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quinta-feira, 23 de junho de 2016

Orgânico e necessário (o que alimenta a vida)

Não são os pontos do futebol que alimentam o meu dia. Primeira, segunda, última colocação, sinceramente, não importam pra mim. O que mata minha fome, de verdade, são o vento, algumas palavras presas ao céu, o sol quente na manhã gelada - pelo menos em um lado da calçada. Ver pessoas sorrindo, apesar do esbarrão pra entrar no trem, ou o velho senhor, já quase sem dentes, vendendo balas de hortelã  pra ganhar algum vintém. O escuro também é bom, repleto do silêncio, oportunidade pra transbordar os pensamentos e os suspiros das nossas almas cansadas. Buscamos leveza, precisamos da leveza, queremos a leveza. Seja dos nossos espíritos nada cristalinos, dos corpos jogados pela cama ou num porre no botequim da esquina, junto com a rapaziada querida. Coisa cotidiana, comum, banal, mas que enche nosso coração com a momentânea alegria. Uma partida de bilhar, só pelo lazer, por algumas risadas. O livro de bolso do autor favorito falando sobre a guerra, pontes ou estradas. Um café puro com coxinha pra escutar a tiração de sarro dos balconistas da padaria - todos, sem exceção, gente fina. Às vezes o muito é desnecessário e basta uma caminhada no parque, através da tentativa de respirar um pouco do que nos resta de oxigênio puro, pra frutificar o coração. Escutar o disco que lembra aquela menina que você conheceu naquele dia onde se sentia tão só. Poder fazer isso durante o maçante trabalho é melhor ainda. Se perder pela cidade, num dia sem hora definida, e poder olhar por outro panorama os arranha-ceús, viadutos, igrejas e jardins. Sentar em uma poltrona larga de cinema, pra sair da sala e refletir na vida após aquele filme meio cabeça. Ligar pro tio, pro vô, pra tia, só pra perguntar ou contar como foi seu dia. Como é boa a sensação de correr pra pegar o último trem, apesar da tristeza de deixar a amada outra vez. Mas logo vem a saudade, uma conversinha no WhatsApp, ou, quem sabe, um telefonema, pra sentir realmente a intimidade. Às horas só são pontos em algum lugar do universo e, pra evitar o tédio, alimente-se o dia inteiro daquilo que você nem sabe o que é. Descubra o novo, explore o que aparecer. Pode e deve errar também. Tudo nos fortalece, basta um pouco de garra, nem precisa ter vontade de vencer. Apenas alimente-se bem, organicamente, com aquilo que lhe convém, e, como diria o velho clichê das ruas, sem fazer mal a ninguém. 

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