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sábado, 24 de junho de 2017

Desenganos e uma pergunta no ar

De cima do Elevado, trocando olhares
Andando lentamente, imaginando outros ares.
No frio d’alma, no calor de certos mares
Em outras camas, diversos lares
Estamos de volta a jogada, baby
Preparando a próxima bola que irá até a caçapa.

Diante do peso que temos em nossos ombros
Ou de todas as mágoas que cravam o nosso peito,
Voltamos ao velho labirinto, onde não conta o prazer,
Mas sim o respeito.

E nas estrelas diante de nós,
Numa busca incessante por paz,
Estamos aqui, no mesmo espaço,
Tentando nos encarar,
Ensaiando um novo paço.

Seus vizinhos te chamam de linda,
Mas você é mais que isso.
Quer ser reconhecida por outros caminhos,
Por outras vidas, algum novo destino.


E a terra roxa treme, como um peão prestes a parar de girar.
Surge algo no espaço, uma cor nova irá brilhar.
Mas dentro de mim tenho apenas uma pergunta:
Será que vamos nos encontrar?

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Anita



Loira, magra, alta, sexy e perigosa. Essa talvez seja uma boa descrição de Anita Pallenberg, um dos grandes ícones da beleza feminina nos anos 60. Italiana de nascença, mas com o sangue germânico fluindo nas veias, Anita participou de toda efervescência cultural daquela época. Era super-modelo antes do termo existir. Estava em Roma quando Federico Fellini filmou "A Doce Vida". Se tornou amiga de Pier Paolo Pasolini. Atuou no cult "Barbarella" e foi uma das frequentadoras assíduas da Factory de Andy Warhol. Era uma intensa conhecedora de artes. Se não bastasse isso, ela é uma das principais musas do Rock'n'Roll. Anita foi namorada de Brian Jones, o fundador dos Rolling Stones, e a primeira esposa de Keith Richards - sujeito que dispensa apresentações. 

Brian Jones tinha fama de ser um escroto com mulheres. Engravidou várias, abandonou os filhos e gostava de dar porrada nas parceiras. Isso não deu certo com Anita. Segundo Keith Richards, que presenciou algumas tentativas de agressão, ela não deixava barato. Metia o braço sem dó em Jones, que sempre aparecia com um olho roxo por aí. A relação foi desgastando e Brian cada vez mais se isolava nas drogas - ele se achava um gênio. O amigo Keith foi tentar salvar seu parceiro de banda, viu que não tinha jeito e se apaixonou pela mulher do cara, que correspondia na mesma medida. Brian logo apareceria morto em uma piscina, já Anita e Keith resolveram embarcar numa das mais loucas viagens de amor e heroína da história. 

Foi ela que inspirou Richards a escrever os primeiros versos de Gimme Shelter, talvez o maior clássico dos Stones após Satisfaction. Keith estava em seu apartamento, puto da vida e com a certeza que Mick Jagger tentava seduzir a sua mulher. Eles estavam filmando "Performance", um filme esquecível de 1969, num total clima de loucura, tensão e lisergia. O diretor Donald Cammell forçava uma atmosfera sexual entre Jagger e Anita, enquanto Keith pensava em diversas hipóteses. Foi aí que surgiu a frase “ Uma tempestade se aproxima ameaçando minha própria vida hoje”. O resto, incluindo o possível affair entre Pallenberg e Mick, virou história e até mesmo uma briga recente. Em sua autobiografia, Keith fala que Jagger pode até ter dormido com sua ex, mas como tem um pintinho pequeno, não caiu nas graças da fervorosa Anita. Tal descrição íntima rendeu um pedido de desculpas na imprensa por parte de Keith.

Anita teve três filhos com Richards, inclusive uma menina que faleceu 10 semanas após o parto. Durante e depois do casamento, foi se afundando cada vez mais na heroína. Em 77 um namorado de 17 anos se matou em sua cama. Nos anos 80 foi para clínicas de reabilitação. Na década de 90 foi estudar moda. Mas a heroína, muito além dos dentes, cobrou seu preço. Além de várias recaídas, diversos problemas no quadril forçaram o uso de uma bengala. A Hepatite C também fez parte do dia a dia, assim como o AA. Hoje Anita se foi. A bateria do seu relógio acabou. O mundo não só perdeu um de seus grandes ícones fashions, perdeu uma mulher forte, que chutou várias portas contra a caretice. Anita era a musa mais selvagem da história do Rock'n'Roll e sempre será, como uma tempestade vindo ameaçar a vida de alguém.

terça-feira, 6 de junho de 2017

O homem que queria ser rei

Tom Jones, Priscilla e Elvis Presley

Há quase 60 anos Tom Jones circula por aí, exibindo suas correntes de ouro, seu peito cabeludo e emanando sua poderosa voz. Dizem que nos velhos tempos, Tom tinha um apetite sexual voraz, mesmo sendo casado durante esses quase 60 anos que circula pelos palcos do mundo - sua companheira faleceu no ano passado. Cassandra Peterson, a exuberante Elvira - A rainha das trevas, disse que foi desvirginada por Tom. Mamie Van Doren, uma das primeiras coelhinhas da Playboy e sex-symbol dos anos 50, disse que provavelmente Jones usa meias em suas partes íntimas para dar uma camuflada. Os jornais, na época da morte de Melinda Rose Woodward,a Sra. Tom Jones, adoravam dizer que ele era um homem de muitas mulheres, mas que só amou verdadeiramente uma, mas isso não vem ao caso.


Nos últimos 30 anos Tom Jones reinventou-se. Deu uma nova roupagem a Prince, voltou a suas raízes do blues, participou de um episódio de Os Simpsons e hoje é jurado da versão britânica do The Voice. Na década de 60 o homem foi um sucesso e só por Delilah, a canção mais entoada em pub irlandês após a bebedeira, já tem seu lugar na história da música. Mas isso não bastava para Jones, que sempre teve um sonho: queria ser Elvis Presley. Nos anos 70 os dois chegaram a dividir o palco em Las Vegas e viviam se visitando nos camarins. Há uma cena no documentário Elvis é Assim onde acompanhamos Elvis rindo após receber um telegrama de Tom. Presley era o maior astro de Vegas. Estava acima de Sinatra, Dean Martin, Barbra Streisand ou qualquer outro cantor que se apresentasse no deserto de Nevada. Talvez Tom nunca tenha superado isso, mesmo hoje, sendo Cavaleiro do Império Britânico, um nobre a serviço de sua Majestade. Mesmo virando Sir, Jones continua sendo um servo da Rainha Elizabeth, enquanto Elvis é eternamente o rei de um negócio bem maior do que todo o Reino Unido e a União Europeia juntos - como nos tempos posteriores ao Brexit. Elvis representa uma coisa mais gigantesca até que o Estados Unidos e todo seu poder bélico. Elvis é o rei do Rock’ n’ Roll, o ritmo supremo. Seus discos ainda são os campeões de vendas, sua obra é ainda é o principal catálogos da história da música e seus súditos continuam nascendo dia após dia, sempre alimentando o grande sonho de visitar Graceland, a incrível mansão de Elvis, hoje o segundo museu mais visitado dos EUA, só perdendo para a Casa Branca. Mesmo com uma morte extremamente babaca, Elvis ainda é a principal referência do que é o sonho americano. Tom Jones é do País de Gales e nunca terá todo aquele rhythm and blues sulista que Elvis carregava nas veias, apesar de todo esforço e às vezes se sair muito bem.
Elvis e Priscilla nos anos 70

Uma coisa Tom Jones fez melhor que Elvis: manteve-se vivo. Em 2015 lançou o álbum “Long Lost Suitcase”, cuja a canção de trabalho tem o nome de “Elvis Presley Blues”. Tom também curou suas tristezas da viuvez e arranjou um novo amor: Priscilla Beaulieu Presley, uma jovem garotinha que Elvis encontrou em uma base aérea da Alemanha e a principal administradora de seu espólio. Eu não sei onde Elvis está, mas se ele estiver vivo ainda, deve estar dando tiros em aparelhos de TV LCDs com sua pistola banhada a ouro. Mas ele ainda é o Rei e é isso que importa.

Tom Jones e Priscilla atualmente

sexta-feira, 2 de junho de 2017

A garota do fusca branco

A garota do fusca branco
Vê um mundo diferente 
através dos aros grossos 
de seus óculos
A garota do fusca branco
não pergunta como você está
pra ela pouco importa
o negócio é deixar rolar
A garota do fusca branco
curva o corpo enquanto está no volante
e nem olha no retrovisor
tem medo de ficar presa em algum
momento distante, algo que não vale lembrar
A garota do fusca branco
tem cabelos curtos e escuros
e sente frio o ano inteiro
inclusive no doce sol de fevereiro
quando o carnaval costuma reinar
A garota do fusca branco
tem sonhos, mas pisa rápido no acelerador
não pode deixar o motor da vida afogar

Chuva Negra



Das lentes do meu Ray-Ban observo essa cidade indigesta. Gosto de ver tudo mais escuro, sentindo o ar seco e sujo adentrando entre os pelos das minhas narinas. Acho que já perdi a esperança ou talvez tenha me acostumado com fracassos, mas fico feliz quando vejo o cara babaca e gordo que tá do meu lado. Ele conta pra um colega que vai viajar com a namorada e o quanto ama ela e atende seus desejos. É um dependente e isso é triste. Talvez algum dia ele apareça numa capa de jornal, com os dentes cerrados e tendo um punhado de sangue nas mãos. “Homem mata mulher a facadas e falha na hora de se matar”, que manchete brega e barata. Esse cara é um desses, perderia tudo dizendo que foi por amor. Só posso respirar aliviado, não pertenço a essa espécie, acho que parei de acreditar no amor. Mas um dia ele pode me atingir como um raio bem no meio da testa e aí vou me foder. Nunca sabemos quando tempestades como essas vão cair. Mas não faz meu estilo. Tô muito tempo andando nos trilhos, brincando com a sorte e arriscando baixo. Nem sou muito fã de baralho. Tenho alguns lugares pra me agarrar, algumas camas pra passar uma noite sem sono. Não sou um solitário como pensam por aí - nem tão durão. Só não gosto de me molhar na chuva e pelo rumo das coisas, a chuva será mais escura daqui por diante. Tempos difíceis estão perpetuando. É bom não esquecer do guarda-chuva. Sem ele fica impossível de se acender um cigarro e pelo céu nublado, vem uma chuva negra por aí.