Warren Zevon é um dos maiores e mais admirados compositores americanos da história. Famoso nos Estados Unidos e na Europa, é pouco conhecido no Brasil. Suas letras eram um misto de ironia, perversão e observações cotidianas. Sua influência pode ser sentida nas novas gerações e na antiga também. Dylan já gravou Zevon, Springsteen é seu contemporâneo e David Letterman o adorava. Nos anos 80 abusou do álcool e das drogas, mas conseguiu ficar limpo. Em 2002 foi diagnosticado com um câncer e os médicos o informaram que ele só teria mais três meses de vida. Ele viveu um pouco mais do que isso e ainda teve tempo de gravar The Wind, álbum ganhador do Grammy. Em 7 de setembro de 2003, aos 56 anos, Zevon não resistiu e morreu, deixando canções maravilhosas como Splendid Isolation para ser analisadas. Ele estava a frente do seu tempo e essa sua canção de 1989 representa muito bem a sociedade em que vivemos hoje, repleta de Facebooks, Twitters e Tinders. Olha que isso nem existia na época. Talvez como Zygmunt Bauman, ele previa a modernidade líquida. Em Splendid Isolation, Warren narra em primeira pessoa a história de alguém que quer se desconectar com a sociedade, fugir, se isolar. Usando exemplos como Michael Jackson, Disneylândia e o Pateta, Zevon, 27 anos depois de ter gravado essa canção, nos leva a questionar esse isolamento autoimposto. Vamos vivendo cada dia mais em nossas ilhas pessoais, tentando nos distanciar e não criar novos vínculos, seja por medo da decepção, por esperarmos demais dos outros, ou pela ansiedade que nos persegue em tempos atuais. Queremos tudo pra já, nada pode ser para depois. O pensamento atual é que a vida deve ser igual a internet e tudo tem que estar lá, na hora certa, se não outro pode passar em nossa frente. Atualizações por segundo, minuto, vivendo milhares de emoções por dia e não uma coisa de cada vez, com o tempo necessário para sentirmos novas emoções. No tempo em que o gourmet é moda, muitas vezes não paramos nem para apreciar o sabor, a mistura de temperos do nosso almoço. Claro que não é só isso. A falta de segurança e toda violência presente em nosso mundo desigual nos leva a tomar esse tipo de decisão. Mas acho que já falei demais. Confira abaixo a letra e um vídeo de Splendid Isolation, de Warren Zevon:
“Eu quero viver sozinho no deserto
Eu quero ser como Georgia O'Keefe
Quero viver no Upper East Side
E nunca sair na rua
Esplêndido isolamento
Eu não preciso de ninguém
Esplêndido isolamento
Michael Jackson na Disneylândia
Não precisa compartilhar isso com ninguém
Tranque as portas, Pateta, segure minha mão
E me guie pelo mundo do ego
Esplêndido Isolamento
Eu não preciso de ninguém
Esplêndido isolamento
Não quero acordar com ninguém ao meu lado
Não quero me enturmar com ninguém novo
Não quero ninguém me visitando sem ligar antes
Não quero ter nada a ver com você
Estou colocando alumínio nas janelas
Deitando no escuro para sonhar
Não quero ver suas faces
Não quero ouví-los gritando
Esplêndido isolamento
Eu não preciso de ninguém
Esplêndido Isolamento
Esplêndido Isolamento
Eu não preciso de ninguém
Esplêndido Isolamento”