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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Gigantes do ringue

Desempregado X Mercado de Trabalho -  O Duelo de Gigantes

E ele vai ao ringue outra vez. Já cansado, mas com muita força, preparado para a próxima porrada. Sua visão já não é mais a mesma de outrora e seu modo de caminhar já está mais lento, mas mesmo assim, se sente preparado, sabendo que tem grandes chances de vencer. Com suas luvas negras e com um calção desbotado, irá enfrentar seu pior adversário, o mais forte de todos. Ele já foi nocauteado por esse oponente algumas vezes e, mais do que uma revanche, é a chance de mostrar para si próprio, a capacidade de garra e talento que tem.  O oponente não treme, nem se intimida, sabe que é pior do que Ali, Mike Tyson, George Foreman ou Eder Jofre. É um sujeito sanguinário, uma verdadeira máquina, nasceu para ser campeão e foi criado para isso. Apesar disso, se sente vazio diversas vezes, mesmo após fumar um de seus charutos cubanos.  É chegada a hora do combate, chamado por muitos de “O Embate dos Séculos”.  Mais uma vez, como faz dia após dia, o Trabalhador Desempregado tenta vencer o Mercado de Trabalho.

O Trabalhador Desempregado se preparou da seguinte maneira: prestou vestibular, fez faculdade privada por quatro anos, ainda deve algumas mensalidades, mas todo dia tenta se aprimorar mais. Lê bastante, estuda mais um pouco, busca melhorar seu inglês e também quer aprender outros idiomas. Pega chuva, trem, metrô e ônibus lotado, mas não desiste da sua tentativa de vencer o, cada vez mais difícil, Mercado de Trabalho. Já o Mercado de Trabalho se utiliza de uma frase clichê, diz que nasceu pronto e que sempre está disposto para uma revanche. E não é que o danado está preparado mesmo!

Agora os dois estão no ringue, o público mantém os olhos fixos no grande palco da humanidade. Todos cantando e gritando muito. O coro arrepia os verdadeiros gladiadores do Terceiro Milênio. O juiz já está apostos, dita as regras e realiza o toque das luvas. Começou o primeiro round. Trabalhador Desempregado estuda o jogo do adversário, observando principalmente a dança, a maneira suave que o Mercado de Trabalho se desenvolve pelo tablado. Opa! Um momento de desatenção do Desempregado e um swing de direita de Mercado de Trabalho. Desempregado cai à lona e nesse momento deve estar pensando nos anos desperdiçados. Deve se lembrar de quando a família ofereceu a oportunidade de cursos de especialização e ele não aproveitou, das aulas perdidas na faculdade, naqueles momentos de pura infantilidade, onde preferiu tomar algumas cervejas e relaxar, ao invés de se arriscar em uma oportunidade de construir algo singelo, mas com alicerces seguros. Lembra também que muitas vezes desistiu simplesmente por desistir, talvez falta de entusiasmo e, por conta disso, mais a necessidade, foi obrigado a fazer o que não gostava. Mas agora não, ele sabe que será um crime desistir e antes do juiz iniciar a contagem, como em um filme de Rocky Balboa, se levanta. Nada vai abalá-lo dessa vez. A luta recomeça.

 
Desempregado já cansado de tanto apanhar


Trabalhador Desempregado se sente firme e com todo ar que possui em seu pulmão, vai pra cima do grande campeão e solta um forte jab de esquerda, agora um cruzado, mas mesmo assim Mercado de Trabalho não se entrega.  Apesar de uma sequência fantástica de golpes, Trabalhador Desempregado está aparentemente cansado e abre a guarda. Uma ótima oportunidade para Mercado dar a porrada final. É o que ele faz. Um soco direto coloca o Desempregado ao chão, mas dessa vez nenhum filme passa na cabeça desse oponente quase derrotado. A contagem começa: “dez, nove, oito...”, vai dizendo o arbitro, até que, surpreendentemente, Mercado de Trabalho oferece sua mão direita e puxa o Trabalhador Desempregado. Os dois se abraçam. Mercado de Trabalho sussurra as seguinte palavras : “Eu preciso de você, cara. Já ganhei trilhões, muita grana mesmo, mas sem sua presença, nada disso era possível. Todos os dias que você pegou chuva, enfrentou o transporte público lotado, eu estava lá, te observando. Talvez seja por isso que estou mais preparado do que você e acabei ganhando as outras lutas. E, propositalmente, vire e meche, colocava você para lutar com adversários menores, até mesmo com seus próprios demônios. Mas hoje você não desistiu e por isso te ofereci a minha mão. Vi que se arrependeu dos erros do passado e está tentando começar com força total agora, mas para eu poder te ajudar, preciso que você mantenha a mesma postura dessa luta. Tenha força, garra e o foco dessa noite. Eu só posso ser campeão se você estiver junto. Posso contar contigo?”

Desempregado, com os olhos cheios de lágrimas, disse que dessa vez o Mercado de Trabalho poderia contar com ele, pois estava preparado. Mercado riu e conclui sua fala: “Vamos ter muitas brigas ainda, mas sabendo que você não sairá do trilho, vamos ser sempre campeões.”

 
Mercado de Trabalho e o Desempregado confraternizam 



Trabalhador Desempregado, completamente suado, apertou as mãos do Mercado de Trabalho e percebeu que agora, apesar da luta continuar, estaria seguro e pronto para as próximas batalhas, mas podendo contar com um parceiro de peso. Como em um filme americano, o duelo de gigantes teve um final feliz e com ambos vencedores. Foi uma grande luta!

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Contra os sonhos, o direito a educação e a juventude

FEBEM - Fábrica de Querôs



A diminuição da maioridade penal não resolve o problema. Mas as pessoas que estão se apegando nessa ideia insistem em dizer frases apelativas como: “Se fosse um filho ou um sobrinho seu vítima de um crime cometido por um adolescente  tenho o certeza que você apoiaria!”


Será que essa é a raiz de todo esse dilema ou seria apenas a solução mais fácil?


Sem dúvida alguma é bem mais fácil alterar essa lei, superlotar cadeias, transformar adolescentes infratores em verdadeiros criminosos e ainda pagar quase R$1000,00 para mantê-los em ‘cana’. O povão aprova, bate palma para o governador, deputado, senador ou presidente que é a favor dessa situação, afinal, a educação e a cultura não é importante e nem transformam vidas. A progressão continuada, ah, essa sim, mantém a garotada na escola e mesmo sem aprender coisa alguma, ele será alguém um dia. Realmente, será alguém que não consegue construir seus sonhos, porque a educação, que é seu direito constitucional, foi negada. Não sobrarão opções e ir para o crime é a única saída (ou a única que ele conhece), afinal, os governantes não estão nem aí para a periferia.

Saibam vocês que são a favor da redução da maioridade penal e que aplaudem de pé essa causa, que os verdadeiros assassinos continuarão soltos e ainda irão rir de sua cara, pois cada crime cometido por um adolescente, quem deveria ir preso é cada um dos políticos que negaram ou roubaram grana da educação, cultura e de projetos sociais, porque querendo ou não, foram eles que colocaram a arma na mão desse jovem, afinal, negaram a ele o básico de sua vida.

Então, em vez de gastar energia defendendo a varrição da sujeira para baixo do tapete, apoiem causas nobres, saiam para as ruas e peçam medidas realmente decentes para a juventude desse país. Briguem pela educação, para salários melhores para os professores e deixem dessa ideia de matar as saudades de um tempo ruim que não vale a pena ser lembrando, afinal, você sente falta das velhas FEBEMS dos anos 80, 90? Você não julgava esse tipo de instituição como uma verdadeira escola de criminosos? Então deixe de ser hipócrita e grite, esperneie e se revolte pelo direito de educação, sonhos e trabalho. Fora isso,  é bem melhor se manter calado.

(escrito em abril)

Entre os extremos da megalópole

Av. Washington Luís - o limite entre dois mundos em um  lugar  só


Às 7h30 em Diadema, 10h30 no periférico Jardim Miriam, 11h15 na divisão de mundos que é a Av. Washington Luís, 11h45 aprecio os grandes monumentos na região do Ibirapuera, às 12h15 desço e dou uma volta na pomposa Brigadeiro Luís Antônio, por volta das 13h30, após me deliciar de um tradicional e suculento Virado à Paulista, caminho um pouco pelos arranha-céus da gloriosa e étnica Av. Paulista. Entre um metrô e outro acabo comprando o livro 'A Primavera do Dragão', de Nelson Motta, em uma daquelas máquinas maravilhosas que incentivam a leitura. Quando olho para o relógio já são 14h e já estou na estação da Barra Funda esperando o trem que vai sentido Franco da Rocha. Quando bate as badaladas das 14h15 e duas estações depois, tomo um cafezinho no Largo da Lapa. Ufa, nem eu acredito que fiz um verdadeiro tour por Sampa hoje. É incrível como não precisamos ir tão longe para vermos a mais extrema pobreza e, alguns minutos depois, o luxo e do dinheiro. Essa é São Paulo, uma cidade cheia de mistérios. Uma mulher que ainda exala seu ar sexy, mas que por dentro já está velha, cansada, bastante magoada e quase sem tesão.

(escrito originalmente em 22 de abril de 2013)