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terça-feira, 15 de agosto de 2017

Cinema, poesia, socos e um punhado de pó - a louca história de Dennis Hopper




Dennis Hopper ainda estava incorporado com o personagem do fotojornalista de Apocalypse Now quando chegou à Alemanha. Tinha três câmeras penduradas em seu pescoço e nem se lembrava do motivo de estar lá, muito menos quem era Win Wenders, o diretor que havia feito o convite para Hopper estrelar O Amigo Americano.  Dennis não tinha decorado o texto e vivia a base de cocaína e álcool. A primeira cena rodada foi na oficina do personagem de Bruno Ganz - ator famoso por ter feito Hitler em A Queda. Sem saber suas falas, mas sabendo do que se tratava, Hopper improvisou.  Ganz, que é alemão, não entendia o que Dennis tentava dizer. Wenders resolveu gravar a cena mais uma vez. Novamente Hopper improvisou e Ganz foi ficando mais nervoso.  Em uma terceira tomada e um terceiro improviso, Bruno não aguentou. Deu um soco no meio do nariz de Hopper.  Enquanto o melado descia, Dennis revidou e os dois atores foram ao chão. Wenders paralisou a filmagem, e todos os trabalhos seriam retomados no dia seguinte. Nem Hopper ou Ganz apareceram e o diretor, num momento de desespero, cancelou as filmagens pelo segundo dia consecutivo.  No terceiro dia, Win Wenders tem uma surpresa: Dennis Hopper e Bruno Ganz chegam completamente bêbados, rindo muito e cantando. A partir daquele momento Wenders consegue rodar seu filme e Hopper toma um drink de vez em quando. Essa é uma das histórias contadas no ótimo Dennis Hopper: Por Trás da Lenda, documentário lançado no ano passado. 

Apesar do título fraquinho em português, através do depoimento de gente como Michael Madsen, o próprio Win Wenders, Julian Schnabel, Isabella Rossellini e outras figuras lendárias, temos a possibilidade de entender um dos artistas mais perturbados e visionários de sua geração. Hopper esteve presente em momentos cruciais da história americana. Fotografou Martin Luther King, Paul Newman, Andy Warhol, entre outras figuras marcantes de nosso passado recente.  Escreveu poesias, foi coadjuvante de Marlon Brando, James Dean e John Wayne. Dirigiu o grande clássico do cinema independente americano, o fantástico (e meu filme preferido) Sem Destino - o marco cinematográfico da contracultura. Ficou chapado de ácido na selva e sumiu por quatro dias enquanto filmava Apocalypse Now e foi proibido de se hospedar em todos os hotéis da Austrália.  

A vida, como Hollywood, deu uma segunda chance pra Dennis, mesmo ele insistindo em ser um porra-louca. Após ter recebido o “não” de Willen Dafoe e Richard Bright, David Lynch ofereceu a Hopper o papel de Frank Booth (foto) em Veludo Azul.  Não é necessário dizer que o cara roubou o filme. A partir das indicações que recebeu por sua interpretação, durante os 10 anos seguintes, Dennis foi o psicopata preferido da indústria cinematográfica. Fez várias merdas, como Super Mario Bros, Waterworld e Velocidade Máxima.  Nos últimos 23 anos de sua vida, resolveu ficar sóbrio. Dizem que era um saco entrevistá-lo nesse período, afinal, ele queria provar que era o easy rider de outrora.  Em 2010, Hopper morreu de uma forma triste, como mostra suas últimas imagens. Quem diria. Nem mesmo um dos últimos caras rebeldes conseguiu lutar contra um câncer na próstata, o que deixa claro a fragilidade de todos nós diante da grandeza da vida.

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