Francisco ou Jonathan Pryce? |
Habemus papam: na última quarta-feira, 13 de março, o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos foi escolhido como o 266º Papa, o sumo pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana. Mal foi eleito e Bergolglio, que adotou o nome de Francisco em homenagem a São Franciso de Assis, já é alvo de controvérsias. Envolvido em dois processos judiciais, o primeiro envolvendo o sequestro de dois jesuítas em 1976, sendo que uma das vítimas o acusa de ter sido o alcaguete. O segundo envolve sua omissão no sequestro de bebês por militares da alta cúpula, nos tempos da ditadura militar da Argentina (1976 - 1983). Quando líder dos jesuítas argentinos, no mesmo período do regime ditatorial, teria dito aos seus colegas de batina para não se envolverem no ativismo político, mas sim, se dedicarem apenas ao trabalho paroquial. Além disso foi contra a legalização do casamento gay, fato que ocorreu no país em 2010. Polêmicas a parte, mesmo sendo o primeiro jesuíta e latino-americano a assumir o posto máximo do catolicismo e de histórico humilde, mas sem perfil progressista, ainda é muito cedo para conclusões, mesmo a Igreja Católica precisando urgentemente de reformas.
A instituição da Igreja já passou por males súbitos, inclusive de maiores gravidades do que ocorre hoje. Um dos casos mais conhecidos ocorreu no papado de Rodrigo Borgia, acusado por muitos cardeais da época de extrema corrupção e até mesmo de realizar orgias na antiga Roma. Mas voltando ao século XX, desde a morte do hoje Beato João XXIII (foto), talvez o último sacerdote a adotar uma postura mais progressista através da convocação do Concílio Vaticano II, em 1962, uma reflexão da Igreja Católica pela própria Igreja e uma tentativa de adequá-la aos tempos contemporâneos, transformando-a em uma entidade mais democrática e aberta ao povo. Infelizmente, durante as reuniões, João XXIII faleceu, vítima de um câncer no estômago. Seu sucessor, Paulo VI, aprovou muitas das políticas de renovação do Concílio e manteve aberto o diálogo com outras religiões, mas nas mais radicais acabou recuando, mantendo o poder da Igreja centralizado entre cardeais, bispos e tendo uma postura conservadora, principalmente nas questões sexuais, algo seguido por todos os seus sucessores.
Um rosto sem sorriso
Capa do Jornal do Brasil anunciando a morte de João Paulo I. Pelo título dá para perceber que ainda não hávia teoria da conspiração |
Após a morte de Paulo VI, Albino Luciani é escolhido como seu sucessor e adota o nome de João Paulo I, mais conhecido pelos fiéis como o 'Papa Sorriso'. De origem pobre e com raízes socialistas, fica a frente da Igreja apenas 33 dias, pois em 28 de setembro de 1978, é encontrado morto, possivelmente por uma freira, que após sua morte jurou voto de silêncio. A versão oficial do Vaticano seria que um dos padres que compunham seu secretariado o teria encontrado já falecido, vítima de enfarte do miocárdio. Na época, o Vaticano alegou que devido as leis canônicas, uma autópsia não poderia ser realizada.
Muitos estudiosos do caso, afirmam que na verdade, Luciani sofreu uma embolia pulmonar, mas segundo algumas teorias da conspiração, João Paulo I teria sido presa de um assassinato rigorosamente premeditado. No livro 'Em Nome de Deus - Uma investigação do assassinato do papa João Paulo I', o escritor inglês David Yallop sugere que o 'Papa Sorriso' teria sido eleito por cardeais conservadores como um mero 'laranja'. Mas ao contrário do que estes esperavam, Luciani mostrou um imenso carisma e estava disposto a mudar a igreja internamente e exonerar grande parte da cúpula que cuidava do Banco do Vaticano, que supostamente teria ligações com a Cosa Nostra, maçonaria e também era ligado ao banco privado católico 'Ambrosiano Veneto', cuja a diretoria estava altamente envolvida em operações ilegais. Alguns outros autores citam que até o antigo serviço secreto russo, a KGB, estaria envolvido no fato. No livro feito por encomenda do Vaticano, 'O Ladrão da Noite', o ex-seminarista John Cornwel cita que o alto poder da entidade sabia que Albiani sofria de embolia pulmonar e que este necessitava de tratamento, mas pouco fizeram. Cornwel ainda cita que se João Paulo I tivesse sido devidamente medicado, haveriam poucas chances de morte. Mario Puzo e Francis Ford Copolla romancearam o fato em 'O Poderoso Chefão III', apenas mudando o nome das maiorias das instituições e transformando Luciani em um Cardeal chamado Lamberto.
Em outubro de 1978, o conclave escolhe o Cardeal polonês Karol Józef Wojtyła como o novo Papa (o primeiro não italiano em 455 anos) e o mesmo homenageia o seu antecessor, assumindo a alcunha de João Paulo II. O papado de Wojtyla (foto) é marcado por seu forte carisma, de postura inflexível, ortodoxa e forte luta contra o comunismo diante do mundo. João Paulo II foi um forte crítico a ligação de religiosos ao marxismo, principalmente da 'Teologia da Libertação', doutrina que se espalhou na América Latina durante os anos 60 e que pregava a aproximação dos conceitos de Marx aos ensinamentos cristãos e com forte apelo as classes oprimidas pelo capitalismo e anos depois por ditaduras militares. João Paulo II parecia ter medo de que a América Latina se tornasse uma nova União Soviética. Wojtyla, juntamente com o Cardeal Joseph Aloisius Ratzinger, o futuro Bento XVI, chegou a perseguir, descomungar e impor voto de silêncio a sacerdotes ligados a corrente, como o teólogo brasileiro Leonardo Boff. Nesse meio tempo, o que se torna popular na América do Sul, especialmente no Brasil, é a Renovação Carismática, movimento de origem norte-americana, inspirado nas pregações protestantes e desenvolvido a partir dos anos 60 no mundo. Além disso é criticado por seu suposto acobertamento de casos de pedofilia, apoio a complexa Opus Dei , visões conservadoras diante dos métodos anticoncepcionais, mesmo em caso de doenças sexualmente transmissíveis e diante da homossexualidade.
A renuncia
Bento XVI: pouca ação contra a corrupção e pedofilia |
Em 2005, após a morte de João Paulo II, o alemão Joseph Ratzinger (foto), braço direito de Wojtyla, foi eleito papa e adotou o nome de Bento XVI. Extremamento ortodoxo e não muito carismático, Ratzinger não suportou as pressões do cargo e o renunciou no ínicio deste ano. Bento XVI, como o seu antecessor, f acobertou diversos casos de pedofilia e nunca teve uma postura clara sobre esses acontecimentos. O mínimo que grande parte da população (católica ou não) esperava, é que os envolvidos em casos como esses fossem punidos rigorosamente, coisa que Ratzinger nunca fez. No documentário de 2011, 'Abused: Breaking The Silence', uma produção da BBC, mostra um grupo de ex- estudantes de colégios católicos da Inglaterra e Tanzânia, que sofreram abusos por parte de dois sacerdotes católicos. Um deles, o padre Kit Cunningham, chegou a receber das mãos da Rainha Elizabeth II, a Ordem do Império Britânico, devolvida antes de os escândalos virem a público (fato que só ocorreu após a sua morte em 2010). Em 'Abused' é mostrado que Bento XVI não estava muito interessado a mexer nesse 'vespeiro'. Talvez um dos poucos aspectos positivos de Bento XVI foi adentrar ao mundo virtual no final de 2012 através de uma conta no microblog 'Twitter". Agora Bispo Emérito de Roma, promete ficar afastado das definições do futuro do catolicismo.
Com a eleição de Francisco I, a Igreja Católica mostra que está disposta a se reformar. Parafraseando o ditador brasileiro Ernesto Geisel, parece que está transformação será de maneira lenta, gradual e segura. Fica em aberto a expectativa de que o novo papa se volte a políticas sociais e seja mais rigoroso diante dos escândalos sexuais e financeiros que cercam a igreja mais poderosa do mundo. Quem sabe São Francisco de Assis não dê uma luz para o agora seu xará e o faça transformar todo o ouro e riqueza obtido pela Igreja Católica em cestas-básicas para os milhões de famintos que habitam este mundo enorme. Para os fiéis, o negócio é rezar muito e ter fé que Jorge Mario Bergoglio saberá usar 'as sandálias do pescador'.
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