Das lentes do meu Ray-Ban observo essa cidade indigesta. Gosto de ver tudo mais escuro, sentindo o ar seco e sujo adentrando entre os pelos das minhas narinas. Acho que já perdi a esperança ou talvez tenha me acostumado com fracassos, mas fico feliz quando vejo o cara babaca e gordo que tá do meu lado. Ele conta pra um colega que vai viajar com a namorada e o quanto ama ela e atende seus desejos. É um dependente e isso é triste. Talvez algum dia ele apareça numa capa de jornal, com os dentes cerrados e tendo um punhado de sangue nas mãos. “Homem mata mulher a facadas e falha na hora de se matar”, que manchete brega e barata. Esse cara é um desses, perderia tudo dizendo que foi por amor. Só posso respirar aliviado, não pertenço a essa espécie, acho que parei de acreditar no amor. Mas um dia ele pode me atingir como um raio bem no meio da testa e aí vou me foder. Nunca sabemos quando tempestades como essas vão cair. Mas não faz meu estilo. Tô muito tempo andando nos trilhos, brincando com a sorte e arriscando baixo. Nem sou muito fã de baralho. Tenho alguns lugares pra me agarrar, algumas camas pra passar uma noite sem sono. Não sou um solitário como pensam por aí - nem tão durão. Só não gosto de me molhar na chuva e pelo rumo das coisas, a chuva será mais escura daqui por diante. Tempos difíceis estão perpetuando. É bom não esquecer do guarda-chuva. Sem ele fica impossível de se acender um cigarro e pelo céu nublado, vem uma chuva negra por aí.
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