É, hoje foi o dia de muitas mulheres receberem flores, geralmente rosas, dos maridos, namorados, parceiros, mas, principalmente, de seus empregadores. Muitas adoram, acham a homenagem maravilhosa, um puro gesto de carinho da firma. Mas será que o pessoal da casa grande é tão caridoso assim, a ponto de fazer esse tributo formidável, ou não seria o "ponha-se em seu assento inferior, mulher"? Acredito que, mesmo inconscientemente, a segunda opção é a favorita de boa parte do empresariado - e da nossa sociedade dominada pelo machismo.
Cartola disse em uma canção que as rosas não falam, mas esqueceu de avisar que além de roubar o perfume da mulherada, essas flores são apenas o sinônimo da desigualdade. A diferença dos salários entre mulheres e homens no Brasil fica entre as médias de 22 a 40%, um índice terrível e nojento, ainda mais se tratando do segundo pior país do mundo na igualdade de salários, de acordo com o Índice Global de Desigualdade de Gênero, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial em novembro de 2015. Só estamos a frente de Angola. Um dado surreal, para não dizer outra coisa. Além disso, a primeira lei forte contra a violência a mulher, a famosa "Maria da Penha", só foi sancionada em 2006 e sua aplicabilidade é falha. A pesquisa "Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil", realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea, estima que 50 mil assassinatos por questões de gênero ocorreram no país entre 2001 e 2011 e os casos só aumentaram após a adoção da Lei Maria da Penha. Cerca de 9, 3 milhões de mulheres realizaram abortos ilegais no Brasil no período de 2004 a 2013 e esse assunto grave, que deveria ser tratado como saúde pública, ainda é pautado como questão de fé.
O dia 8 de março está longe de ser uma comemoração repleta de rosas murchas, semimortas e bregas, exaltadas por muitas mulheres que acabam sendo mais machistas que muitos homens, mesmo sem perceber. O Dia da Mulher é um momento de reflexão e mostra que a luta das mulheres nem chegou em sua metade. Beirando o velho clichê que a união faz a força, é necessário urgentemente mais coletividade e diálogo entre homens e mulheres para mudarem essas condições alarmantes apresentadas no Brasil e no mundo.
Nós, homens, devemos nos policiar, porque, na real, sabemos que os resquícios do machismo que permeia o mundo há séculos continua circulando em nossas veias. Vamos procurar ler e aprender mais e julgar "de" menos. Sabemos que as mulheres são mais fortes que nós e não só por conta de darem a luz, terem TPM ou sangrarem todo mês. Elas superam tudo mais rápido, além de encarar os problemas de frente, sem pudor algum. Vamos respeitá-las e tentar tornar esse planeta em um lugarzinho um pouquinho mais justo e sociável. Não vai custar e nem doer nada, você vai ver. Rosas não bastam. Esqueça de uma vez as rosas, é melhor. Essas flores matam bem mais que a "Rosa de Hiroshima", pode apostar.