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terça-feira, 14 de novembro de 2017

O fantasma do tempo

Todo o tempo vai passando na sua frente
Chronos e Kairós diante dos seus olhos
Enquanto seu coração se mantém preso ao tempo
E o passado se apaga da sua mente.
Os dias de diversão na sua sala,
Sinceramente, hoje não valem nada.
E o riso, o suor que escorria da sua testa
São apagados com pressa.
Quanto tempo será que me resta?
Velhos hábitos desaparecem,

Outro bate à sua porta agora,
Vai atender?
Será que vale a pena jogar a chave fora?
E nos seus pensamentos, independente do tempo,
Aquelas noites em seu apartamento irão surgir.

Não adianta tentar desistir agora.
E na boa,pra mim pouco importa.
Você já acenou diante da janela.
Não disse adeus, mas, aos poucos,
Me mandou embora.

Agora vou sumindo, me torno parte da história
Um pedaço que deve desaparecer, 
Como o fantasma de alguma outra estória.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Elvis e eu

O primeiro LP de Elvis, que é também o primeiro disco de rock'n'roll que ganhei na vida
Acho que foi em julho de 1996, numa segunda-feira. Estava assistindo uma entrevista de Eli Corrêa com o famigerado Padre Quevedo em um final de tarde. Naquele dia o Padre demonstrava em seu próprio corpo alguns métodos usados pelos ditos charlatões, inclusive atravessando uma agulha pela pele do seu pescoço. Uma tremenda curiosidade pra um moleque de seis anos. Entre uma demonstração e outra, o intervalo comercial rolou. A locução dizia que naquela noite haveria um “Festival Elvis Presley”, começando com a exibição de O Prisioneiro do Rock. Confesso que aquela imagem em preto e branco na velha televisão de tubo com a imagem granulada, além do som de Jailhouse Rock me hipnotizou. Precisava assistir aquilo. Certa ansiedade tomou conta de mim. Não via a hora de chegar às 22h. Estava na casa dos meus avós, então a liberdade era total, nem precisava ir pra cama cedo. Fiquei ligado na telinha, até que a sessão começou. Vince Everett, o personagem de Elvis, matava um homem a socos logo na primeira cena e ia pra cadeia. Precisava ver aquilo até o final. Não demorou muito e logo as canções escritas por Jerry Leiber e Mike Stoller começaram a rolar. Escutar a voz daquele cara e a guitarra de Scotty Moore foi uma porrada que tomei na cabeça e no coração. Nunca tinha ouvido nada igual. Era simples, verdadeiro, cheio de atitude e melhor do que todas aquelas ondas infantis que rolavam na época. Era rock’n’roll, ou seja, música de verdade. Uma sensação única, como o primeiro orgasmo ou aquele cigarro roubado do maço de alguém que você fuma escondidinho e relaxa o seu corpo todo. Pura mágica. Assisti o filme até o final, inclusive a antológica sequência de Jailhouse Rock. Ali decidi que queria ser igual aquele cara. Acompanhei os filmes que passaram nas semanas seguintes. Louco por Garotas, Com Caipira não se brinca, Viva um pouquinho, ame um pouquinho, Joe é muito vivo e o maravilhoso Elvis Triunfal. Tirando o último citado, hoje acho todos ruins mas sempre acabo assistindo e sou levado aos meus tempos de criança. Criança tomada pelo Rock e pela “Elvismania”.

Naquele mesmo ano, perto do natal, meu pai arrumou um emprego após um difícil período desempregado. Como presente pra família, comprou nosso primeiro rádio com tocador de CD e, curiosamente, me presenteou com aquele antológico disco inicial de Elvis na RCA, o mesmo que tem Blue Suede Shoes, Money Honey, Blue Moon e Tutti Frutti. Dia e noite escutava aquilo e acho que meus vizinhos me detestavam por isso. No mesmo período, descobri uma rádio pirata onde vários sons dos anos 50 eram tocados. O apresentador tinha um acervo fabuloso e descobri que podia ligar e pedir a música que quisesse. Foi através desse programa que conheci Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, Johnny Cash e todos aqueles caras fodões que gravaram com Sam Phillips na Sun Records. Em tempos anteriores ao You Tube, era só ligar, pedir a canção e preparar uma fita K7 pra gravar - tenho algumas delas até hoje. Dali em diante, meus heróis deixaram de ser aqueles dos desenhos animados bobos. Eu queria tocar piano como Jerry Lee e fazer os movimentos de karate que o Elvis fazia no palco.

Os anos foram passando, e na escola eu sempre era conhecido como o menino fã do Elvis. Em 2005, um professor muito querido pediu para eu levar todo o material que tinha sobre Elvis. Discos, livros, revistas, CDs. Para minha surpresa, ele anuncia que levará um cover de Elvis na escola. Até hoje alguns amigos me tiram sarro do momento em que fui convidado pra cantar Tutti Frutti com o cara e confesso: me emocionei pra caralho, afinal, nunca poderia ver um show do verdadeiro Elvis (talvez algum dia no céu ou no inferno).

Hoje, 16 de agosto de 2017, é o aniversário da (possível) morte do eterno “Rei”. São 40 anos sem o cara. O dia em que ele deixou o prédio e virou um mito contemporâneo. Sem a música desse cara, não sei os caminhos que a minha vida teria tomado. Talvez teria virado um desses caras que chapam o coco em balada sertaneja ou que acreditam no que o Datena fala na televisão. A música de Elvis Presley foi o trilho para outras descobertas. Uma chave que destravou a minha mente. Sem ela não teria descoberto o rockabilly, o blues, algumas coisas literárias que eu adoro, toda uma cultura pop, além de todo suingue e vigor que o rock’n’roll deixa em nossas vidas. Quem sabe nesta noite fria de agosto Elvis não esteja vivo, cantando em alguma espelunca por aí, fazendo senhorinhas balançar o quadril durante a madrugada e rindo de tolos emocionados como eu. Se tiver, obrigado pelos ensinamentos, Rei. Um dia te vejo em Memphis!


terça-feira, 15 de agosto de 2017

Cinema, poesia, socos e um punhado de pó - a louca história de Dennis Hopper




Dennis Hopper ainda estava incorporado com o personagem do fotojornalista de Apocalypse Now quando chegou à Alemanha. Tinha três câmeras penduradas em seu pescoço e nem se lembrava do motivo de estar lá, muito menos quem era Win Wenders, o diretor que havia feito o convite para Hopper estrelar O Amigo Americano.  Dennis não tinha decorado o texto e vivia a base de cocaína e álcool. A primeira cena rodada foi na oficina do personagem de Bruno Ganz - ator famoso por ter feito Hitler em A Queda. Sem saber suas falas, mas sabendo do que se tratava, Hopper improvisou.  Ganz, que é alemão, não entendia o que Dennis tentava dizer. Wenders resolveu gravar a cena mais uma vez. Novamente Hopper improvisou e Ganz foi ficando mais nervoso.  Em uma terceira tomada e um terceiro improviso, Bruno não aguentou. Deu um soco no meio do nariz de Hopper.  Enquanto o melado descia, Dennis revidou e os dois atores foram ao chão. Wenders paralisou a filmagem, e todos os trabalhos seriam retomados no dia seguinte. Nem Hopper ou Ganz apareceram e o diretor, num momento de desespero, cancelou as filmagens pelo segundo dia consecutivo.  No terceiro dia, Win Wenders tem uma surpresa: Dennis Hopper e Bruno Ganz chegam completamente bêbados, rindo muito e cantando. A partir daquele momento Wenders consegue rodar seu filme e Hopper toma um drink de vez em quando. Essa é uma das histórias contadas no ótimo Dennis Hopper: Por Trás da Lenda, documentário lançado no ano passado. 

Apesar do título fraquinho em português, através do depoimento de gente como Michael Madsen, o próprio Win Wenders, Julian Schnabel, Isabella Rossellini e outras figuras lendárias, temos a possibilidade de entender um dos artistas mais perturbados e visionários de sua geração. Hopper esteve presente em momentos cruciais da história americana. Fotografou Martin Luther King, Paul Newman, Andy Warhol, entre outras figuras marcantes de nosso passado recente.  Escreveu poesias, foi coadjuvante de Marlon Brando, James Dean e John Wayne. Dirigiu o grande clássico do cinema independente americano, o fantástico (e meu filme preferido) Sem Destino - o marco cinematográfico da contracultura. Ficou chapado de ácido na selva e sumiu por quatro dias enquanto filmava Apocalypse Now e foi proibido de se hospedar em todos os hotéis da Austrália.  

A vida, como Hollywood, deu uma segunda chance pra Dennis, mesmo ele insistindo em ser um porra-louca. Após ter recebido o “não” de Willen Dafoe e Richard Bright, David Lynch ofereceu a Hopper o papel de Frank Booth (foto) em Veludo Azul.  Não é necessário dizer que o cara roubou o filme. A partir das indicações que recebeu por sua interpretação, durante os 10 anos seguintes, Dennis foi o psicopata preferido da indústria cinematográfica. Fez várias merdas, como Super Mario Bros, Waterworld e Velocidade Máxima.  Nos últimos 23 anos de sua vida, resolveu ficar sóbrio. Dizem que era um saco entrevistá-lo nesse período, afinal, ele queria provar que era o easy rider de outrora.  Em 2010, Hopper morreu de uma forma triste, como mostra suas últimas imagens. Quem diria. Nem mesmo um dos últimos caras rebeldes conseguiu lutar contra um câncer na próstata, o que deixa claro a fragilidade de todos nós diante da grandeza da vida.

sábado, 5 de agosto de 2017

Durango Kid à brasileira

Até hoje há diversos preconceitos com a música popular, principalmente com aquelas que surgem nas periferias dos centros urbanos ou nos cafundós sertanejos desse nosso imenso país. Para muitos, não há valor cultural nesse tipo de canção ou poesia, mesmo estando ali nossas principais raízes culturais. Tem até tentativas de se criar leis para evitar a execução de determinado gênero. Isso me faz lembrar do samba de gafieira e de Waldick Soriano - que mesmo depois de morto, é pouco reverenciado. 

Talvez a figura do macho à moda antiga, assim como declarações demonstrando seu pensamento político contribuíram para isso,mas como interprete e poeta do sertão, é preciso tirar o chapéu de cowboy para ele. Nos anos 70, Waldick causou furor em uma boate da alta classe carioca, que esperava ver um verdadeiro circo dos horrores e acabou se rendendo a um dos mais finos interpretes de nossa música, com um domínio de palco extremo, além daquela figura cafajeste e sinistra. O cara matou à pau e virou amante de uma das dondocas da high society carioca presente na ocasião. 

Os seus grandes momentos em disco, pelo menos para mim, são "Tortura de Amor", "Paixão de um Homem", "Eu também sou gente" e "Eu vou ter sempre você",versão de Antônio Marcos (o grande poeta de São Miguel Paulista) para um velho standart gravado originalmente por Alice Faye e imortalizado por Nat King Cole. Se você dúvida, veja esse vídeo dirigido por Patricia Pillar um pouco antes da morte de Waldick. A saúde não era mais a mesma, mas a voz, a voz era única e sensacional.

(para saber mais sobre o dia que Waldick "abalou" a alta sociedade carioca, recomendo esse texto: http://lounge.obviousmag.org/renzo_mora/2013/07/a-noite-em-que-waldick-soriano-redesenhou-o-society-carioca.html)

sábado, 24 de junho de 2017

Desenganos e uma pergunta no ar

De cima do Elevado, trocando olhares
Andando lentamente, imaginando outros ares.
No frio d’alma, no calor de certos mares
Em outras camas, diversos lares
Estamos de volta a jogada, baby
Preparando a próxima bola que irá até a caçapa.

Diante do peso que temos em nossos ombros
Ou de todas as mágoas que cravam o nosso peito,
Voltamos ao velho labirinto, onde não conta o prazer,
Mas sim o respeito.

E nas estrelas diante de nós,
Numa busca incessante por paz,
Estamos aqui, no mesmo espaço,
Tentando nos encarar,
Ensaiando um novo paço.

Seus vizinhos te chamam de linda,
Mas você é mais que isso.
Quer ser reconhecida por outros caminhos,
Por outras vidas, algum novo destino.


E a terra roxa treme, como um peão prestes a parar de girar.
Surge algo no espaço, uma cor nova irá brilhar.
Mas dentro de mim tenho apenas uma pergunta:
Será que vamos nos encontrar?