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Os mocinhos: O Dr. King Schultz e Django preparando uma emboscada nas montanhas |
Sim, a música do argentino Luis Bacalov continua a ecoar em meu ouvido. Foi o tema de abertura de 'Django', o original de Sergio Carbucci, de 1966 e é também deste já clássico contemporâneo filme chamado "Django Livre'. Lembro-me que em uma conversa informal com o Professor Doutor Roberto Elisio dos Santos, chegamos à conclusão de que depois de 'Os Imperdoáveis', de Clint Eastwood, nunca mais veríamos um grande western nas telonas. Estávamos enganados, pois Quentin Tarantino teve culhão para trazer novamente o 'bang bang' de volta das cinzas, como um italiano louco chamado Sergio Leone fez nos anos 60.
O roteiro é rápido, sagaz e inteligente e todas as referências de Tarantino estão neste filme, em que, pelo menos em minha opinião, ele ameniza a violência de seus filmes anteriores. Lembramos de "Laranja Mecânica", de Kubrick, ou '... E o Vento Levou', de Victor Fleming, a 'Shaft', de Gordon Parks, toda a cultura cinematográfica de Quentin está lá, ou seja, grande parte do que o cinema já produziu, de melhor ou pior. O mais incrível de tudo, é que ela está fresca e revigorada, como se esses outros filmes nunca existissem. Bom, vamos ao filme.
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Os caras maus: Stephen (para os íntimos Uncle Ben's) e Mounsier Candie |
Django (Jamie Foxx muito bom) é um escravo que é comprado pelo Dr. King Schultz (Christopher Waltz surpreendendo novamente - eu desconfio que o nome de seu personagem seja inspirado no alemão que salva Carlitos em 'O Grande Ditador'), um dentista que se transformou em um caçador de recompensas. Juntos, eles formam uma dupla que caça diversos bandidos no inverno do velho oeste. Mas Django pretende resgatar sua mulher, que está na fazenda de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio mostrando que é um grande ator e sua atuação, é sem dúvida, um dos pontos altos do filme), um maléfico 'sinhô', dono da maior plantação de algodão do Mississípi. Tem como criado fiel Stephen (Samuel L. Jackson, a cara do 'Uncle Ben's', mas estrondosamente maravilhoso, em um dos melhores papéis de sua carreira), um velho negro responsável pela criadagem da casa. Já resumi bastante o que é o filme, agora vamos voltar para algumas referências técnicas.
E além deste fantástico elenco, Tarantino traz de volta às telonas grandes atores que estavam sumidos (e esquecidos), como Bruce Dern, em um extensivo close-up merecido, Don Stroud, o velho surfista que não fazia um grande filme desde '007- Permisão Para Matar', Tom Wopat, o eterno Luke Duke de 'Os Gatões', Robert Carradine, que junto dos irmãos David e Keith , estrelou 'Cavalgada dos Proscritos', um dos últimos suspiros do gênero, dirigido pelo grande Walter Hill e Michael Parks, seu parceiro desde 'Um Drink No Inferno'. Mas sem dúvida nenhuma, as participações mais marcantes são a de Don Johnson, o eterno Sonny Crockett de 'Miami Vice', que se tornou melhor ator ainda com o tempo, interpretando o sulista "Big Daddy" e claro, Franco Nero, o verdadeiro 'Django', com seus grandes olhos azuis e sua presença marcante, trava um diálogo rápido com o novo 'Django'. Além disso, a cenografia e os figurinos são esplêndidos. A fotografia fica a cargo d o três vezes ganhador do Oscar, Robert Richardson, parceiro constante de Tarantino, Scorsese e Oliver Stone, que faz um trabalho com a lá Lucien Ballard, fotografo de diversos westerns clássicos. Os closes nos pés e o ponto de vista do morto, marcas de Quentin Tarantino estão presentes também em 'Django Livre'.
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O presente e o passado: Jamie Foxx e Franco Nero (na foto ao alto em 'Django', de 1966), os Djangos de hoje e ontem. |
Eu ainda acho que 'Cães de Aluguel' (que já completou 20 anos!) e 'Pulp Fiction' (que no próximo ano completa 20 anos!) são as melhores coisas que Tarantino filmou e 'Django Livre' com certeza entrará no hall, sendo o meu terceiro filme favorito do diretor. Também não é o melhor western já feito, Nem é 'Era Uma Vez no Oeste', de Leone, nem 'O Homem Que Matou o Facínora', de John Ford, mas é um ótimo bang bang, como há muito tempo não se fazia. Ah, 'Django Livre' também tem a tradicional ponta de Quentin Tarantino e bem nessa hora, durante a projeção, três garotos sentados algumas cadeiras a frente da minha conversavam entre si e perguntavam um ao outro se aquele era Tarantino, o diretor do filme. E agora, por meio deste texto, eu respondo: "Sim rapazes, este é o Tarantino, que por enquanto é o último cineasta inovador de Hollywood. Acho que ele realizou uma apresentação inesquecível para vocês, não é?" Acho que agora vai ser difícil de eles esquecerem o nome e o rosto de Quentin Tarantino, o eterno garoto da vídeo locadora, que é sem dúvida nenhuma a maior escola para cineastas.