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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Passando uma noite com os Stones e vendo que as pedras ainda rolam (e os dados também)

Não é qualquer dia que o Morumbi treme, dando a impressão que o estádio pode desmoronar a qualquer momento. Poucas coisas causam isso. Uma final de Libertadores, um clássico paulista ou talvez quando os Rolling Stones tocam (I Can't Get No) Satisfaction. Essa última alternativa pude comprovar pessoalmente e só de me lembrar, os pelos dos meus dois braços se arrepiam e olha que a música mais conhecida da banda está longe de ser uma das minhas favorita - que são All About You, do disco Emotional Rescue, a sacana Let It Bleed e o mágico mantra You Can't Always Get What You Want. A sensação beirava o primeiro orgasmo, aquele do início da puberdade, ou o primeiro cigarro, mesmo que ele seja um Shelton comprado solto em algum botequim podre de uma esquina de São Paulo. Pode parecer sujo, mas são as coisas mais próximas que vem na minha mente.

Do riff crú de Jumpin' Jack Flash ou ao ver a chuva começar justamente quando Mick Jagger canta a primeira estrofe de Gimme Shelter, aquela que fala sobre uma tempestade chegando, você não acredita que está ali vendo uma boa parte da história do blues e do rock' n' roll na sua frente, tocando todas aquelas canções que quando você tomou aquele porre por conta de alguma gata ou saiu pra uma noitada incrível com os amigos escutou a exaustão. Simplesmente sua mente se teletransporta e a conexão com aqueles caras no palco é automática. É a magia da música em ação.

Keith Richards, Mick Jagger, Ronnie Wood e Charlie Watts não estão lá só pela grana e nem para mostrarem que são mais ligeiros que muitos jovens. Eles sobem ao palco para sentirem o ar, aquela brisa na cara, o sangue fluindo pelas veias, deixando o suor escorrendo por lugares impróprios. Os "velhos" querem sentir a vida pulsando o mais forte possível e dividir isso com o público. Uma lição aprendida com os finados gênios Muddy Waters, B.B. King e Chuck Berry, na estrada até hoje - graças aos Deuses do Rock. É uma energia inexplicável, sabe aqueles ápices de nossa jornada nesse planeta? É isso.

Passado dois dias após o fascinante 27 de fevereiro de 2016, continuo hipnotizado e não acreditando que estive lá, sentindo as lagrimas em meus olhos com o mestre "Keef" sussurrando os versos de Slipping Away, pra mim, o grande momento da noite. Foram 21 anos sonhando em ver esses caras ao vivo e finalmente o dia chegou. Como uma canção do último disco solo de Ronnie Wood, posso dizer sem nenhuma dúvida: Sim, sou um cara de sorte. Vida longa aos Rolling Stones, esses alquimistas contemporâneos que mantém a chama do rock'n' roll viva na alma de cada um de nós. Obrigado por uma noite mágica, mestres, e que as faíscas continuem voando por aí. Até o próximo adeus (ou Bis)! ‪#‎StonesSãoPaulo‬

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Em movimento

 Glenn Hughes tem 62 anos, mas no palco e pessoalmente aparenta meros 50. O cara já passou por fases ruins, principalmente nos anos 80, quando se arrebentou por conta da cocaína - assunto que ele trata com naturalidade e até inspiração em canções. "Come Taste The Band", disco de sua época como baixista e vocalista do Deep Purple, está na minha lista dos cinco melhores álbuns de todos os tempos. Adoro o swing e a pegada funk dessa formação, que incluía Tommy Bolin na guitarra. Em agosto decidi levar minha edição do disco para ganhar um autógrafo, uma foto, algo do tipo. Já cansei de falar que detesto bajular artista, mas Hughes, além de ser um pioneiro na maneira de misturar o funk com rock'n'roll, é uma das maiores vozes desse planeta, além de ser o único cara das antigas que mantém a mesma voz, talvez até melhor. 

Cheguei nas dependências do Carioca Club, local da apresentação, antes das 14h e ainda tive que enfrentar os "revolucionários da CBF" no metrô. No meio da primeira cerveja, uma van chega e eu e meu companheiro de show, o grande Jorge, o Júnior, corremos de copo e tudo atrás. Era o baterista suíço (ou seria sueco?) do cara chegando. Já havia uns dois gatos pingados na porta e resolvemos ficar por lá. Descobrimos o hotel onde Glenn está hospedado e, por alguns minutos, pensamos ir lá, mas desistimos. Ele ia ter que passar na entrada dos músicos. Cerca de uma hora depois, outra van para e o titio Hughes desce, não dando nem tempo para preparar a câmera do celular. Consegui ser o primeiro cara a falar com ele, até mesmo quase tocá-lo, quando ofereci meu disco e uma caneta para o autógrafo. Bem nessa hora, um sujeito da organização da casa nos afastou e acelerou Glenn. Perdi a minha oportunidade, mas não me dei por vencido e continuei lá na porta. O batera saiu pra fumar duas vezes e trocou algumas ideias comigo e outros três fãs. Resolvi não tirar uma foto com o cara, já que nunca tinha o visto - logo me arrependeria da decisão. Aguardei mais um tempo, vi a coleção de discos de alguns fãs, conversei sobre outros shows e de quebra ouvi a passagem de som. Ia rolar um encontro pago e o roadie de Glenn Hughes era quem buscava esses caras, cerca de seis. Tentei dar uma migué, quase funcionou, mas não consegui entrar. Resolvi tomar umas cervejas e comer algo, além de ver a última rodada do Brasileiro. Volto pra fila e descubro que Doug Aldrich saiu pra tomar um ar e tirou algumas fotos com os fãs. Apesar de ele ter tocado com lendas como Ronnie James Dio e David Coverdale, seu estilo de tocar nunca me agradou e eu já tinha cumprimentado o cara em sua chegada ao Carioca. Entro no local do show, já pego um lugarzinho perto do palco e eu e Jorge começamos conversar com pai, mãe e filho que estavam vendo o show. Vinham de Pirituba e tinham verdadeiro amor ao rock'n'roll. O show começa pontualmente ás 20h30 e Glenn, com seus 62 anos, é um verdadeiro menino, se movimento e rasgando o verbo em Stormbringer. Uma energia emana do palco e vi tiozões barbados hipnotizados com a perfeição vocal de Hughes. Mais algumas músicas e vem Sail Away, presente no clássico"Burn". A casa vai abaixo, canta junto e se emociona, talvez pela letra poética ou até mesmo por sua rara execução ao vivo. Depois disso, nem precisava haver mais show, o preço do ingresso já tinha sido bem pago. Outros clássicos como Mistreated e Burn vieram na sequência, mas já não eram necessários.

 Com duas horas exatas de show, Glenn Hughes mostrou o motivo de ser reverenciado por músicos de todas as gerações. Sua energia, carisma e respeito pelos fãs é enorme. Após esse grande espetáculo, ainda dei um pulo no hotel para tentar descolar o meu autógrafo. Esperei por um bom tempo, mas o relógio já marcava 23h30 e, apesar de não morar no Jaçanã, se eu perdesse o próximo trem, só amanhã de manhã. No fim, trouxe meu disco sem o autógrafo, mas vi um show inesquecível e conheci gente bacana. O autógrafo? Deixa pra próxima, porque no fim, ganhei mais uma história pra contar e, como ele diz em uma canção, o importante é continuar se movimentando, ainda mais após uma aula de vitalidade e Rock'n'Roll. 

Por onde andará Rod Evans?

A última foto conhecida de Rod Evans
Rod Evans foi o primeiro vocalista do Deep Purple e, com eles, gravou o hit Hush. Tentando mudar o direcionamento da banda, Jon Lord, Ritchie Blackmore e Ian Paice - respectivamente o tecladista, guitarrista e baterista do grupo - demitiram Evans e contrataram um menino chamado Ian Gillan. Evans então fundou o Captain Beyond, uma ótima banda, mas que não fez o sucesso esperado. Rod então se afasta dos palcos e, segundo relatos não confiáveis, estudou medicina e virou o responsável por uma ala hospitalar na Costa Oeste dos EUA. 

Em 1980, aproveitando o hiato do Deep Purple que só viria a acabar em 1984, resolveu montar uma banda, registrou o nome "Deep Purple Inc."- que já era registrado - e saiu em turnê pelos States. Claro que logo a farsa foi descoberta e Rod processado, perdendo todos os direitos sobre os três álbuns que gravou com o Purple. Desde então ele sumiu, simplesmente evaporou. Alguns dizem que ele voltou a trabalhar no hospital, outros afirmam um possível suicídio. Em plena era da internet, é impossível descobrir o que aconteceu com Rod. Ele virou história. Você pode tentar o Google, o Facebook, procurar por Roderick Evans ou Rod Evans e não há um sinal do cara. 

No Brasil, há um tempo atrás, fiz buscas incessantes no Google sobre Lili Rodrigues, o substituto de Ney Matogrosso no Secos & Molhados. O jornalista Alberto Villas, do Fantástico, fez uma busca verdadeiramente implacável atrás de Lili, mas não encontrou nada. Tirando os comentários maldosos em diversos fóruns da internet, o fato mais concreto é a resposta ao artigo de uma possível prima de Lili Rodrigues afirmando que ele faleceu. Mas, voltando a Rod Evans, como uma pessoa pode sumir por 35 anos? Teria Rod se submetido a uma mudança de sexo e estaria se apresentando em algum cabaré parisiense? Será ele um cantor de churrascaria? O que aconteceu com Rod Evans? Além de dar um belo tema para o Globo Repórter e para reportagem sensacionalista do programa do Gugu, vale lembrar que Rod já está na "melhor idade" e talvez não tenha paciência para o mundo virtual. Mas você, se tiver alguma pista sobre o paradeiro de Rod Evans, me liga, porque podemos ganhar o Pulitzer com essa história. 

Volta as aulas

Arrigo Barnabé em ação
É difícil eu me sentir intimidado. Quase raro até. 27 de janeiro foi um desses dias em que a intimidação fez parte do cardápio, afinal, fiquei cara a cara com Arrigo Barnabé, considerado por muitos o compositor mais genial de sua geração, seja no campo erudito ou até mesmo pop, um sujeito à frente de seu tempo e totalmente simples. Nada é mais intimista que a simplicidade.

Meu contato com o seu som aconteceu ainda criança, através da cópia que meu pai tinha da trilha sonora de "Cidade Oculta", um noir à brasileira, que mostrava São Paulo com um toque de Blade Runner. Segundo meu pai, seus amigos diziam que ele parecia com Arrigo Barnabé, que além de estrelar e ser um dos autores do roteiro, assina quase toda as músicas presentes no LP. Quantas vezes fiquei admirando as fotos de Carla Camurati na contracapa do disco. Era o máximo da sexualidade para um moleque de quatro, cinco anos.

Em janeiro, eu e aproximadamente 100 pessoas tivemos a oportunidade de adentrar no processo de composição de Barnabé, além de termos tido o prazer de ouvir histórias sobre sua adolescência em Londrina ou de quando conheceu Itamar Assumpção através de uma "aula show". No meio do bate-papo, é claro, não faltaram canções, como "Diversões Eletrônicas" e "Clara Crocodilo". Ao fim, Arrigo respondeu algumas perguntas da plateia e falou de seus planos futuros - que são vários.

No final da aula, não resisti, abordei Arrigo e contei a história de que meu pai falava que se parecia com ele e talvez tenha até faturado algumas menininhas por conta disso, mas hoje está quase careca.

Sabe aquele vinil do "Cidade Oculta" de que falei? Mais de 30 anos depois, foi autografado - às vésperas do meu pai completar 50 anos - assim como a edição que possuo de "Na Boca do Bode", de Fabio Henrique Giorgio, que explora a cena musical de Londrina das décadas de 60 e 70 e mostra o início daquilo que seria conhecido como "Vanguarda Paulista", o movimento musical mais importante do Brasil após a explosão da Tropicália. Não tirei uma foto com Arrigo: continuo intimidado até agora, talvez seja com a aula, que não vou esquecer nunca, ou com a humildade do cara. É, acho que tenho sorte. A vida sempre colocou professores excelentes no meu caminho, deixando a experiência do aprendizado muito mais prazerosa e iluminada. De vez em quando vale a pena voltar às aulas