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terça-feira, 28 de junho de 2016

Obrigado por tudo, Mestre Scotty

O dia de hoje poderia ter sido perfeito, se não fosse a triste notícia que acabei de ler. Scotty Moore, um dos homens responsáveis por definir o som da guitarra rock'n'roll morreu hoje. Scotty, dependendo da versão da história, é o homem que criou o rock'n'roll juntamente com Elvis e Bill Black nos estúdios da Sun Records, em Memphis. Moore, assim como Chuck Berry, inspirou gerações de jovens a tomar coragem pra começarem arranhar uma guitarra. Pergunte a Keith Richards, Clapton, Robbie Robertson ou ao "mutante" Sérgio Dias qual foi a sensação ao ouvirem a guitarra desse cara. Tudo começou por conta do som que eles criaram em 54. Alguns segredos do modo de tocar de Scotty até hoje são mistérios. Scotty Moore, além de genial guitarrista, foi o primeiro empresário de Elvis. Nenhum texto ou crônica inscrita, por quem quer que seja, fará justiça ao legado desse cara. Mais um herói que se vai. Uma pena que eles não sejam imortais, como todos os acordes que deixam. Obrigado pelo meu rock'n'roll de todos os dias, Scotty!

sábado, 25 de junho de 2016

Reflexões na fria tarde de sábado

Um punhado de pensamentos soltos invadem minha cabeça.
Na verdade, acho que só quero que você apareça.
Há uma necessidade muito grande na minha alma em te ver novamente.
Estranho isso, já que nem nos conhecemos bem.
Algo nesses olhos verdes de gato, nariz torto e dentes amarelados pelo cigarro mexeu comigo.
Sinto de longe que sua cabeça é perdida, igual a minha, e acho que é o que me fascina. 
Olho no relógio, vejo que a noite já vem e o frio vai ser forte.
Nenhum sinal seu, nenhuma mensagem ou algum maldito telefonema.
Muitas companhias femininas me chamam pra sair, mas simplesmente não consigo ir em frente.
Já tentei uma, duas vezes, mas fico imaginando o seu corpo e isso é realmente um problema,
Insisti também e é incrível, afinal, detesto isso.
A insistência é uma arma dos fracos e chatos, daqueles que não conseguem o que querem.
Mas nem sempre conseguimos o que queremos, muito menos o que precisamos.
Nesse momento o que eu preciso é de um abraço, um carinho, daqueles do tipo que a águia dá aos seus filhotes no ninho.
E é gozado, sempre fui feliz em ser um solitário convicto, mas agora me sinto tão sozinho.
Sinto um vazio que gela meus ossos e não estou nos meus melhores dias.
Precisava cantar algo no seu ouvido, te dizer bobeiras, falar que a vida pode ser boa.
Fico aqui nesse instante sobre um fio, onde não sei se mantenho a esperança ou desisto.
Minha conta tá no vermelho no banco, mas, se pudesse, pegaria toda a minha grana e traria aquela noite fria de um sábado de outono de volta.
Nunca mais consegui ser o mesmo e olha que eu tento.
Os amigos dizem que estou derrubado, eu olho no espelho e vejo como estou fraco.
Às vezes me sinto até desesperado.
Minha saúde não anda bem e uma porrada de resfriados me derrubou na cama.
Não estou no inferno astral, mas talvez seja um inferno carnal.
Um pagamento de dívidas dos passados, de alguma vez onde fiz tudo errado,
E nesse triste e chato final de tarde de sábado, tudo que eu peço é pra estar do seu lado.
Talvez algum pombo correio sujo te leve esse meu recado, mas agora vou ascender o meu último cigarro.

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Capa de revista

Todo cara já saciou seu desejo folheando algumas páginas 
De revistas com mulheres nuas.
Daquelas que o poster enfeita o local de trabalho do borracheiro.
Podia ser no banheiro, no escuro do quarto, na cadeira de barbeiro.
Quantas maçãs não foram apreciadas.
Os movimentos do quadril de uma loira sarada.
Coisa masculina, besta, fetichista.
Do sado ao tímido “papai e mamãe”, você quis aquela mulher.
Sonhou com aquelas curvas à la Copam do velho e sábio Niemeyer.
Imaginou várias e várias vezes estar entre aquelas pernas longas,
Querendo chegar próximo aos rins.
“Eu já tirei a sua roupa, nesses pensamentos meus”,
Já dizia aquele antigo mestre e cafajeste poeta popular.
Quantas fantasias, em todos os lugares, camas de motéis, piscinas com água aquecida,
No banco sujo daquele carro japonês. 
Te homenageava, da minha forma mais pacata, coisa particular. 
Não que existisse algo no coração, mas com 11, 12 anos, bem, você descobre o tesão. 
E que tremenda emoção.
Chegava da escola e ia correndo procurar aquela revista com coelhinhas,
Podia ser noite ou dia, era o tipo de coisa que me fazia pensar melhor nas aulas de filosofia.
E veja você como o mundo é um lugar engraçado.
Hoje, entre as prateleiras do mercado,avistei uma daquelas eternas musas.
O corpo não era o mesmo, o rosto muito menos, mas continuava uma mulher linda.
Um pouco tímida, com cara de professora do ginásio, para os mais novos,
Jamais seria reconhecida como a tele-moça daquele horrendo programa dominical. 
E quantas tardes de domingo não dediquei a você, lá, no início da puberdade. 
 “Velhos tempos, velhos dias.”
Lembro também daquele clipe de sucesso, rock’n’roll ruim, mas que eu parava pra assistir,
Afinal, você era proibida pra mim e pra toda a rapaziada. 
E hoje, ao te cruzar timidamente na fila do caixa, como em um seriado americano babaca,
Tudo que eu queria fazer era me ajoelhar aos seus pés, olhar nos seus olhos e dizer:
“- Como te amei com as mãos, apenas com as mãos!”


quinta-feira, 23 de junho de 2016

Orgânico e necessário (o que alimenta a vida)

Não são os pontos do futebol que alimentam o meu dia. Primeira, segunda, última colocação, sinceramente, não importam pra mim. O que mata minha fome, de verdade, são o vento, algumas palavras presas ao céu, o sol quente na manhã gelada - pelo menos em um lado da calçada. Ver pessoas sorrindo, apesar do esbarrão pra entrar no trem, ou o velho senhor, já quase sem dentes, vendendo balas de hortelã  pra ganhar algum vintém. O escuro também é bom, repleto do silêncio, oportunidade pra transbordar os pensamentos e os suspiros das nossas almas cansadas. Buscamos leveza, precisamos da leveza, queremos a leveza. Seja dos nossos espíritos nada cristalinos, dos corpos jogados pela cama ou num porre no botequim da esquina, junto com a rapaziada querida. Coisa cotidiana, comum, banal, mas que enche nosso coração com a momentânea alegria. Uma partida de bilhar, só pelo lazer, por algumas risadas. O livro de bolso do autor favorito falando sobre a guerra, pontes ou estradas. Um café puro com coxinha pra escutar a tiração de sarro dos balconistas da padaria - todos, sem exceção, gente fina. Às vezes o muito é desnecessário e basta uma caminhada no parque, através da tentativa de respirar um pouco do que nos resta de oxigênio puro, pra frutificar o coração. Escutar o disco que lembra aquela menina que você conheceu naquele dia onde se sentia tão só. Poder fazer isso durante o maçante trabalho é melhor ainda. Se perder pela cidade, num dia sem hora definida, e poder olhar por outro panorama os arranha-ceús, viadutos, igrejas e jardins. Sentar em uma poltrona larga de cinema, pra sair da sala e refletir na vida após aquele filme meio cabeça. Ligar pro tio, pro vô, pra tia, só pra perguntar ou contar como foi seu dia. Como é boa a sensação de correr pra pegar o último trem, apesar da tristeza de deixar a amada outra vez. Mas logo vem a saudade, uma conversinha no WhatsApp, ou, quem sabe, um telefonema, pra sentir realmente a intimidade. Às horas só são pontos em algum lugar do universo e, pra evitar o tédio, alimente-se o dia inteiro daquilo que você nem sabe o que é. Descubra o novo, explore o que aparecer. Pode e deve errar também. Tudo nos fortalece, basta um pouco de garra, nem precisa ter vontade de vencer. Apenas alimente-se bem, organicamente, com aquilo que lhe convém, e, como diria o velho clichê das ruas, sem fazer mal a ninguém. 

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Lamento do Marginal Bem Sucedido




Baby, enquanto um velho mestre de blues radioativas nas ondas sonoras do carro,
Tome um fósforo e, ao gosto dos anjos, acenda o último cigarro – que aquele bêbado lhe deu.
E blues lamente comigo os tempos cínicos e cruéis para o caubói delicado que você diz que sou eu.
Ah! Você lembra? Naquele tempo, quem não queria tomar o poder e que mãe não tomava comprimidos pra dormir?
“É proibido proibir!”
Ora, ora o poder, humilhação e violência! Vocês querem bacalhau?
Ao vencedor, as batatas, o troféu abacaxi.
E por falar em política, os meninos de rua já sentem na pele, a verdade nua e crua do que nos aconteceu.
Marginal bem sucedido e amante da anarquia, eu não sou renegado sem causa,
Oh, não!
E uma dose de amor - esse artigo sempre em falta - cairia muito bem em mim
- Melhor que a droga do gim
Lançado em meu cartaz de procurado, de vira-lata de mercado, com a pata esmagada por um trem.
Ah, e fique aqui, só entre nós dois, este papo amarelo de dor, que rima com conversa mole de amor.
Você sabe, eu prefiro a inocência do sexo e a graça da paixão - depois do amor, o tédio e a solidão!
Quem diria?
Ontem à noite na cama me senti arrasado com você me chamando  idiota, bandido, um canalha, indecente, transviado, machão!
Ah, enquanto estas senhoras e estes senhores viram o jogo contra nós e põem o mundo a seu favor - que horror!
Conversação de marginais sobre a terra devastada, em meio a nossa guerra civil - Desde Cabral o Brasil é Brasil.
Guardo-lhe, como um presente, o meu modo masculino, raro e fino de trovador eletrônico, ciberneticamente a mil.
Baby, tudo vai dar pé, você sabe e eu também sei qual é o problema.
Mas, pelo sim, pelo não, me dê a sua mão, igual a seu coração,
E, num amasso apertado, um beijo molhado e escandalizado, daqueles de cinema.
Baby, tudo vai dar pé, você sabe e eu também sei qual é o problema.
Mas, pelo sim, pelo não, me de a sua mão, igual a seu coração - All we need is love!
E num amasso apertado, da cor do Pecado, um beijo molhado, daqueles de cinema.

(Poesia e música do grande Belchior, um mestre na maneira de trabalhar com palavras. Tentei transcrever a letra da maneira correta. Na maioria dos sites a transcrição está errada.)

terça-feira, 21 de junho de 2016

Coisas pra fazer

Muitas coisas pra fazer, coisas que eu nem sei o que são.
Não assisti a todos os filmes de Fellini, Bergman ou Antonioni.
Nem li os livros de Burroughs, Hemingway ou Fante.
Nunca lutei boxe em um ringue por dinheiro.
Muito menos empunhei minha guitarra por promessas de ano novo em janeiro.
Tive medo da psicologia junguiana descobrir que meus sonhos são apenas pó.
Tenho medo que desse pó algum pesadelo surja para encher minha vida de loucura e dor.
Preciso de mais Foucault, Sartre, Nietzsche e Camus em noites de dúvida, sexo ou amor.
Preciso sair da discussão besta  partidária e ir as ruas fazer a verdadeira política.
Quero noites quentes de verão em junho, quando o hemisfério sul congela no mais impiedoso inverno e assim, nu, poder experimentar do seu sexo.
Anseio por menos dores de cabeça, mais alegria, menos tristeza, por qualquer beleza.
Se eu pudesse, seria como Leonard Cohen cantou naquela canção e estaria aqui, pra ser seu homem.
Quando a lua cheia aparece, geralmente não tenho ninguém em meus braços e por isso a detesto.
Mas talvez, com tantas coisas ainda pra fazer, como viajar o mundo a pé e sem nenhum  centavo, uma hora dessas a lua pode ser caridosa comigo.
Pode me trazer o seu suave perfume, um pequeno pedaço de todo o seu sex-appeal.
E como dois velhos bêbados, a espera de não sei o que, nos cruzaremos a cidade.
Assim vamos descobrir mais coisas novas pra encher nossas vidas de alegria, prazer e felicidade, por mais insonsa que ela seja.
Mas enquanto isso é apenas pó, vou anotando no meu caderno em uma lista idiota tudo o que eu quero fazer e não fiz nem sei por que.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Uma Deusa na minha porta

Há uma Deusa na minha porta.
Ela acaba de dançar no corredor.
Ela não tá nua, mas me parece completamente sexy
E agora olha diretamente em meus olhos.
Nos meus pensamentos, eu que sempre fui tão sozinho e vivi o dia de hoje loucamente,
vislumbro o futuro.
Há uma coisa animal, de pele, de cheiro.
Não sei explicar, um tesão apenas no olhar.
Como eu gostaria de estar nos braços da Deusa da minha porta.
Sentindo seus lábios vermelhos, nem tão carnudos assim, mas sensuais.
Sensuais como a velha pin-up daquela revista masculina da borracharia.
Queria pegar na sua mão, com diversas cicatrizes de ex-amores,
Escutar seu coração, observar sua alma e descobrir quais os seus pavores.
Qual é o medo da Deusa na minha porta?
Talvez seja o medo de amar, da entrega, coisa comum em quem já tá cansado da busca e da loucura.
Relações são como a navalha do barbeiro que faz a minha barba.
Sempre há uma lamina no meio, algo cortante, mistérios do coração.
Talvez a Deusa na minha porta tenha o medo de correr riscos.
Logo ela, que já viajou o mundo, deixando seus cabelos louros ao sol.
Sentiu a brisa da estrada, sem pudor algum, com um cigarro aceso no canto da boca.
Filtro branco, pra parecer um pouco comum.
A Deusa na minha porta talvez saia a noite pra brincar de gata.
Dorme 38 horas e na madrugada percorre becos, esquinas, em busca de sei lá o quê.
Melhor não saber.
A Deusa na minha porta não me deixa dormir.
Estou insone há vários dias, e a Deusa continua ali, me causando prazer e agonia.
Fico com vontade de me apaixonar, de empurrá-la na parede e fazer amor.
Mas algo me bloqueia.
Será que é a minha cabeça, já tão degastada por conta dos desperdícios do meio do caminho?
O que eu posso fazer com a Deusa que permanece lá, na minha porta?
Convido ela pra alguns dos meus sonhos mais loucos, aqueles que me transportam para terras mais selvagens que Sodoma e Gomorra, sem pudor algum?
Mas preciso dormir, descansar, levitar, relaxar, sei lá.
Quem sabe assim a Deusa não fica lá, parada lindamente, sensualmente, brasileiramente,  na minha porta.
Mas prefiro que ela venha dormir comigo, pra me seduzir, me acalmar, me levar ao passado através de um beijo, daqueles tipo Gable and Lombard.
Enquanto ela não vem, fumo alguns dos meus cigarros e tento fazer rimas.
Rimas essas, que podem nem ser tão originais assim, clichês desses tempos nossos, mas inspiradas por todo o amor que eu sinto pela Deusa que fica na minha porta.

sábado, 18 de junho de 2016

Dose certa

Já faz um tempo que não bebo.
Um mês.
Não sinto falta.
Não acho que parei de uma vez.
Não há excesso, nem bebedeiras.
Não foram as ressacas que me levaram a isso.
Não foi o prazer de uma vida saudável.
Não há medo, muito menos vício.
Não há necessidade de alguma “bengala”.
Não há vontade de suicídio.
Não é questão de juízo.
Não é força de vontade.
Não é uma tentativa de crescimento interno.
Não foi a terapia que me forçou.
Não é uma questão de opinião.
Não é algo que forcei a barra.
Não insisti e nem pedi.
Não fiz promessa.
Não foi nenhuma mulher que me fez mudar.
Não foi alguma cagada no meio do caminho.
Simplesmente a alma não quer.
O coração voltou a pulsar.
As comportas cerebrais se abriram.
Os olhos enxergam mais colorido.
Rimas fluem  facilmente.
Palavras saem da boca e dos dedos.
O pensamento vai bem longe.
A inspiração voltou a me acompanhar.
E sei que é de uma dose de poesia
Que eu vou precisar.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Meu jeito particular de rezar

Quando eu quero orar, não me ajoelho.
Se pretendo rezar, não olho pro céu.
Não frequento igrejas ou cultos de qualquer religião.
Nem tomo passe quando a coisa aperta.
Uma Ave-Maria eu deixo pra outro dia.
Eu não creio em Deus pai todo poderoso,
Mas acredito que o universo às vezes conspira.
Quando vou chorar, não vou correndo pro banheiro,
Muito menos derramo lágrimas na pia.
Uma Hare Krishna gringa me parou na rua outro dia.
Entregou pra mim um livro de mantras.
Era em vão, mas fingi que acreditei.
Quando tô afim de rezar mesmo, prefiro uma canção.
Ligo minha vitrola, ascendo mais um cigarro e ouço o coro.
Sento na minha cadeira de praia, aumento o volume.
Fecho os meus olhos, fico em transe.
Quando tô down e preciso orar,
Não quero ler as mentiras da Bíblia.
Muito menos escutar a voz exagerada de algum falso pregador
Se é necessário manter minha fé no mundo e na vida,
É disso que eu preciso.
Uma boa dose de Jagger & Richards
Com palavras sabias, certa dose de ironia.
Estrofes mágicas, o tipo de linhas  que devem ser lidas e ouvidas.
"Nem sempre você pode ter o que quer,
Nem sempre você  pode ter o que quer,
Mas se tentar mais algumas vezes,
Você encontra o que precisa!".
Esse é meu hino.
Essa é a minha reza.
A ode da minha alma.
O único mantra que sigo.
O haicai perfeito.
O epitáfio que eu tento seguir em vida.
.

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Na primeira página

Homens-bomba se explodem todos os dias
Jacaré come menino na Disney
A extrema-direita mata ativistas
O Rio de Janeiro decreta calamidade pública e toda grana vai pra Olimpíada
Delação, Corrupção
Querem construir um muro para foder com os mexicanos que aceitam fazer o trabalho sujo da América
O Pastor quer sua alma, sua grana, sem louvor
Não há cultura do estupro, diz o deputado evangélico cantor
Mais um gay foi espancado e  morto na esquina
A cultura não é necessária, falam os canalhas
Dinheiro lavado em compras de sapatos
Não é “golpe”, diz o chanceler fujão
Você é babaca por torcer pela seleção
Um cachorro foi morto numa abordagem da polícia
Mais uma travesti perdeu a vida
Quebra de barragem destrói cidade
34 estupram menina e você, otário, ainda elogia
Falta comida e papel higiênico num país da América Latina
Vão proibir os refugiados de chegarem aqui
O Teto da Meta é aprovada por mais um corrupto pateta
Eu não sei de nada, você também
Mas deu na manchete, deu na mídia
Você acredita, nos acreditamos, mas tá tudo combinado
Eu questiono, ninguém questiona, você se resigna 
E cada dia que passa vou cansando mais das notícias 

quinta-feira, 16 de junho de 2016

A crônica do parafuso ou "A máquina"

Nós somos pequenos
Engrenagens em um sistema perverso
“O horror...o horror”
Você não se sente como um parafuso?
Você nunca entra em parafuso?
44 horas semanais
E você só é aquilo que ajuda o óleo se espalhar pelo motor
Fica feliz com tão pouco?
Um passeio no parque com a doce namorada no final de semana
Com direito a pipoca melada, vermelha, como o sangue que você derrama
Na máquina
Sabe que tá ferrado
Enquanto o homem do dinheiro assedia alguém na firma
Ele tem o poder
Você?
Apenas algum charme
Isso não basta.
Olha pro céu e vê se Deus tá lá.
Se ajoelha ou apenas tenta,
Enquanto você é sufocado no trem das 6h30.
O cara de boné e fone de ouvido te encara.
Ele também é apenas um dos pistões da máquina.
Você não liga, sabe que a culpa do aperto não é sua.
Agora briga pra passar na catraca
E começa os 20 minutos de caminhada.
Você chega suado, nem teve tempo de tomar água.
Mas a engrenagem tem que funcionar.
E, sem perceber, seu sangue já tá lá.
Em mais um dia no inferno,
Fazendo o que você não gosta.
Olhando caras que não se importam.
Toma um café pra lubrificar melhor.
Você já tá o pó.
No almoço, a marmita tá estragada.
Uma refeição na rua fica cara.
Mas e dai? A máquina nunca para.
Faz uma fé na Loteria.
No fundo sabe que esse dinheiro será desviado e vai pro bolso de quem não merecia
Já se questionou?
Gosta de se vender por alguns trocados?
É bom ser um escravo barato?
Chega o fim do expediente.
Parafuso dorme?
Mas e o sistema?
E a máquina?
Como fica agora?
Uhnnn, um prego vem pro seu lugar após às 18h.
Que negócio escroto.
Mas a máquina nunca para.
Para os donos dela, o show não pode parar.
O sistema tem que continuar.
“That's Entertainment!”
O ônibus tá cheio agora.
Mais três horas.
Você é roubado.
Relaxa, ele é apenas um parafuso solto da máquina.
Chega em casa.
Contas atrasadas.
Você vive pra isso.
Pra manutenção de um sistema falido.
Não sabe disso.
Chegou a hora de deitar.
No fim, a máquina não vai parar.
Você morreu.
Meus pêsames.
Uma coroa de flores pro seu velório.
Seu filho chora.
Sua mãe surta.
Mas amanhã, fica tranquilo.
Um outro parafuso entrará no seu lugar.
E, como você, não descobrirá
Que o sistema só quer seu dinheiro e
TE MATAR...

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Canção da guerra para eu sonhar (ou pra te encontrar)

O dia é frio e minha cabeça tá gelada.
Minhas orelhas queimam, será que é você falando mal de mim?
Quando vamos nos encontrar novamente?
“We'll meet again, don't know where, don't know when”,
já diz aquela velha canção da guerra.
Um café, alguma prosa, isso não custa nada.
Alguns cigarros apagados na calçada, um passeio na noite suja dessa cidade
Que não dorme
Nos edifícios pixaram seu nome, eu vi outro dia.
Um novo romance, alguma paixão passageira, uma foda casual.
Só pode ter sido isso.
Até penso em te ligar, quem sabe não tento falar sobre o mistério de um dia de escuridão?
Às vezes minha alma chega a queimar, como um prédio em chamas, uma Roma atual e toda rachada.
Mas ainda há uma dúvida pairando na nuvem do meu cérebro: será que vai acontecer que nem o Johnny Cash canta?
We'll meet again, don't know where, don't know when. But I know we'll meet again some sunny day.
Eu não sei.
Só sei que por enquanto apago toda a luz do meu quarto,
Quem sabe assim não volto a sonhar com aquele teu velho retrato, meio apagado, antigo.
Talvez num desses sonhos eu te vejo de novo, mesmo não sabe onde ou quando, regras básicas do jornalismo.
Mas quem sabe num dia de sol, diferente desse que nós passamos hoje, você não cruze a esquina.
Dai, na janela do meu sobrado, vou assobiar uma música nova, algo que compus na guitarra.
Assim você se inspira e, quem sabe, fica grudada na minha vida.
Mas como tudo é uma questão de encontros, é melhor seguir meu caminho.
Algum acaso pode ocorrer e, finalmente, nos vemos algum dia.

Deus estressado

Essa noite Jesus não quer sua companhia.
E nem Deus tá afim de te ouvir.
Ele deve estar ocupado criando outra paraíso superficial,
Outro planeta escroto e covarde.
Monstros habitarão lá, o que não é diferente daqui.
Jesus tá cansado, nem joga videogame mais.
Cansou das coisas que fazem em seu nome e viu que não valia a pena brincar
Até tentou zerar a fase, mas ficou complicado demais.
São Pedro perdeu uma das chaves pro céu.
Judas tentou entrar, mas foi impedido por seguranças
Richard Nixon também ficou por lá, já que não achou o Inferno legal.
Na real, ele detesta se bronzear.
Mas Deus ainda não acabou seu plano e resolveu tomar uma com o Diabo.
O Diabo na verdade é uma mulher, de curvas longas, daquelas tipo fatal.
Ela comando o “inferninho” de forma leve, sem pressão, até sorri pros hóspedes.
Elvis e Jimi Hendrix estão lá, enquanto Marlon Brando dança tango, talvez seu último.
Deus, como Jesus, ficou cansado e desistiu da humanidade.
Descobriu que é melhor passar com  o analista e se tratar, assim descobre novas possibilidades.
O estresse ferrou com Deus, ele já não aguenta mais tanta autopiedade das pessoas.
Diz que em um mundo tão cruel, é impossível existir uma alma completamente boa.

É melhor jogar sinuca e ficar sentado no paraíso à toa.

Chuva da madrugada

4h da manhã
Acordo com o barulho do trem e ligo o rádio.
Toca “You belong to me” na voz do Bob Dylan.
Minha cabeça dói pra caralho.
Talvez seja por causa da bebida.
Já não bebo há um mês, mas mentalmente não sinto falta.
Meu último cigarro queima no cinzeiro do canto da cama.
Cama dura e fria, que aguenta o meu corpo durante algumas noites de insônia.
Penso em escrever uma carta pra você, mas quem lê cartas em tempos tão rápidos e confusos como esse?
Não há romance mais, só um pouquinho de sexo após um drink qualquer,
Em dias frios como os últimos, a vida pode ser um inferno.
Realmente durona.
Melhor calçar as minhas botas e fazer a barba.
Na previsão diz que chove, mas não há água que molhe e cure uma cabeça cansada.
Então o que posso fazer e pegar meu guarda-chuva, correr para o primeiro ônibus e cair na estrada

O BURACO

Olhei no espelho e vi um buraco na minha porta
Não sei que merda é, mas há um vazio lá
Algo vago, mas não consigo descobrir o que é
De noite esse furo vai ficando maior, mais escuro
Talvez fique cansado, já que é quase madrugada
Olho de novo pro espelho e dessa vez não vejo nada
Meus olhos doem agora, apesar de todas as luzes apagadas
Há algo exposto, sangrando, mas só consigo sentir
Tento acender uma luz pelo menos, não vejo nada ainda
Vou me aproximando do buraco, quase o tocando
Encostado, chegando bem perto, caio
Descubro o que o buraco é: um reflexo de uma alma vazia

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Dirigindo a noite toda

O mundo é uma merda a maior parte do tempo, mas de vez em quando vale a pena viver. Aproveitar o ar, fumar um cigarro no parque, ver as garotas correndo ou assistir os velhos jogando dominó. Pare pra tomar uma cerveja também. A vida só vale a pena se tomar uma cerveja, cara." Ele dizia isso com sabedoria e para todos do bar ouvir. Tinha uma áurea estranha, não era alegre ou pesada, apenas diferente. Através das entradas dos seus cabelos o suor escorria. Devia ter no máximo 50 anos, mas aparentava uns 80. O barman disse que o cara era taxista e sempre ia lá depois do expediente. Hoje tinha ido mais cedo, mas tomava apenas café. Resolvi ver se o cara fazia mais uma corrida, eu estava cansado, na pior parte da cidade e precisava ir pra algum lugar com cama e me deitar. O cara topou, mas não perguntei seu nome e só disse que queria ir para algum hotel. E logo começou a puxar assunto: "4h45 da manhã. Hora de fechar a casa. Pra muitos é o começo de um novo dia, eu tô é finalizando o meu. Sempre acabo no lado sujo da cidade, onde as putas, os viciados e os marginais ficam. Aqui você encontra tudo que a sociedade finge desprezar, mas adora no final. Todo mundo gosta de farra, putaria pesada, manja? Mas eles são meus clientes mais fiéis, os que mais ficam quietos também. Eu detesto gente que fala demais. Um tio meu diz que os motoristas adoram quando o passageiro fala, mas se eu pegasse um cara igual esse meu tio como cliente, bem, já tinha jogado pra fora do carro. Muita falação me desconcentra, principalmente quando começam a falar sobre política ou religião. Tenho minhas opiniões e ninguém muda isso. Mas foda-se, o expediente tá acabando e vou tomar uma cerveja. Gosto das fortes. Quando a noite é pesada ainda tomo uma "maçã" pra relaxar. Um dia um cara começou a cheirar no banco do carro. Pinta de playboy pra caralho, branquelão, todo no social. Tinha até cara de ser judeu ou era italiano, sei lá que porra que aquele filho da puta era. Sei que depois de dar um puta tiraço, o puto virou pra mim e pediu pra eu seguir pra uma daquelas casas de recreação adultas. Levei ele há uma delas. O bichão já tava cavernoso, todo se retorcendo e falou que não ia pagar a corrida. Desci do carro e meti a mão no filho da puta. Chutei bastante aquele rabo branco, mas vi que o sapatos do cara eram Armani. Quer saber? Não pensei duas vezes, peguei pra mim. O puto deve tá se retorcendo até agora com os "pezinho" gelado. Esse dia foi foda. Foi umas três pingas pro bucho. Hoje, graças a Deus, foi tranquilo, só levando um monte de doutor pro aeroporto. É bom, porque pagam direito e ficam no celular o caminho todo e, desse jeito, poupo saliva. Já fui motorista particular, mas quis ter o meu próprio negócio e comprei uma lotação. Ganhei uma puta grana, mas aí veio aquela prefeita e tomei no cú. Mas é a vida. Agora tô tentando relaxar, mas no rádio tá tocando essa do Springsteen, Drive All Night. "Quando eu te perdi, acho que perdi os meu culhão também", é o que ele diz. Talvez seja a história da minha vida, mas relaxa, não vou aumentar o volume. Eu tive uma mulher por um tempo. Ela era independente o bastante, do jeito que eu gosto, mas essa vida aqui fez eu me afastar dela. Acho que toda a porra de estresse que esse trampo dá, todos os engarrafamentos, a merda toda, eu acabava descontando nela, um mulherão. Era professora e adorava criança, mas não tivemos filhos, pro meu azar e sorte dela. Sei que ela casou. Acho que com um antigo namorado ou algum professor amigo. Sei lá, só sei que quando ela foi embora doeu pra caralho, fiquei mal. Até achei que ia morrer. Mas o volante e Deus não deixaram. Continuo rezando desde então. Funcionou uma vez, deve continuar funcionando. Hoje eu moro numa pensão, aluguel barato e poucos problemas, a não ser a noiarada que fuma embaixo da minha janela. Mas ás vezes o fim da noite é frio, triste, até mesmo melancólico e aqui, tomando minha cervejinha e escutando essa música, o pensamento vai longe. Como ele diz na parte principal, dirigiria a noite toda pra comprar novos sapatos praquela mulher e, se ela ainda quisesse, provar de seus carinhos. Mas ela não quer e o taxímetro não pode parar. Quem sabe na próxima corrida? Talvez, mas aí vai ser Bandeira dois , né não, doutor? A vida já me cobrou mais caro, talvez eu devesse cobrar também. Mas é isso aí, doutor. Chegamos no seu destino, já falei demais. Essa é por minha conta, não precisa mexer no bolso, fui com a tua cara. To sempre ali no centro e precisando, já sabe. Fica com Deus e até a próxima." Só agradeci e entrei no hotel. Fiquei pensando no que o cara falou a noite toda. Fui abandonado cedo, criado por um cara que eu achava que era o meu pai. Minha mãe era professora e morreu no último ano. Não andava legal, mas conversar com esse taxista me fez bem, principalmente descobrindo que ele é o meu verdadeiro pai. É, cara, o mundo é uma merda na maior parte do tempo, mas vou seguir os seus conselhos. Fique em paz, cara, fica em paz. 


POR GABRIEL CAETANO (setembro/2015 - inspirado na canção que ilustra o post)

SER

Eu queria ser Lou Reed
Pra pegar carona num ônibus cheio de fé
E me mandar.
Eu queria ser o Belchior
Só pra gozar no seu céu, no seu inferno
E ficar todo sujo de batom.
Eu queria ser o Cohen
E, quem sabe,
Da sua caverna desfrutar
Eu queria ser Gregory Corso
Assim não jogava meu humor na janela
Eu queria ser o Sam Shepard
Só pra te cruzar em alguma esquina
Eu queria ser o Dylan
Tomaria mais um copo do seu café,
Pra depois partir
Mas por enquanto eu sou eu,
Preso a sombra no chão da rua
Sentindo o frio na minha espinha,
Pra, quem sabe, assim,
Pegar uma rima boa na maré
E tentar escrever poesia.

POR GABRIEL CAETANO