Pesquisar em Antropoide News

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Intolerantia

“Árabe filho da puta, saudita viado. Volta pra sua terra, seu merda. Vá embora daqui.” Ao som desses lindos termos, segui meu caminho até a Estação Ipiranga, nas proximidades do meu trabalho. Palavras ditas com agressividade e aos berros por um sujeito sem as duas pernas e se locomovendo em sua cadeira de rodas após me ver na rua. Não é a primeira vez que alguém me chamou de árabe ou de “Bin Laden” por conta da minha barba, mas foi a única abordagem violenta que sofri por conta disso - diferente de todas as outras, quase sempre piadas de estranhos comigo. Não deixei a situação me afetar e continuei minha caminhada diária, fingindo que aquilo não era comigo, mas confesso: fiquei impressionado com a dose de violência que surgiu na voz e nas frases do indivíduo. Por uns 700m, sem exagero, continuei ouvindo os gritos. Pensei em todas as situações que poderiam acontecer, tanto se eu fosse agressivo ou apenas respondesse numa boa. Achei que não valia a pena falar nada, muito menos tentar entender as motivações para o cara ser tão intolerante comigo. Tentei não julgá-lo, muito pelo contrário, desde aquele momento minha cabeça não para de pensar nas diversas vezes que estive na situação reversa. Ao mesmo tempo me fico tentando imaginar a reação e os sentimentos de um imigrante vindo da península Arábica quando uma situação absurda como essa ocorre.

Não tenho nenhuma ascendência árabe, e se houvesse, sem dúvida alguma, nunca seria um problema. Pode até ser que exista um gene mouro, já que meu bisavô nasceu em Cáceres, cidade histórica espanhola, palco de batalhas sangrentas entre muçulmanos e cristãos em épocas passadas. Em Cáceres, segundo os livros de história,a situação era essa: um islamita construía uma mesquita, depois um cristão chegava, destruía tudo e erguia uma igreja. Claro que os tempos são outros, mas a intolerância, seja religiosa, racial ou sexual, é sempre a mesma.Vivemos em um mundo onde Donald Trump, um magnata megalomaníaco, xenofóbico e candidato a presidência dos Estados Unidos, quer levantar um muro em plena fronteira do México para impedir que os imigrantes entrem no país. Na Rússia, a região que possui a maior área do planeta, Vladimir Putin, ex-agente da KGB e atual presidente, diz que é necessário se livrar da homossexualidade para aumentar as taxas de natalidade, mas que não tem problema nenhum com gays. E a crise dos refugiados na Europa? Acho que nem vale a pena comentar sobre isso, já que diariamente lemos algo relacionado ao assunto. Claro que não vou esquecer do nosso Brasil brasileiro, terra de samba, pandeiros e recorde mundial no assassinato de homossexuais. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia - GGB, a cada 28 horas um homossexual é morto de forma violenta. Na questão racial então, nem se fala. Quantas vezes você não ouviu alguém dizer que é contra as cotas raciais em universidades ou a chegada de haitianos ao país mesmo sem saber o por quê. Vale lembrar que nosso atual quadro de ministérios é formado apenas por homens brancos. Com a religião não é diferente. Chegamos ao ponto de uma criança ser apedrejada após sair de um culto de candomblé. E se você resolver fazer terapia? Já era, muitos vão te tachar de louco.

Resolvemos virar juízes, sentimos a necessidade de comentar sobre tudo. Acreditamos que nossos valores pessoais, muitas vezes repletos de senso comum e hipocrisia, são validos para todos. Parece ser indispensável impor nosso ponto de vista na vida dos outros, mesmo que a gente não perceba que estamos sendo intolerantes. A intolerância é transmitida em sua TV e rádio quase 24h. Ela é encontrada em seu local de trabalho, nas ruas, na fala de um político que você votou na eleição passada, aquele que representa alguma bancada específica. Você pode discordar de mim, mas tanto eu quanto você somos preconceituosos, intolerantes e já julgamos alguém. Sim, é isso mesmo: eu e você somos preconceituosos e já fizemos muitas vezes juízo de valor, mesmo que de forma inconsciente. Nos policiamos, é verdade, mas já julgamos muito por aí. Transformações acontecem e temos a chance de mudarmos nossos pontos de vista, ainda bem. Se quisermos transformar o mundo, fazer uma verdadeira revolução, sem dúvida alguma, apenas a intolerância não deve ser tolerada.

domingo, 7 de agosto de 2016

A importância do que você pensa

Me chame de pervertido,
Seu cínico.
Me chame de sujo,
Seu imundo.
Me chame de pederasta.
Seu canalha.
Mas não humilhe meus versos.
Não diga que eles são algum tipo de lixo.
Nem que dá pra reciclar.
Não me chame de amigo,
Muito menos de camarada.
Deixe eu libertar a voz do meu peito.
A voz dos meus pensamentos.
Não me enche o saco,
O mundo tá repleto de bastardos.
E esse fardo, esse negócio pesado,
É só meu.
Só quero que você leia,
Não quero que entenda.
Afinal, esse coração.
E essa mente,
Que você acha suja e perturbada,
É só minha,
Mas ela me faz criar poesia.
Então lave a boca seu canalha.
Deixe eu escrever os meus poemas do nada.
Não me julgue.
Não pedi sua opinião.
Mas não importa.
Esse é só mais um poema que saiu das minhas mãos.

Poesia sem sentido

Lá vem a noite.
Maldita noite.
Não vou te encontrar.
Faço a barba.
Penso no seu rosto.
Lembro do seu lábio.
Como desejo você.
Me animo só de lembrar.
Quero te encontrar no metrô.
Num bar qualquer.
Quero dar em cima de você.
Quero ser seu homem.
O desejo.
Que coisa perigosa.
Mas o desejo pode ser sujo, atrapalhado.
Pode ser seu.
É todo meu.
E agora, olhos nos olhos.
Te quero ainda mais.
Com suas velhas meias.
Com sua bota calejada.
Nesse frio do inferno.
Te quero.
Me dê uma chance a mais.
Deixa eu ser teu guia.
Abra essa cortina.
Mas só pra mim.
O amor falha de vez em quando;
Não sei qual é o motivo.
Mas sinto que dessa vez vai nos acertar.
Então, sem pressa alguma,
Vem ser minha,
Abra seu peito, me dê todo o seu coração.
Foda-se o resto.
Venha me amar, me desejar e fazer sei lá mais o quê.
Foda-se o resto.
Olho nos seus olhos e quero que você seja minha.
Abra esse seu sorriso só pra mim.
Mas na vida há muito desafio.
Nem sei o real motivo,
Mas, sei lá,
Acho que essa é a última noite que vamos nos encontrar.
Que triste, que merda.
Mas amanhã vai passar.
Baby, você se arrependerá.
Mas, quem sabe,
Um maldito dia,
Nós vamos nos encontrar.
Mas, dessas vez,
Vamos nos amar,
Nos entregar,
Como numa velha canção brega,
Como naquele filme europeu.
E, quando esse dia chegar,
Vou me fechar.
Vou abandonar o meu barco.
Me arrepender de tudo o que eu fiz.
Vou viver pra você.
Por mais chato que seja.
Mas isso, eu acredito,
Se chama amar.
E eu, sem dúvida alguma,
Vou te amar,
Te desejar,
E calar a minha boca,
Afinal,
Não  há tempo pra perder.
Muito menos falta de lenha pra queimar.
Te amo, te desejo.
Mas não te chamo de baby.
Falo português.
Leio um pouco de inglês.
Mas te desejo nos meus braços.
E a língua que esses braços falam é universal.
É o idioma do amor.
E aqui,
Nesse pobre coração.
Você vai se recuperar da dor.
Foda-se  o resto.
Você vai ser minha,
E acabou-se a história.
Nem precisa rimar.
Pro amor, não  há essa necessidade.
Nem vale perder tempo.
O que vale mesmo,
É te ver dormir,
Poder deitar do seu lado.
Te fazer café da manhã.
E te amar.
Seja no luar,
No trópico,
Ou apenas essa noite.
Mas vou te amar.
Foda-se o resto.
Você é minha essa noite.
E é isso que importa.
Novamente digo e fecho essa poesia,
Não precisa rimar.
Apenas vamos deitar e sonhar.

Penetração

Eu quero cantar pra você.
Sussurrar no teu ouvido.
Como um amante a moda antiga,
Quero dançar a noite toda.
Até suas pernas tremerem.
Até suas pernas quererem descansar.
Até suas pernas decidirem entrelaçar meu corpo.
Até suas pernas cruzarem a minha pobre alma.
Sentir o cheiro da sua vagina.
Dizer que ela é só minha.
Transformar a noite em nossa.
Fazer amor a luz do luar,
Olhar sua face, te penetrar,
Você pode me achar um cara carente.
Me achar até mesmo atraente.
Mas quero que você se foda.
Colocar sua boca junto da minha.
Sentir sua língua.
Como uma aventura antiga mal escrita.
Como um caderno bobo de um louco.
Quero te fazer minha.
Quero te fazer gozar.
E, durante um beijo na boca,
Te penetrar.
Como os Stooges falam em uma canção,
É só você me dar a sua mão.
E a penetração,
A penetração vai começar,
Amo você, querida
Desejo você, quem sabe você não é a mulher da minha vida.
Talvez eu seja algum tipo de idealista.
Mas te desejo.
Te penetro nos meus sonhos.
Te penetro nas esquinas.
Te penetro na sua cama.
Te penetro na minha.
Te penetro numa laranjeira.
Te penetro atrás da cortina.
Te desejo.
Sinto o seu cheiro.
E quero você.
Quero te penetrar.
Mas, se você temer algo.
Apago o meu fogo.
E te penetro apenas num poema.
Num verso sujo.
Na palma da minha mão.
Mas te quero.
E, nos meus mais selvagens sonhos,
Te penetro,
Como um cavalo selvagem,
Um deus endiabrado.
Te quero,
E não importa o quanto.
Nos meus sonhos te penetro.

A cidade (eu quero ela, mas ela não me quer)

O clima está excelente.
Talvez a noite prometa algo.
Não sei, mas meu coração tá apertado.
Alguns dias queremos conquistar a cidade.
É esse sentimento que sinto dentro de minha alma.
É esse sentimento que quero expor.
Me perder entre esses muros carregados de mágoa.
Me entreter nos lindos peitos da saudade, do arrependimento.
De todas as merdas que eu já fiz.
Às vezes a cidade te oferece um clima ótimo,
Uma lua especial,
Mas é melhor se entreter sozinho.
É um aviso:
“Mantenha-se longe das máquinas, dos problemas, meu jovem!”
E tudo que penso é mandá-los a puta que os pariu.
Talvez minha mente ou alma seja perturbada (APENAS UMA DAS DUAS)
Às vezes me sinto como Sinatra cantando That’s Life.
Em algum mês eu vou ressurgir, me tornar rei,
Conquistar tudo, mulheres, ouro, seu maldito coração.
Na maior parte do tempo me sinto assim.
É ótimo.
Mas, voltando, quero conquistar a cidade.
Você me orienta?
Me explica como?
O clima tá tão bom.
Mas há uma energia ruim no ar.
Você não sente?
Algo carregado, como uma nuvem repleta de chuva.
Sem orgasmo, sem tesão.
Nem toda tempestade deveria ser assim.
Mas quero conquistar essa imensa cidade.
Ver meu nome nas luzes.
Que porra eu tenho que fazer pra isso?
Minha mãe me acha um gênio!
Será que vou ter que ligar  minha guitarra?
Tocar um hino, como Hendrix?
Eu vejo várias garotas passarem por mim.
Desejo todas.
Desejar é ativo, ser desejado é passivo.
Isso é o que diz um espanhol popular.
Ele tá certo.
Desejo você, desejo todas.
Quero você, sua amiga, sua mãe,
todas nuas na minha cama.
Quero me inspirar por vocês,
Mesmo que isso seja um problema.
Mas quero me perder pela cidade.
Ela não me dá espaço.
Ela é durona comigo.
Quero fazer amor com ela.
Algum tipo de carinho.
Mas ela não deixa.
Essa maldita velha dama.
Quero sentir seu fogo,
Seu cheiro.
Quero descobrir os seus pecados.
Sujos, depravados.
Mas ela não se abre.
Maldita seja.
Me deixe tomar uma cerveja em seus lindos seios,
Oh, seios de uma falsa liberdade.
Eu os desejo.
Minta pra mim, sem verdades essa noite.
Diga-me a verdade apenas após a meia-noite.
Trepe comigo até o próximo anoitecer.
Doce pássaro da juventude.
Doce charme da tarde.
Quero você
Quero sentir seu gosto, descobrir que sabor você tem.
Até eu arranjar uma cidade,
No ano que vem.
Só o ano que vem.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

A garota que nunca esteve lá

Se encontraram apenas uma vez
E a identificação foi instantânea
Olharam olhos nos olhos
E a Terra toda tremeu naquele momento
Se despediram,  com certo ar aflito
Pra nunca mais se encontrarem
Mas já era,
Você se sentiu envolvido pelo par de olhos,
Mas a garota nunca esteve lá.
Então você a procurava em sonhos,
Neles você a amava, até mesmo sentia sua pele
Mas, quando acordava,
A garota já não estava lá.
E ia pro trabalho,
Relembrando o rosto daquela mulher,
E as lembranças te traziam mais desejo,
Seu coração ficava inquieto,
A respiração sempre ofegante,
Culpa de todos os cigarros
Cigarros que você fumou,
Esperando aquela que não estava lá.
Mais um dia se passou,
Você não fez absolutamente nada.
Tomou um gole de café,
Arrumou o nó da sua gravata
Sentou no sofá e ligou a TV,
Não adiantava nada,
Ela não estava lá.
Então você resolveu cair na real,
Nunca mais tentou entrar em contato,
Mesmo achando tudo isso um saco
Resolveu aceitar que nunca mais ela ia voltar,
Ela não te daria uma chance de amá-la de verdade,
Afinal, ela nunca esteve lá.
Num final de tarde ensolarado,
Em uma praça qualquer,
Você vê a bela figura daquela mulher,
Mas não faz nada.
Você que sonhou acordado tanto tempo,
Sempre desejando encontrá-la
Não vai fazer nada,
Descobriu que é melhor deixá-la pra lá,
Já que, ela nunca pertenceu a nenhum lugar,
Muito menos ao seu frágil e pobre coração
E nunca, nunca mesmo,
Ela estará lá,