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domingo, 29 de maio de 2016

Esplêndido Isolamento

Warren Zevon é um dos maiores e mais admirados compositores americanos da história. Famoso nos Estados Unidos e na Europa, é pouco conhecido no Brasil. Suas letras eram um misto de ironia, perversão e observações cotidianas. Sua influência pode ser sentida nas novas gerações e na antiga também. Dylan já gravou Zevon, Springsteen é seu contemporâneo e David Letterman o adorava. Nos anos 80 abusou do álcool e das drogas, mas conseguiu ficar limpo. Em 2002 foi diagnosticado com um câncer e os médicos o informaram que ele só teria mais três meses de vida. Ele viveu um pouco mais do que isso e ainda teve tempo de gravar The Wind, álbum ganhador do Grammy. Em 7 de setembro de 2003, aos 56 anos, Zevon não resistiu e morreu, deixando canções maravilhosas como Splendid Isolation para ser analisadas. Ele estava a frente do seu tempo e essa sua canção de 1989 representa muito bem a sociedade em que vivemos hoje, repleta de Facebooks, Twitters e Tinders. Olha que isso nem existia na época. Talvez como Zygmunt Bauman, ele previa a modernidade líquida. Em Splendid Isolation, Warren narra em primeira pessoa a história de alguém que quer se desconectar com a sociedade, fugir, se isolar. Usando exemplos como Michael Jackson, Disneylândia e o Pateta, Zevon, 27 anos depois de ter gravado essa canção, nos leva a questionar esse isolamento autoimposto. Vamos vivendo cada dia mais em nossas ilhas pessoais, tentando nos distanciar e não criar novos vínculos, seja por medo da decepção, por esperarmos demais dos outros, ou pela ansiedade que nos persegue em tempos atuais. Queremos tudo pra já, nada pode ser para depois. O pensamento atual é que a vida deve ser igual  a internet e tudo tem que estar lá, na hora certa, se não outro pode passar em nossa frente. Atualizações por segundo, minuto, vivendo milhares de emoções por dia e não uma coisa de cada vez, com o tempo necessário para sentirmos novas emoções. No tempo em que o gourmet é moda, muitas vezes não paramos nem para apreciar o sabor, a mistura de temperos do nosso almoço. Claro que não é só isso. A falta de segurança e toda violência presente em nosso mundo desigual nos leva a tomar esse tipo de decisão. Mas acho que já falei demais. Confira abaixo a letra e um vídeo de Splendid Isolation, de Warren Zevon:



“Eu quero viver sozinho no deserto

Eu quero ser como Georgia O'Keefe

Quero viver no Upper East Side

E nunca sair na rua

Esplêndido isolamento

Eu não preciso de ninguém
Esplêndido isolamento
Michael Jackson na Disneylândia
Não precisa compartilhar isso com ninguém
Tranque as portas, Pateta, segure minha mão
E me guie pelo mundo do ego
Esplêndido Isolamento
Eu não preciso de ninguém
Esplêndido isolamento
Não quero acordar com ninguém ao meu lado
Não quero me enturmar com ninguém novo
Não quero ninguém me visitando sem ligar antes
Não quero ter nada a ver com você
Estou colocando alumínio nas janelas
Deitando no escuro para sonhar
Não quero ver suas faces
Não quero ouví-los gritando
Esplêndido isolamento
Eu não preciso de ninguém
Esplêndido Isolamento
Esplêndido Isolamento
Eu não preciso de ninguém
Esplêndido Isolamento”


sábado, 28 de maio de 2016

Em busca da verdadeira comida de boteco - Parte II: O Imortal

Pernis amostra na estufa do Estadão


Para muitos isso é apenas carne de porco sem graça, para outros é o verdadeiro portal do paraíso. Essa é a matéria prima do mais tradicional lanche do fim de noite de São Paulo, o famoso "pernil do Estadão". Um verdadeiro patrimônio histórico, cultural e gastronômico. Uma bomba de proteína, com os temperos certos e com a carne extremamente macia. Falam que o segredo de quase todas as coisas no universo é a simplicidade e com o lanche de pernil do Estadão não é diferente. Isso aqui, obrigatoriamente, deveria ser a última refeição de todo ser humano,Segundo os rápidos garçons do estabelecimento, são assados uma média de 120 pernis em um final de semana, ou seja, 40 por dia. Você pode nem comer carne, mas não dá pra negar a beleza que essa grande coxa de porco tem, inclusive quando está pururuca, como o da direita. Um clássico eterno e imortal de São Paulo.
A lenda em carne, sem osso e muito bem temperada


Estadão Bar & Lanches 
Viaduto Nove de Julho, 193 - Centro, São Paulo - SP
Aberto 24 horas




Em busca da verdadeira comida de boteco - Parte I

Churrasco Especial, o completão do POP


Há alguns lugares na minha provinciana cidade que valem a visita. O Pop Lanches, uma lanchonete aberta há mais de 30 anos é um deles. No meio das figuras estranhas, atípicas e com os rostos marcados pelos cansaços e desilusões da vida que frequentam o ambiente, você pode apreciar alguns dos melhores lanches que vai comer em sua existência. No período noturno, quem comanda a chapa é o Seu Manoel, conhecido por alguns como "O Mestre". E realmente ele manja das artes dos petiscos de boteco - e de cultivar um belo bigode também. O lanche da foto é o "Churrasco Especial", que além do tradicional contra, leva bacon, presunto, ovo, vinagrete, queijo e salada. Você pode arriscar também o X-Bacon com ovo e salada que não tem erro. Além disso, o Pop serve aquele tradicional "Torremão" o dia todo. E, pra completar, dá pra jogar no bicho com o Fufu, um patrimônio da casa. Vale a pena experimentar.

Pop Bar Lanches
R. Prates, 94, travessa com a Visconde de Inhaúma -  Bairro Oswaldo Cruz, São Caetano do Sul
Aberto das 7h às 0h

sexta-feira, 27 de maio de 2016

A batalha está terminada, mas a guerra continua

As ruas estavam lotadas, mas o confronto era inevitável
Prometemos que a luta seria forte, pelo menos enquanto os dias não fossem claros
Vestimos nossos uniformes negros, fizemos algumas preces e fumamos nossos cigarros
Marchamos sem destino, mas com armas apontadas contra os nossos pecados
Mas do céu surgiu a chuva para apaziguar a terra,
Homens eram atingidos, outros corriam para capela
Falavam que Deus não teria misericórdia, pois eles eram perdedores
Enquanto o sangue lavava o meio fio, galopava pra distante
E os inimigos, tão cruéis, avançavam com seus canhões fumegantes
Não íamos nos entregar tão fácil e começamos a orar
Sua imagem apareceu, senti seu perfume no ar
E sozinho fui marchando, sem medo de cair
E com meu sabre fui sangrando, vi muitos homens desistir
Quando olhei a minha volta, só havia restado a mim
A vida estava fria e foi aí que me dei conta:
A batalha está terminada, mas a guerra continua


POR GABRIEL CAETANO


quinta-feira, 26 de maio de 2016

Como uma daquelas velhas canções do Neil Young




Às vezes sentimos um frio dentro d’alma, sabe como é. Pensamos nos tempos, dias, meses, anos ou horas que perdemos por aí. Circulamos por aí, sem saber o que queremos, o que vamos encontrar. O que esperar do futuro? Uma incógnita ou alguma benção de um padre bêbado na madrugada, mais perdido do que você mesmo. Vivemos numa época difícil, dura, sem sentido. Temos voz, mas não sabemos quais palavras devemos usar. Nossa união não faz mais força alguma, pelo contrário, só causa destruição. Qual é o argumento que posso usar, o que posso te ofertar de bom de dentro de mim? Eu não sei. Quero somente poder deitar, olhar pro céu, ter uma pequena visão do paraíso. Lá deve ser igual a algumas músicas do Neil Young, com uma lua cheia onde podemos dançar. Um mundo livre. Entre a fogueira, vamos nos sentar, e vou ter a oportunidade de sentir a sua alma, ver se ela é igual a um vulcão. Pegarei minha guitarra, dedilharei algumas notas, só pra sentir o tempo passar.  Veremos cavalos loucos correndo pelos campos, enquanto Cadillacs quebrados ficam à deriva na estrada. O rock’ n’ roll não vai morrer, pelo menos enquanto os ventos na planície continuarem constantes. Será a minha oportunidade de observar o seu lindo cabelo loiro balançar. Acenderemos alguns cigarros, ficaremos fora toda semana, enquanto Marlon Brando e Pocahontas ficam conversando. Como uma vaqueira na areia, você comandará todo o lugar, afinal, sua beleza natural e seus gestos fortes bastará. Talvez haverá uma praia lá, um rio, onde sentiremos o cheiro da água doce. Mas enquanto a gente não consegue viver numa dessas canções do Neil Young, vamos continuar buscando o nosso coração de ouro.

POR GABRIEL CAETANO


sexta-feira, 20 de maio de 2016

Deus está de volta

Eric Clapton é mais do que um músico, é um alquimista místico, que sabe como ninguém que o simples pode ser mais. Amanhã chega as lojas  "I Still Do", seu novo disco. Retornando ao básico,sem as firulas tecnológicas ou eletrônicas de alguns álbuns dos anos 80 e 90, Clapton (ou aquele que já foi conhecido como "Deus") nos presenteia com canções do nível de "Spiral", cujo o clipe psicodélico fantástico, cheio de animações mostrando todas as fases do guitarrista e que só dá pra ser definido em uma palavra: Foda. Se há um deus no qual eu posso acreditar sem frescura ou perder a fé, ele é Eric Clapton, um homem cheio de defeitos, repleto de arrogância, mas que superou o alcoolismo, a morte de um filho, relacionamentos frustrados e transformou tudo isso em uma coisa boa: O Crossroads, um centro de reabilitação de dependentes químicos em Antígua, que se utiliza dos 12 passos do Alcoólicos Anônimos. Mais que "Deus", Eric é um humano e, sem dúvida, um alicerce do Blues.