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sábado, 5 de janeiro de 2013

Assassinos por Natureza (ou O Lado Negro da Força)



Spielberg, Harrison Ford e Lucas durante as filmagens de "Indiana Jones 3"

Steven Spielberg provavelmente ganhará mais um Oscar esse ano. O consagrado diretor está lançando a cinebiografia definitiva de Abraham Lincoln e que até agora só possui resenhas positivas. O seu grande amigo e parceiro, George Lucas, também foi notícia por conta da venda de sua produtora, a Lucasfilm, para a Disney.  Da união entre os dois surgiram à franquia Indiana Jones, o que rendeu uma boa grana para ambos. Mas por que Spielberg e Lucas assassinaram o cinema? A resposta para isso é simples. Eles, juntos ou separados, transformaram a sétima arte em uma verdadeira máquina de efeitos especiais, onde o roteiro, na maioria das vezes, não se sobressai ao uso excessivo da computação gráfica.

Spielberg e seu perigoso "Tubarão"


O crime começa em 1975, com Spielberg lançando “Tubarão”, um imenso sucesso, o primeiro “blockbuster” da história. É um ótimo filme, um clássico, com um elenco afinado e uma história bem escrita, mas pela primeira vez no cinema o efeito se torna mais importante que o roteiro ou os atores. Dois anos depois, um jovenzinho George Lucas, que já tinha tentando explorar o meio da ficção científica com “THX 1138” e realizado o simples e inesquecível “Loucuras de Verão”, lança sua aventura capa e espada (ou sabre de luz) intergaláctica “Guerra nas Estrelas”, o maior sucesso de 1977. Vale lembrar que os dois não são os únicos réus e o assassinato do cinema se trata de um crime coletivo. Um ano antes de “Tubarão”, o produtor Irwin Allen realizou a megalomaníaca produção “Inferno na Torre”, que junto de “Banzé no Oeste”, uma sátira barata de faroeste dirigida por Mel Brooks, foi a maior bilheteria de 1974.  Era o início do fim para grandes roteiros que possuíam boas estórias como o de “Golpe de Mestre”, “Butch Cassidy” ou “A Primeira Noite de Um Homem”, todos campeões de venda de ingressos em seus anos de lançamento.

Mark Hamill, Lucas e Harrison Ford nos bastidores de "Guerra nas Estrelas"

Steven Spielberg fracassou ao lançar “1941”, uma comédia sobre a Segunda Guerra Mundial, mas anos antes dirigiu “Contatos imediatos de 3º Grau”, outro estrondoso sucesso. George Lucas deixou de dirigir e apenas produziu “O Império Contra – Ataca”, continuação de “Guerra nas Estrelas”. Agora os dois tinham o poder supremo em Hollywood e poderiam fazer o que quisessem. Na década de 80 se uniram e inspirados em James Bond, inventaram o arqueólogo aventureiro Indiana Jones, interpretado por Harrison Ford e que deu um toque de classe ao cinema de ação da época. Realmente “Os Caçadores da Arca Perdida” é uma das melhores aventuras já produzida e tenho que tirar o meu chapéu para os dois. Em 1984, Spielberg decide se levar a sério e realiza “A Cor Púrpura”, um drama inesquecível sobre os negros pós-escravidão nos EUA e produz “De Volta Para O Futuro”. Já Lucas, ao contrário de seu amigo, produz “Howard, O Super-Herói”, baseado nos quadrinhos de Steve Gerber e sem dúvida nenhuma um dos filmes mais idiotas de todos os tempos. O restante da década foi de sucessos e fracassos para ambos, mas sempre matando um pouquinho do cinema.

Em 1993, Steven Spielberg realiza o seu melhor filme, o grandioso “A Lista de Schindler” e ganha o seu primeiro Oscar como melhor diretor. O segundo viria com “O Resgate do Soldado Ryan”, em 1998. Ao mesmo tempo em que fazia “Schindler”, dirigiu por telefone (é o que algumas pessoas dizem) “Parque dos Dinossauros”. Enquanto isso George Lucas ganhava muito dinheiro através da Lucasfilm, sua fábrica de sonhos que realizou os efeitos especiais de diversos filmes.  Na década seguinte voltaria a dirigir os três novos (e péssimos) episódios de “Guerra nas Estrelas”. Spielberg curiosamente ficaria no meio termo, realizando ao mesmo tempo bons filmes como “Prenda-me se for capaz” e “O Terminal” e ruindades como “Minority Report” e “Guerra dos Mundos” (nunca foi tão gostoso ler ao invés de ir ao cinema). Os dois ainda se reuniriam para realizar “Indiana Jones 4”.

Michael Bay é um dos súditos de Spielberg e Lucas

O resto da história acho que a maioria de vocês sabem. Vieram filmes como “Tintim” e o fraco “Cavalo de Guerra”. Mas no fim o grande problema não é a obra de Spielberg ou Lucas, que ao mesmo tempo em que faziam “blockbusters”, resgatavam gênios como Akira Kurosawa do limbo. O grande problema é a semente que eles plantaram e que diretores medíocres como Michael Bay colheram, tornando esta colheita algo maldito e que transformou o cinema em um mundo de ETs, transformers imbecis, explosões no núcleo da Terra, missões impossíveis, além de outras coisas que prefiro não lembrar. Por conta disso, filmes que possuem roteiros simplistas e boas histórias vão ficando cada vez mais restritos a um público que ao passar dos dias vai ficando menor. A experiência de ir ao cinema e sair de lá impactado, pensando no mundo em que vivemos ou fantasiando com algo impossível está sendo vencida por banhos de sangue e entretenimento barato de péssima qualidade que a indústria cinematográfica mundial nos enfia goela abaixo. Não há mais espaço para pensar, então a velha formula idiota é oferecida para o grande público, que mais idiota ainda, acaba a aceitando e concordando em ser estuprado mentalmente a cada ida ao cinema. A culpa disso? Sem dúvida nenhuma é de Steven Spielberg e George Lucas, dois indivíduos perigosos e que geralmente andam juntos de seus fiéis fanáticos como Michael Bay, Simon West, JJ Abrams e companhia. Então muito cuidado, pois eles estão por aí para atacar seu cérebro e te levar para o  lado negro da força em qualquer cinema na esquina de sua casa.

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