Ford, mas é um ótimo bang bang, como há muito tempo não se fazia. Ah, 'Django Livre' também tem a tradicional ponta de Quentin Tarantino e bem nessa hora, durante a projeção,  três garotos sentados algumas cadeiras a frente da minha conversavam entre si e perguntavam um ao outro se aquele era Tarantino, o diretor do filme. E agora, por meio deste texto, eu  respondo: "Sim rapazes, este é o Tarantino, que por enquanto é o último cineasta inovador de Hollywood. Acho que ele realizou uma apresentação inesquecível para vocês, não é?" Acho que agora vai ser difícil de eles esquecerem o nome e o rosto de Quentin Tarantino, o eterno garoto da vídeo locadora, que é sem dúvida nenhuma a maior escola para cineastas. 

Preparem os lenços (ou "Cinco filmes que fazem qualquer homem chorar")

Nem o maléfico George W. Bush resistiu quando viu os filmes da nossa lista; chorou como um bebê. 


Uma das melhores maneiras de fazer alguém se emocionar, principalmente as mulheres, é colocando um filminho água com açúcar, aqueles romances bem paupérrimos, como o clássico 'Love Story', de Arthur Hiller. Acho que os casos mais recentes de filmes que fazem  as menininhas do público irem as lágrimas, foram a tal 'Saga Crepúsculo' e há alguns anos atrás 'Titanic'. Mas e os homens? Quando eles choram indo ao cinema? 

Às vezes, nós, os homens, deixamos nosso lado "macho" à deriva. Nos esquecemos da cerveja, do futebol e tendemos a ser mais sentimental, principalmente quando o assunto é a amizade, companheirismo e superação. O homem em si precisa de momentos de ternura e mesmo o mais durão dos durões chora. E quando os machões assistem aos cinco filmes abaixo, eles dispensam a tarefa de cortar cebola, porque é choro na certa.

1 - Sindicato de Ladrões (On The Waterfront, 1954, EUA) -  O ex-pugilista Terry Malloy (Marlon Brando no melhor trabalho de sua carreira) atrai o jovem Joey Doyle  até um telhado. Lá, dois capangas do 'chefão' do Sindicato, Johnny Friendly (Lee J. Cobb), empurram o Doyle para a morte, pois ele iria delatar os integrantes do Sindicato. Terry, que achava que os rapazes de Friendly  apenas dariam uma 'coça'  em Joey, fica com  peso na consciência e no dia seguinte é procurado por dois membros da comissão que apura os crimes que ocorrem próximo ao cais, mas ele não diz nada.  Logo após esses acontecimentos, Terry conhece Edie Doyle (Eva Marie Saint), irmã do falecido, e se apaixona por ela. Após algumas conversas com o Padre Barry (o sempre maravilhoso Karl Malden), Terry fica em dúvida se deve delatar  Johnny Friendley e  principalmente seu irmão, Charley Malloy (o incrível Rod Steiger), que é o advogado do Sindicato.   

Sucesso de crítica e público, foi inspirado em um artigo vencedor do Pulitzer. Arthur Miller e Elia Kazan começaram a escrever o roteiro de 'Sindicato de Ladrões', mas  após Kazan ter delatado companheiros do partido comunista ao Comitê de Investigações de Atividades Anti-Americanas, Miller deixou o projeto e a amizade entre os dois nunca mais foi a mesma. Budd Schulberg reescreveu toda a história. Podemos dizer que o diretor  busca por sua redenção e o personagem de Marlon Brando,  Terry Malloy, pode ser visto como um alter-ego do diretor, ou seja, alguém que procura o perdão, principalmente após se apaixonar por Edie. 

Em resposta a 'Sindicato de Ladrões', Miller escreveu  'Panorama Visto da Ponte', peça maldita, que também narra a história de um estivador do cais de Nova York acusado de delação. Seria Eddie uma personificação de Kazan? Talvez.  Em 1964, Kazan e Miller fazem as pazes e montam na Broadway 'Depois da Queda'. 

Por que faz os homens chorarem? - Porque todo homem já sofreu das mesmas dúvidas que Terry Malloy  sofre, ou em algum momento da vida já se questionou, como na  cena do automóvel, em que Brando diz a famosa frase:  - Eu poderia ter sido alguém!


2 - Era Uma Vez Na América (Once Upon A Time In America, 1984, Itália/ EUA) - O testamento de Sergio Leone, talvez o maior cineasta de todos os tempos.  A história de amizade entre quatro garotos judeus, pequenos trombadinhas, que crescem  e se transformam em mafiosos  respeitados. Traições e reviravoltas marcam a história dos amigos e já mais velho, David 'Noodles" Aaronson (Robert De Niro em uma de suas interpretações mais contidas, sem o seu exagero habitual) retorna ao bairro do Brooklyn e relembra a história de ascensão e queda de seu bando. 

Era Uma Vez Na América estreou em Cannes em 1984, na sua versão original de 229 minutos, mas Ladd Company, estúdio responsável pela produção, lançou nos cinemas americanos uma versão de apenas 144 minutos, o que fez  o filme ser um fracasso de público e crítica. Em 2012 foi lançado da maneira que Leone desejava, com mais de 269 minutos. Há uma história sobre um crítico que escreveu que ao ver a versão editada considerou o filme era o pior de 1984.  Anos depois, ele viu ao original e considerou a melhor produção cinematográfica dos anos 80. E realmente 'Era Uma Vez Na América' é o que houve de melhor no cinema naquela década e também um dos melhores filmes de gangsters já produzido, rivalizando diretamente com 'O Poderoso Chefão', filme que Sergio Leone não aceitou dirigir e se arrependeu depois. Mas após assistir 'Era Uma Vez na América', acho que você o perdoará por essa decisão.

Por que faz os homens chorarem? - Porque todas as amizades tem altos e baixos e anos depois um bom papo pode resolver tudo, como acontece com 'Noodles' e 'Max' Bercovicz (James Woods em seu primeiro papel de destaque). Além disso, ninguém na história do cinema nos deu imagens tão poéticas como Sergio Leone, que novamente se aliou a Ennio Morricone e criou um dos maiores épicos de todos os tempos.

3 - Um Sonho de Liberdade ( The Shawshank Redemption, 1994, EUA) -  Dramático, delicado e cômico em alguns momentos. Depois de 'O Poderoso Chefão', é o filme preferido do público americano. Baseado em um conto curto de Stephen King, tem a direção e o roteiro de Frank Darabont, ná época estreando nas telonas.

Andy Dufresne (Tim Robbins) é condenado a prisão perpétua pelo assassinato do sua esposa e amante e é levado a Prisão de Shawshank, apesar de sua inocência. Lá ele faz amizade com Ellis "Red" Redding (Morgan Freeman), também condenado a prisão perpétua e  um dos responsáveis pela 'muamba' que chega  ao local. Com o passar dos anos Andy vai melhorando as condições de vida dos presidiários e paralelamente vai ajudando o Diretor da Penitenciária em seus negócios excusos. Não demora muito para Andy ter sua redenção em Shawshank.

Por quê faz os homens chorarem? - Além de retratar a grande amizade de Andy e Red e o drama de outros presos, 'Um Sonho de Liberdade' é uma história de redenção e superação, marcada pela persistência de Andy em provar um dia sua inocência e realizar seu sonho de viver em paz, Ao mesmo tempo que busca a paz para si mesmo, ele a oferece para os outros presos. Não vou entregar a história, mas garanto que ao assistir 'Um Sonho de Liberdade' você vai se emocionar. 



4 - O Pagamento Final (Carlito's Way, 1993, EUA) -  Carlito Brigante (Al Pacino sempre muito bom) é solto da prisão com a ajuda de seu advogado David Kleinfeld (Sean Penn parecendo o Larry de 'Os Três Patetas") e pretende andar na linha desta vez, comprando uma boate e juntando dinheiro para ir com sua namorada para as Bahamas. Mas o crime  não sai de sua sombra. 

O filme marca  o reencontro de Al Pacino com o diretor Brian De Palma, 10 anos depois de 'Scarface'.

Por que faz os homens chorarem? - 'O Pagamento Final' é um filme eletrizante e com muita ação, mas em seu decorrer, faz o espectador sentir as mesmas angústias que Carlito Brigante, principalmente em sua cena final. 


5 - A Última Missão (The Last Detail, EUA, 1973) -  Os oficiais da marinha Buddusky (Jack Nicholson treinando para 'Um Estranho no Ninho') e Mulhall (Otis Young) são encarregados a levar o marinheiro Meadows (Randy Quaid em início de carreira) para a prisão. Mas antes decidem mostrar alguns prazeres da vida para  o jovem. 

'A Última Missão' possui um ótimo roteiro de Robert Towne, baseado na novela de Darryl Ponicsan. Hal Ashby sempre foi um bom diretor para melodramas com toque de humor e aqu ise sai bem novamente.  O filme foi indicado para três Oscars, inclusive Melhor Ator para Jack Nicholson e Melhor Ator Coadjuvante para Randy Quaid. 


Por que faz os homens chorarem? - 'A Última Missão' retrata descobertas que todo homem passa, como o sexo, a bebedeira e até mesmo uma boa briga a troco de nada. Mas principalmente o elo formado pelos três personagens principais é algo muito comum nas nossas vidas e às vezes de pequenos conflitos, surgem grandes amizades.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Quando os cowboys comiam espaguete

Os dois Djangos: Jamie Foxx e Franco Nero, os protagonistas de ambas versões de Django

Estreou na última sexta-feira  ‘Django Livre’. Dirigido por Quentin Tarantino, o longa é uma homenagem que o cineasta faz para o spaghetti western, ou como chamávamos por aqui, o “bang bang à italiana” e além disso, um tributo a Sergio Corbucci e Franco Nero (que faz uma ponta em ‘Django Livre’), o diretor e o astro de ‘Django’, de 1966, que introduziu um herói trágico ao ciclo de faroestes italianos. O pistoleiro Django, que arrasta um caixão por onde vai,  busca vingança, diferente do “homem sem nome” interpretado por Clint Eastwood na “Trilogia dos Dólares” (Por Um Punhado  de Dólares – 1964, Por Uns Dólares a Mais – 1965 e Três Homens em Conflito – 1966), todos dirigidos por Sergio Leone, que é para mim, o maior cineasta de todos os tempos, pois inovou nas técnicas de filmagem (os closes nos olhos são magníficos e uma das melhores coisas já feitas no cinema), trazendo para o público algo inédito (nem tanto, pois 'Por Um Punhado de Dólares' é uma refilmagem disfarçada de 'Yojimbo', de Akira Kurosawa),  e impactante e que principalmente contrastava a maneira cansada que o gênero vinha sendo tratado nos Estados Unidos. Além disso introduzia a fantástica trilha sonora do genial Ennio Morricone, o maestro dos maestros.

O curioso é que podemos considerar como marco inicial do spaghetti western  o filme americano ‘Sete Homens e Um Destino', de 1960 e com direção de John Sturges, que também é inspirado em uma película de Akira Kurosawa, no caso 'Os Sete Samurais'.  Outra curiosidade é que esse momento histórico do cinema revelou e redescobriu grandes astros, americanos ou italianos, como os já citados Clint Eastwood e Franco Nero, o ex-nadador olímpico Bud Spencer, Mario Girotti, mais conhecido pelo público como Terence Hill e ainda mais famoso pelo nome Trinity (e que estrelou  algumas continuações não oficiais de Django), Giuliano Gemma (herói de 'O Dólar Furado', filme que fez o spaghetti western se tornar popular no Brasil), Gian Maria Volonté, que depois se tornou símbolo do cinema político europeu e também um ítalo-brasileiro, que estrelou tanto como Django ou como Sartana (ambos continuações não oficiais), Anthony Steffen, ou Antônio De Tefé (falecido no Rio de Janeiro em 2004), homem de sangue nobre, bisneto do barão de Tefé. Todos são heróis que povoam o imaginário do público até hoje.

Anthony Steffen - o cowboy ítalo-brasileiro


Mas vamos voltar  a ‘Django Livre’, filme que já está causando polêmica (Spike Lee criticou o tratamento que Tarantino dá à escravidão americana; acredito que seja pura dor de cotovelo e um artificio que Lee está usando para aparecer) e é uma chance de (re)descobrir um gênero que atraia multidões às salas de cinema do mundo todo. Após essa minha longa introdução, faço uma lista de cinco faroestes que duvido que você assistiu, mas que se não viu, vale a pena conhecer, mesmo não sendo grandes filmes e sim, curiosidades, sendo a maioria grandes sátiras. Eis os cinco escolhidos:

1 -  Charro! (Idem, EUA, 1969) -  Jess Wade, um pistoleiro americano,  tem de lutar contra sua antiga gangue que roubou um canhão banhado a ouro usado pelo Imperador Maximiliano (que quase foi genro de Dom Pedro I) em sua luta contra Benito Juaréz, lider popular e presidente deposto durante a fundação do Império Mexicano.  Além disso, Jess tem que proteger uma cidade mexicana que está sendo ameaçada pela gangue, que dispara o canhão para assustar os membros do povoado.

Genuinamente americano, era para ser talvez uma resposta ao spaghetti western, produzida pelo canal de televisão NBC e estrelada pelo ‘Rei’ do Rock, Elvis Presley. Mas tudo foi por água abaixo. Dirigido por um cineasta experiente (e medíocre) em faroeste, Charles Marquis Warren, que tem a mão pesada e quase foi baleado (acidentalmente) por Elvis.

'Charro!’ é lento, apesar da tentativa de Elvis fazer um personagem sério, com uma barba a lá Eastwood, possui diálogos banais (com certeza foi uma mãozinha no roteiro do Cel. Tom Parker) e só é uma curiosidade. Um detalhe, é o único filme em que  Elvis Presley não aparece cantando.

2 -  Shalako ( Idem, Grã-Betanha/Alemanha,  1968) -  Um faroeste inglês e  ainda estrelado por  James Bond e  o grande símbolo sexual da época, Brigitte Bardot . Uma bela ideia que não deu muito certo.

Sean Connery é Shalako, um cowboy que resgata a Condessa Irina de um ataque indígena e ajuda aristocratas europeus a se manterem vivo no territórrio apache.
Apesar de ter causado alvoroço na mídia e possuir um bom elenco e um renomado diretor ( Edward Dmytryk), o filme não emplaca e nem é convincente. Vamos falar a verdade, é difícil acreditar em um cowboy escocês.

'Shalako' é repleto de curiosidades, a primeira delas é que para estrelá-lo, Sean Connery rescindiu seu contrato para interpretar 007, pois queria explorar novos horizontes em sua carreira. A segunda é que Brigitte Bardot preferiu realizar este filme, do que ser a bondgirl em '007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade', o único da série estrelado por George Lazenby. Após o fiasco de 'Shalako' e de Lazenby, Sean Connery recebeu o salário mais alto da época e retornou a franquia mais famosa do cinema para seu ato final como James Bond. 


3 - Os Reis do Faroeste  (The Outlaws Is Coming, EUA, 1965) -  Após o sucesso dos curta-metragens dos Três Patetas na televisão, a Columbia Pictures produziu  seis  filmes com "o trio mais biruta da tela" e exatamente 'Os Reis do Faroeste' é o último deste período. Moe Howard, Larry Fine e Curly Joe, o último terceiro pateta, que fez um bom trabalho substituindo os ótimos Shemp e Curly Howard e o sem graça Joe Besser, são o ajudantes de Kenneth Cabot (interpretado por Adam West, o Batman do seriado cult dos anos 60), editor de uma revista que decide investigar uma gangue que matou todos os bufalos para irritar os índios e  destruiu com a Cavalária Americana. Chegando ao oeste, Kenneth é nomeado xerífe acidentalmente e  os Três Patetas se envolvem nas maiores confusões com os bandidos. 

Cheio de sátiras a outros filmes e raro de ser exibido (me lembro de ter passado em 1996 na TV Gazeta e sei de alguns colecionadores que possuem as  cópias em 16 mm)  aqui no Brasil,  'Os Reis do Faroeste' é a despedida das telas de cinema de um dos grupos humorísticos mais querido em todos os tempos.  Alguns anos depois, Larry Fine sofreria um derrame e Moe Howard seria vítima de um câncer de pulmão. Era o fim de seis décadas do mais fino humor pastelão, que sem dúvida alguma deixou muitas saudades, inclusive neste que vos escreve.

4 - Uma Pistola Para Djeca (Brasil, 1969) - Muito antes de Tarantino, o grande Ary Fernandes, o criador de "O Vigilante Rodoviário", dirigiu esse roteiro de Amácio Mazzaropi, onde ele interpreta Gumercindo, um homem que tem a filha seduzida pelo filho de seu patrão, o dono de uma grande fazenda, que não se casa com a moça e acaba abandonando o filho.  Quando a criança cresce, se torna alvo de piadas por não ter pai  e Gumercindo é despedido da fazenda, o que o obriga a se unir a fazendeiros vizinhos para a vingança.

Comédia que possui pitadas de trágedia, se tornando mais um dos grandes sucessos de Mazzaropi, trazendo em seu título uma refêrencia explicita a 'Django', mostrando o impacto que o spaghetti western teve no mundo todo, inclusive no Brasil.

5 -  Cactus Jack - O Vilão (The Villain, EUA, 1979) -  No velho oeste, um bandido atrapalhado que se veste todo de preto conhecido como Cactus Jack, o vilão, é contratado para roubar Charming Jones, uma moça que está indo buscar uma grande quantia de dinheiro. Mas além de ser um bandido trapalhão, Cactus  Jack não contava com a presença do  xerife "Bonitão" Strange, o responsável por proteger Charming durante esta viagem arriscada.


Uma sátira aos antigos "bang bangs", dirigida por Hal Needham, de 'Agarre-me Se Puderes' e estrelada por Kirk Douglas (Cactus Jack), Ann - Margret (Charming Jones) e Arnold Schwarzenegger ("Bonitão" Strange), em começo de carreira. A intensão do diretor e dos roteiristas é homenagear o desenhos antigos da Warner Brothers, principalmente o "Papa - Léguas", com Cactus Jack representando a figura do Coiote.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Enquanto o rádio toca Raul

Raul Seixas no meio de Chuck Berry, Everly Brothers e Little Richard - Foto: Divulgação

Ontem assisti ao documentário “Raul – O Início, o Fim e o Meio” e achei válido como documento histórico, apesar de não apresentar nenhuma novidade relativamente desconhecida pelo público. Claro que tem seus méritos ao trazer uma rara entrevista com Paulo Coelho falando de Raul, mas quem já leu ou ouviu constantemente a obra de “Raulzito” já sabe de sua devida importância. O grande forte de “Raul – O Início, o Fim e o Meio” é mostrar o vazio deixado pelo artista na música brasileira, que nunca esteve tão bunda-mole e afônica.

Se Roberto Carlos é rei, Raul Seixas é Deus, e, posso dizer isso sem dúvida alguma, é o único artista nacional que está em nível de compatibilidade com Bach, Beethoven, Elvis, Chuck Berry e Jerry Lee Lewis. Raul é a verdadeira “Música Popular Brasileira”, pois suas canções tocam desde o operário até o patrão, do mendigo ao executivo, da criança ao velho. Ele é pop, baião, rock, bolero, a fossa, a irresponsabilidade, a revolução, a anarquia, o medo da chuva, o divino, o misterioso, a umbanda e o candomblé, Deus e o Diabo.  Ou seja, Raul Seixas é um imortal e mais ainda, continua atual. Daqui a 200 gerações, músicas como Ouro de Tolo”, “Gita”, “SOS”, “Maluco Beleza”, “Capim Guiné”, “Baby”, “Tu És o MDC da Minha Vida”, “Cowboy Fora Da Lei e muitas outras continuarão na mente e na alma de quase todos os brasileiros. Seja com Paulo Coelho, Cláudio Roberto, Marcelo Nova, Raul é gênio e o dono de uma prosa dilacerante. A discografia de Raul é muito mais impactante e revolucionária, e nem se houvessem mil movimentos tropicalistas, Caetano Veloso ou Gilberto Gil conseguiriam alcançá-lo. O “maluco beleza” não fez nada pensando, ao contrário, tudo aconteceu, como a magia descrita por ele em tantas canções.

Mas não vou fazer análises música por música, disco por disco. Raul continua por aí, sendo a mosca, o reclamão, o cowboy, a lenda e a página mais importante da nossa música no Séc. XX. Talvez, até, de todos os tempos.  Enquanto um rádio tocar e alguém clamar a famosa frase falada em exaustão em qualquer show no Brasil e no mundo, Raul vai continuar não tendo início, fim, nem meio. Então é melhor berrar: - Toca Raul!

sábado, 5 de janeiro de 2013

Assassinos por Natureza (ou O Lado Negro da Força)



Spielberg, Harrison Ford e Lucas durante as filmagens de "Indiana Jones 3"

Steven Spielberg provavelmente ganhará mais um Oscar esse ano. O consagrado diretor está lançando a cinebiografia definitiva de Abraham Lincoln e que até agora só possui resenhas positivas. O seu grande amigo e parceiro, George Lucas, também foi notícia por conta da venda de sua produtora, a Lucasfilm, para a Disney.  Da união entre os dois surgiram à franquia Indiana Jones, o que rendeu uma boa grana para ambos. Mas por que Spielberg e Lucas assassinaram o cinema? A resposta para isso é simples. Eles, juntos ou separados, transformaram a sétima arte em uma verdadeira máquina de efeitos especiais, onde o roteiro, na maioria das vezes, não se sobressai ao uso excessivo da computação gráfica.

Spielberg e seu perigoso "Tubarão"


O crime começa em 1975, com Spielberg lançando “Tubarão”, um imenso sucesso, o primeiro “blockbuster” da história. É um ótimo filme, um clássico, com um elenco afinado e uma história bem escrita, mas pela primeira vez no cinema o efeito se torna mais importante que o roteiro ou os atores. Dois anos depois, um jovenzinho George Lucas, que já tinha tentando explorar o meio da ficção científica com “THX 1138” e realizado o simples e inesquecível “Loucuras de Verão”, lança sua aventura capa e espada (ou sabre de luz) intergaláctica “Guerra nas Estrelas”, o maior sucesso de 1977. Vale lembrar que os dois não são os únicos réus e o assassinato do cinema se trata de um crime coletivo. Um ano antes de “Tubarão”, o produtor Irwin Allen realizou a megalomaníaca produção “Inferno na Torre”, que junto de “Banzé no Oeste”, uma sátira barata de faroeste dirigida por Mel Brooks, foi a maior bilheteria de 1974.  Era o início do fim para grandes roteiros que possuíam boas estórias como o de “Golpe de Mestre”, “Butch Cassidy” ou “A Primeira Noite de Um Homem”, todos campeões de venda de ingressos em seus anos de lançamento.

Mark Hamill, Lucas e Harrison Ford nos bastidores de "Guerra nas Estrelas"

Steven Spielberg fracassou ao lançar “1941”, uma comédia sobre a Segunda Guerra Mundial, mas anos antes dirigiu “Contatos imediatos de 3º Grau”, outro estrondoso sucesso. George Lucas deixou de dirigir e apenas produziu “O Império Contra – Ataca”, continuação de “Guerra nas Estrelas”. Agora os dois tinham o poder supremo em Hollywood e poderiam fazer o que quisessem. Na década de 80 se uniram e inspirados em James Bond, inventaram o arqueólogo aventureiro Indiana Jones, interpretado por Harrison Ford e que deu um toque de classe ao cinema de ação da época. Realmente “Os Caçadores da Arca Perdida” é uma das melhores aventuras já produzida e tenho que tirar o meu chapéu para os dois. Em 1984, Spielberg decide se levar a sério e realiza “A Cor Púrpura”, um drama inesquecível sobre os negros pós-escravidão nos EUA e produz “De Volta Para O Futuro”. Já Lucas, ao contrário de seu amigo, produz “Howard, O Super-Herói”, baseado nos quadrinhos de Steve Gerber e sem dúvida nenhuma um dos filmes mais idiotas de todos os tempos. O restante da década foi de sucessos e fracassos para ambos, mas sempre matando um pouquinho do cinema.

Em 1993, Steven Spielberg realiza o seu melhor filme, o grandioso “A Lista de Schindler” e ganha o seu primeiro Oscar como melhor diretor. O segundo viria com “O Resgate do Soldado Ryan”, em 1998. Ao mesmo tempo em que fazia “Schindler”, dirigiu por telefone (é o que algumas pessoas dizem) “Parque dos Dinossauros”. Enquanto isso George Lucas ganhava muito dinheiro através da Lucasfilm, sua fábrica de sonhos que realizou os efeitos especiais de diversos filmes.  Na década seguinte voltaria a dirigir os três novos (e péssimos) episódios de “Guerra nas Estrelas”. Spielberg curiosamente ficaria no meio termo, realizando ao mesmo tempo bons filmes como “Prenda-me se for capaz” e “O Terminal” e ruindades como “Minority Report” e “Guerra dos Mundos” (nunca foi tão gostoso ler ao invés de ir ao cinema). Os dois ainda se reuniriam para realizar “Indiana Jones 4”.

Michael Bay é um dos súditos de Spielberg e Lucas

O resto da história acho que a maioria de vocês sabem. Vieram filmes como “Tintim” e o fraco “Cavalo de Guerra”. Mas no fim o grande problema não é a obra de Spielberg ou Lucas, que ao mesmo tempo em que faziam “blockbusters”, resgatavam gênios como Akira Kurosawa do limbo. O grande problema é a semente que eles plantaram e que diretores medíocres como Michael Bay colheram, tornando esta colheita algo maldito e que transformou o cinema em um mundo de ETs, transformers imbecis, explosões no núcleo da Terra, missões impossíveis, além de outras coisas que prefiro não lembrar. Por conta disso, filmes que possuem roteiros simplistas e boas histórias vão ficando cada vez mais restritos a um público que ao passar dos dias vai ficando menor. A experiência de ir ao cinema e sair de lá impactado, pensando no mundo em que vivemos ou fantasiando com algo impossível está sendo vencida por banhos de sangue e entretenimento barato de péssima qualidade que a indústria cinematográfica mundial nos enfia goela abaixo. Não há mais espaço para pensar, então a velha formula idiota é oferecida para o grande público, que mais idiota ainda, acaba a aceitando e concordando em ser estuprado mentalmente a cada ida ao cinema. A culpa disso? Sem dúvida nenhuma é de Steven Spielberg e George Lucas, dois indivíduos perigosos e que geralmente andam juntos de seus fiéis fanáticos como Michael Bay, Simon West, JJ Abrams e companhia. Então muito cuidado, pois eles estão por aí para atacar seu cérebro e te levar para o  lado negro da força em qualquer cinema na esquina de sua casa.

Um coadjuvante de luxo

Charles Durning e Dustin Hoffman em "Tootsie"

Em mais de meio século de carreira e mais de 207 papéis, Charles Durning foi o ator que mais fez filmes “clássicos” nos últimos 50 anos. Foi dirigido por nomes como Billy Wilder, Sidney Lumet, George Roy Hill, Brian De Palma, Irmãos Coen e muitos outros que são considerados gênios da “Sétima Arte”. Atuou ao lado de Jack Lemmon, Walter Matthau, Al Pacino, Dustin Hoffman, Steve McQueen e Burt Reynolds. Alguns de seus filmes mais lembrados são “Tootsie”, onde faz o pai da personagem de Jessica Lange, o Detetive Moretti em “Um Dia de Cão” e o policial Friscoe no ótimo e esquecido “Caçada Em Atlanta”, dirigido e estrelado por Burt Reynolds, seu amigo de longa data.  

Durning foi o tipo de ator que você já viu, mas não se lembra de onde. Era versátil, não só na carreira, mas na vida também. Antes de se tornar ator, foi pugilista, instrutor de dança e  lutou na Segunda Guerra Mundial, sendo um dos poucos sobreviventes da  "Batalha de Malmedy". No cinema interpretou muitas vezes sacerdotes e policiais, mas sempre passava a impressão de ser um membro de sua família, aquele tio ranzinza e bonachão.

Foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante duas vezes, a primeira em 1982 por “A Melhor Casa Suspeita do Texas” e a segunda no ano seguinte por “Sou ou Não Sou”, de Mel Brooks. Em 1990 ganhou o Tony (o prêmio mais importante do teatro americano) por sua versão do “Big Daddy” na peça de Tenessee Williams, “Gata em Teto de Zinco Quente”. Nos últimos tempos foi coadjuvante em seriados de sucesso como “Rescue Me” e “Everybody Loves Raymond”. Seu último grande filme foi “E aí, meu irmão, cadê você?”, em 2000, dirigido pelos Irmãos Coen e baseado em “A Odisseia”, de Homero.
Durning recebe das mãos do amigo Burt Reynolds o "Screen Actors Guild" 

Durning, que interpretou o Papai Noel diversas vezes, curiosamente faleceu em 24 de dezembro do ano passado, aos 89 anos, em Nova York, de causas naturais. Em 2008 recebeu das mãos do amigo Burt Reynolds o Screen Actors Guild pelo conjunto da obra e também uma estrela na “Calçada da Fama”. Uma pena que não houve tempo para a “Academia” reconhecer o seu talento. Mas Durning se vai e seus filmes ficam o eternizando na memória dos cinéfilos do mundo todo.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A volta do "Guerreiro das Estradas"

Primeira imagem de Tom Hardy como Mad Max Rockatansky
As filmagens de "Mad Max: Fury Road" (ou "Mad Max 4") foram concluídas no fim de dezembro e agora o filme está sendo convertido para o formato 3D. Tom Hardy, o Bane de "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" assume o papel de Max, que nos outros três filmes foi interpretado por Mel Gibson. Seria bacana ver Gibson retornando ao papel que lhe rendeu fama, como um Mad Max velho e furioso, mas acredito que pelos escândalos de sua vida pessoal nos últimos anos, não seria lucrativo para o estúdio. Acho Tom Hardy um bom ator e tenho fé que fará um grande trabalho. Charlize Theron, careca e mais linda do que nunca será a Imperatriz Furiosa e a direção fica a cargo do grande George Miller, inventor e diretor das outras aventuras da franquia. Confesso que estou ansioso para a estréia, prevista para este ano.