Pesquisar em Antropoide News

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Em movimento

 Glenn Hughes tem 62 anos, mas no palco e pessoalmente aparenta meros 50. O cara já passou por fases ruins, principalmente nos anos 80, quando se arrebentou por conta da cocaína - assunto que ele trata com naturalidade e até inspiração em canções. "Come Taste The Band", disco de sua época como baixista e vocalista do Deep Purple, está na minha lista dos cinco melhores álbuns de todos os tempos. Adoro o swing e a pegada funk dessa formação, que incluía Tommy Bolin na guitarra. Em agosto decidi levar minha edição do disco para ganhar um autógrafo, uma foto, algo do tipo. Já cansei de falar que detesto bajular artista, mas Hughes, além de ser um pioneiro na maneira de misturar o funk com rock'n'roll, é uma das maiores vozes desse planeta, além de ser o único cara das antigas que mantém a mesma voz, talvez até melhor. 

Cheguei nas dependências do Carioca Club, local da apresentação, antes das 14h e ainda tive que enfrentar os "revolucionários da CBF" no metrô. No meio da primeira cerveja, uma van chega e eu e meu companheiro de show, o grande Jorge, o Júnior, corremos de copo e tudo atrás. Era o baterista suíço (ou seria sueco?) do cara chegando. Já havia uns dois gatos pingados na porta e resolvemos ficar por lá. Descobrimos o hotel onde Glenn está hospedado e, por alguns minutos, pensamos ir lá, mas desistimos. Ele ia ter que passar na entrada dos músicos. Cerca de uma hora depois, outra van para e o titio Hughes desce, não dando nem tempo para preparar a câmera do celular. Consegui ser o primeiro cara a falar com ele, até mesmo quase tocá-lo, quando ofereci meu disco e uma caneta para o autógrafo. Bem nessa hora, um sujeito da organização da casa nos afastou e acelerou Glenn. Perdi a minha oportunidade, mas não me dei por vencido e continuei lá na porta. O batera saiu pra fumar duas vezes e trocou algumas ideias comigo e outros três fãs. Resolvi não tirar uma foto com o cara, já que nunca tinha o visto - logo me arrependeria da decisão. Aguardei mais um tempo, vi a coleção de discos de alguns fãs, conversei sobre outros shows e de quebra ouvi a passagem de som. Ia rolar um encontro pago e o roadie de Glenn Hughes era quem buscava esses caras, cerca de seis. Tentei dar uma migué, quase funcionou, mas não consegui entrar. Resolvi tomar umas cervejas e comer algo, além de ver a última rodada do Brasileiro. Volto pra fila e descubro que Doug Aldrich saiu pra tomar um ar e tirou algumas fotos com os fãs. Apesar de ele ter tocado com lendas como Ronnie James Dio e David Coverdale, seu estilo de tocar nunca me agradou e eu já tinha cumprimentado o cara em sua chegada ao Carioca. Entro no local do show, já pego um lugarzinho perto do palco e eu e Jorge começamos conversar com pai, mãe e filho que estavam vendo o show. Vinham de Pirituba e tinham verdadeiro amor ao rock'n'roll. O show começa pontualmente ás 20h30 e Glenn, com seus 62 anos, é um verdadeiro menino, se movimento e rasgando o verbo em Stormbringer. Uma energia emana do palco e vi tiozões barbados hipnotizados com a perfeição vocal de Hughes. Mais algumas músicas e vem Sail Away, presente no clássico"Burn". A casa vai abaixo, canta junto e se emociona, talvez pela letra poética ou até mesmo por sua rara execução ao vivo. Depois disso, nem precisava haver mais show, o preço do ingresso já tinha sido bem pago. Outros clássicos como Mistreated e Burn vieram na sequência, mas já não eram necessários.

 Com duas horas exatas de show, Glenn Hughes mostrou o motivo de ser reverenciado por músicos de todas as gerações. Sua energia, carisma e respeito pelos fãs é enorme. Após esse grande espetáculo, ainda dei um pulo no hotel para tentar descolar o meu autógrafo. Esperei por um bom tempo, mas o relógio já marcava 23h30 e, apesar de não morar no Jaçanã, se eu perdesse o próximo trem, só amanhã de manhã. No fim, trouxe meu disco sem o autógrafo, mas vi um show inesquecível e conheci gente bacana. O autógrafo? Deixa pra próxima, porque no fim, ganhei mais uma história pra contar e, como ele diz em uma canção, o importante é continuar se movimentando, ainda mais após uma aula de vitalidade e Rock'n'Roll. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário