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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Então é natal


Estou na padaria perto do trabalho, local onde sempre janto ou petisco um pedaço de pizza. Hoje consegui lugar mais próximo a parede, então não consigo ver a TV. Ao fundo, rola uma versão de "Então é natal" na voz de Vavá, do Karametade (lembra deles?). Só por isso, a comida, que está ótima, já não desce tão bem. Mas antes desta versão em ritmo de pagode, uma outra pior e cantada pelo KLB - aquele grupo que sem sucesso tentava copiar as harmonias dos irmãos Gibb - ecoava pelo local. Para se tornar uma experiência ainda mais indigesta e deprimente, um coral de crianças entoando também "Então é Natal" estoura dos falantes. É o verdadeiro horror. Uma vontade de fugir, chutar o rabo do Papai Noel e do responsável pela gravação desse MP3 infernal resume tudo. Surge a pergunta se devo ou não pagar a conta após essa sessão de tortura. Poderia dar um golpe, não sei. Eis que talvez o espírito natalino toma conta da minha mente e corpo. Resolvo pagar pela experiência agoniante, já que do caixa ouço tocar Chubby Checker. Acho que é o Papai Noel me recompensando por toda a tristeza causada após a terceira execução do hino natalino. Como diria John Lennon ou Simone, então é Natal e não há nada que a gente possa fazer para fugir do clima mercantil e tenebroso desta época. Nem adianta subir pela chaminé e cutucar Papai Noel com um cabo de vassoura, afinal, com essa crise política que está aí, acho difícil o "Bom Velhinho" aparecer por aqui.

PRA EXORCIZAR TODOS OS MALES DE 2016 - VOL. 1

2016 já é, sem dúvida alguma, um dos anos mais escabrosos de nossa muitas vezes patética existência humana. Crises políticas, econômicas, genocídio, terrorismo, golpes políticos, anúncio de reformas nas áreas previdenciária e trabalhista, corrupção, fascismo, chacinas, desinformação, surpresas retrógradas e um grande receio do que estar por vir estamparam diariamente páginas e mais páginas de jornais, gerando grandes questionamentos e incertezas sobre o nosso futuro. Será essa a hora de fazer como o refrão dessa canção e pedir para o Sr. Homem do Espaço nos levar para um passeio por outras bandas intergaláticas? Quem sabe 01 de janeiro não seja uma boa data pra isso.

*Esse som inspirou Raul Seixas e sua "S.O.S."

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Apesar do tempo claro, 100% de chances de chover

Renato Gizzi
Foto tirada por Renato Gizzi

Desde o resultado das urnas, João Doria Jr. vem mostrando que não é um político, mas um gestor - e dos piores. Durante a campanha, talvez por um erro de cálculo (ou seria picaretagem á lá velha política?), fez a promessa de não aumentar a tarifa dos ônibus e, como podemos acompanhar nos últimos noticiários, mesmo aqueles que blindam o "neo" tucano, era apenas uma falácia. Em sua equipe de governo, conseguiu reunir uma boa turma de condenados ou réus na justiça. Só galera do bem. Agora, "Little John" vem com a ideia de transferir a Virada Cultural, o único patrimônio concreto deixado pelas péssimas gestões de José Serra e Gilberto Kassab, para o Autódromo de Interlagos, local que não é de fácil acesso como a região central de São Paulo. No mesmo dia em que apresenta essa decisão equivocada, ainda diz que a cidade que comandará é um lixo. Fico pensando o que o eleitorado viu nele. Houve um pensamento coletivo sobre uma possível distribuição em massa de máquinas de café expresso, assim como fazia em seu programa, ou é apenas mais um milagre do "Santo" Alckmin? Enquanto isso, Fernando Haddad, o responsável por trazer a maior megalópole da América Latina ao Séc. XXI,  laureado pelas políticas visionárias de seu mandato e um dos poucos a deixar a cidade com grana no caixa, faz uma melancólica despedida. Me parece que  apesar do tempo claro e seco, há ventos de uma tempestade longeva no ar. É melhor procurar abrigo e se proteger.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

VERSOS FINOS COMO TRAÇOS DE CHUVA




É preciso condenar
severamente quem 
crê nos bons sentimentos
e na inocência.


É preciso condenar
com a máxima severidade quem
ama o subproletariado
sem consciência de classe.


É preciso condenar
com a máxima severidade
quem ouve em si e expressa
sentimentos obscuros e escandalosos.


Estas palavras de condenação
começaram a ressoar
no coração dos Anos Cinquenta
e continuam até hoje.


Entretanto a inocência,
que efetivamente havia,
começou a perder-se
em abjuras, corrupções e neuroses.


Entretanto o subproletariado,
que efetivamente existia,
terminou se transformando
em reserva da pequena burguesia.


Entretanto os sentimentos
que eram por natureza obscuros
foram todos investidos
no lamento das ocasiões perdidas.


Naturalmente, quem condenava
não se deu conta de tudo isso:
e continua rindo da inocência,
negligenciando o subproletariado


e declarando sentimentos reacionários.
Continua indo da casa
pro escritório, do escritório pra casa,
ou ensinando literatura:
está feliz com o progressismo
que lhe faz parecer sagrado
o dever de ensinar aos domésticos
o alfabeto das escolas burguesas.


Está feliz com o laicismo
que considera é mais que natural
que os pobres tenham casa,
carro e tudo mais.


Está feliz com a racionalidade
que o faz praticar um antifascismo
gratificante, elevado
e sobretudo muito popular.


Que tudo isso seja banal
nem lhe passa de longe pela mente:
com efeito, que seja assim ou assado
não lhe dá nenhum proveito.


Aqui fala um Sócrates mísero e impotente
que sabe pensar e não filosofar,
mas que no entanto se orgulha
não só de ser um conhecedor


(o mais exposto e esquecido)
das mudanças históricas, mas também
de nelas estar direta e
desesperadamente implicado.




(Pier Paolo Pasolini em La Nuova Gioventù, de 1975, o mesmo ano de sua trágica e até hoje misteriosa morte.)

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

E ele viu a luz

A música pop tem coisas engraçadas. Do nada, surge um cara e, de forma bem simples, diz alguns sentimentos que todos sentem algum dia na vida. Esse é o caso da cafona, mas linda música de Todd Rundgren, a famosa I Saw The Light. Rundgren foi mestre em descrever um daqueles encontros que nos marcam. Sabe aquele que faz algo dentro da gente ficar mais forte? Bem, é isso que é dito em I Saw The Light. Recentemente, no filme A Very Murray Christmas, Bill Murray, David Johansen (aka Buster Poindexter),  Paul Shaffer, Jason Lee, Maya Rudolph e Rashida Jones interpretam uma versão Nick Bar dessa mágica canção. Claro que a carreira de Todd Rundgren não deve ser apenas lembrada apenas por ter criado essa sedutora melodia chiclete, mas, só por isso, ele tem seu lugar na história. Seguem a letra e um vídeo de Rundgren executando a irresistível canção:



Ontem à noite, bem tarde
Estava sentindo que algo não estava certo
Não havia ninguém à vista
Só você, só você
Então nós caminhamos juntos
Ainda assim, eu sabia que algo estava errado
E veio essa sensação, tão forte, sobre você
Então você olhou para mim e a resposta estava clara
Porque eu vi a luz nos seus olhos

E mesmo com o nosso lance
Eu nunca teria suspeitado
Até que aquele sininho começou a tocar na minha cabeça
Na minha cabeça
E eu tentei fugir
Embora soubesse que não adiantaria
Porque eu nunca poderia amar ninguém, ou pelo menos foi o que eu disse
Mas meus sentimentos por você
Eram algo que eu não tinha ideia
Até  ver a luz nos seus olhos

Mas eu te amo mais que tudo
E não falo da boca pra fora (ha ha)
Porque você é diferente, garota, de todas as outras
Aos meus olhos
E eu fugi antes, mas não vou fugir de novo
Você não consegue ver a luz nos meus olhos?

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

A necessidade do risco

Não gosto de dividir a cama
e detesto quem detesta solidão.
Não é aversão a companhia,
mas preciso de espaço,
da cama vazia.
Não tenho medo de ficar sozinho,
sempre  prefiro amores de um só dia.
E quem tem pena, fica com dó de mim,
Mando sair do meu caminho - é melhor.
Gosto da dança, de ver coxas
balançando em um vestido preto.
De ver as moças saindo do trabalho,
todas com o cabelo ao vento.
Sentir certas fragrâncias no ar,
desnudá-las sem nenhum medo.
Não é que tenha pavor de namoro,
muito menos casamento,
Mas pra sentir o sangue nas veias,
é necessário certo risco, afinal, só assim
conseguimos  libertar o espírito.

A hipócrita dor do amor

Hoje a noite algo parou.
Meu coração disparou.
E nem sei o motivo.
O gosto da sua boca mudou
E em sua língua há espinhos.
Até ontem, baby blue,
 andamos no mesmo caminho.
Mas algo passou em sua cabeça,
Um filme sem cor, uma flor sem cheiro,
o momento onde o amor
se transforma em desespero.


Nossos sentimentos,
nesse momento,
velejam para o Ártico.
Sou obrigado a ficar aqui parado,
com um choro contido,
no meio do nada, 
procurando abrigo.


Mas você será forte,
como toda mulher é,
E enquanto sinto 
meu coração em pedaços,
imerso na pieguice
de um peito enamorado,
Você segue em frente,
diz que é a sua chance de
 recomeço.


Respiro, penso e sinto,
imagino nós dois na cama,
enquanto toco o seu quadril.
Logo depois, você acende 
o último cigarro.
Me olha mais uma vez,
Sopra a fumaça e diz:
 - Tchau, amor.
Abro os olhos.
Vejo que tudo não passou
de um delírio.

É melhor me esconder,
voltar a dormir
e chorar embaixo do cobertor,
enquanto acoberto a maldita
e hipócrita dor do amor.

domingo, 13 de novembro de 2016

Play it again, Sam

Canção. Palavra simples, mas cheia de significado. Uma canção, muitas vezes, significa um estado de espírito, alguns minutos marcantes da insignificante existência do ser humano nesse universo que se perdeu há muito tempo. Podem ser dias tristes ou alegres, mas alguma canção estará tocando em um rádio, mesmo que seja uma ruim ou alguma feita apenas pra dançar. Prefiro deixá-las por aí, gosto das que discutem algo relevante, daquelas que realmente mexem com algo por dentro, ficam intrínseca na carne e no espírito, geram reflexão e esperança. Com apenas dois dias de diferença, perdemos dois craques desse estilo, caras que realmente sabiam o que significava a expressão blues. Leon Russell hoje, Leonard Cohen na quinta-feira. Como o mundo fica mais chato sem a poesia e música desses caras. Claro que será eterna, afinal, discos servem pra isso, mas muitas vezes apenas isso não é o bastante. Nesses últimos dias me peguei emocionado em alguns momentos e é gozado, já que não conheço esses caras pessoalmente, mas, através de suas canções, me tornei íntimo de cada um deles. Talvez há um pedaço de todos nós em cada música que eles escreveram e tocaram, mesmo as feitas antes de nosso nascimento. Ou será que a questão é a reflexão e os questionamentos inseridos na obra de cada um foi um questionamento em algum momento de nossas vidas, mesmo de quem nunca ouviu nenhum dos dois? As duas coisas, sem dúvida. Se existe algo além das nossas galáxias, se realmente o céu ou inferno estão em algum lugar da nossa pós-existência terrestre, apenas os indígenas, os poetas e os músicos sabem disso. A chave desses lugares estão em seus bolsos ou em cima do piano, jogada entre o cinzeiro e os copos de cerveja e uísque. Talvez fiquem entre os arpejos de tal nota, não sei. Fico aqui, imaginando nesse possível paraíso, em Ray Charles, B.B. King, Lou Reed, J.J. Cale e todos os grandes fazendo festas diárias, repleta de barris de cerveja, sem hora pra acabar. Encontros inimagináveis, como Agepê e Wando  escrevendo uma letra juntamente de Serge Gainsbourg, Gonzaguinha fazendo mais uma canção política na companhia de Woody Guthrie ou Nelson Cavaquinho tirando um blues com Muddy Waters e Junior Wells. Enquanto isso, James Brown e Etta James improvisam passos de funk num samba enredo cantado por Jamelão. Como diria o Erasmo Carlos, uma tremenda festa de arromba, enquanto aquelas maravilhosas “tias” da velha guarda de alguma escola de samba fazem os rangos com aquelas mammas americanas que cuidavam das violentas casas de blues na beira da estrada. Em uma outra nuvem, Thelonious Monk martela o piano, enquanto Vinícius e Tom criam uma nova letra ou melodia e Duke Ellington fuma seu cigarro de filtro longo. Enquanto isso, Elvis tá na capela do lugar e Frank Sinatra tá com a cabeça enroscada com os caras da máfia. Aí, de forma celestial, com direito a tapete vermelho, através de um elevador e num céu parecido com aquele mostrado pelos caras do Monty Python em “O Sentido da Vida”, surge Leonard Cohen, todo de preto, de braços dados com Leon Russell, numa beca branca, assim como sua barba. O silêncio toma conta do lugar e faz sentido, afinal, agora eles vão compor e cantar. Longa vida, mesmo que através dos discos, aos trovadores, poetas junkies, músicos de cabaré, todos eles, nossos grandes mestres da canção. Sem eles, não valeria viver, até mesmo digladiar. Agora ligue o rádio, aumente o som e play it again, Sam.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Mais um dia

Teorias da conspiração,
Como as de um filme do Oliver Stone,
Surgem nos pensamentos dela.
Não é fácil acordar às 4h,
Lavar o rosto, calçar os sapatos,
Engolir o café a seco e seguir a rotina.
Saber que enfrentará o assédio de diversos 
babacas, velhos pervertidos e de clientes chatos
Por mais um dia.
Muitas vezes, perdida em seus pensamentos,
Solta um sorriso bobo, vai a alguma nova dimensão,
Mas logo é obrigada a voltar a realidade,
Ao trabalho chato e medíocre,
Que ela sabe não estar a sua altura,
No telefone uma nova reclamação,
Os comandos de uma nova missão,
Algo que ela não ganha pra fazer.
Levanta pra tomar um café,
Não dá sorte, o idiota de outra área
Insiste em convidá-la pra sair.
Tudo que ela queria, nesse crucial momento,
Era sair de cena, deixar pra lá.
Talvez ter um coquetel molotov
Mas seria um absurdo, melhor voltar pro seu lugar.
E na mediocridade do seu dia,
O seu olhar encobre alguns de seus sonhos,
Um encontro comum na fila de uma padaria,
Uma risada sem graça acompanhada de
Um beijo na bochecha.
Papos filosóficos pela madrugada.
Talvez na próxima semana isso aconteça,
Depois da sessão de terapia da quinta.
Mas agora chegou a hora esperada,
Desliga o computador,
Passa o relatório pra estagiária.
Vai seguir sua vida,
Tomar um banho, se fechar no quarto 
Com algum escritor russo.
Depois precisa dormir,
Já que amanhã é mais um dia
De sua dolorosa rotina.

Poesia eletrônica

Já não escrevem mais a mão
Não há sequer, no papel, 
A marca do batom.
É tudo touch screen,
Basta apertar um botão,
Simples assim.
Cartas de amor, 
Que costumavam ser bregas.
Ninguém escreve mais.
Ficam em bate papos infinitos,
Por meio de algum aplicativo,
Sem tempo pra sentir a saudade,
Apenas alguma instantânea felicidade,
Que maldade!
Os amantes, conectados a todo instante,
Não circulam mais pelas praças,
Muito menos sentam em bancos,
Estão sempre online, 
Mas com almas desconectadas.
Até mesmo o clichê das mãos dadas
Naquele velho pálido luar
É uma água passada.
Troca de olhares em um balcão qualquer,
Enquanto a cerveja refresca o corpo suado,
Foram substituídas por um cardápio variado,
Onde a sorte conta um bocado.
Pra encontrar com quem se quer.
Hoje meus versos são digitais,
Minhas palavras universais.
E de alguma parte do mundo, 
Um lugar globalizado e moribundo,
pós-moderno e após a bomba atômica,
Ainda insisto no verso e na prosa
Através da minha poesia eletrônica.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

ESTADOS UNIDOS DA AMNÉSIA


Existem graus de amnésia, maneiras de esquecer
Jeitos de lembrar tudo de bom que você fez
E, se você não tem uma testemunha  pra lembrar você mesmo,
Ninguém é perfeitamente bom o tempo todo
E se você matou a todos os peles-vermelhas há muito, muito tempo atrás
Bem, eles  estão todos mortos agora de qualquer maneira, de qualquer maneira
Não deixe esse fantasma desconcertar você – O Senhor proverá
Uma lápide pouco agradável para o Cherokee bravo
Portanto, sem reservas,  nós vamos ter uma limpeza
Abrindo caminho para a terra dos livres
Vamos ouvi-lo na civilização, mais uma vez
Construindo seu império ariano em paz

("The United States Of Amnesia" é uma canção do músico inglês Robert Wyatt feita nos anos 80 que você pode escutar aqui: https://vimeo.com/162364395 )

Trump ou Hillary são o mesmo lado de uma moeda velha, a mesma que perturba nosso caminho subdesenvolvido há vários anos. Se fosse um ou outro, nada mudaria, essa é a verdade. Governos da América Latina continuarão sendo derrubados com a influência de agências americanas, assim como alguns de seus mais banais “líderes” se curvarão aos pés do imperialismo, sendo a única diferença que em pleno Séc. XXI nos tornamos um terceiro mundo high tech. Guerras com o envolvimento dos EUA continuarão existindo, afinal, a indústria bélica precisa faturar.  O conflito  entre Israel e Palestina será financiado pelo Tio Sam por muito mais tempo, isso é garantido, e haverá sangue, muito sangue. Logo a relação entre Putin e Trump irá azedar e vamos estar diante daquela velha sensação de  paranoia sobre uma guerra nuclear. Nada de novo no front, apenas a atualização dos dados e a certeza que cada da vez mais estamos  longe de tempos de paz. 

sábado, 5 de novembro de 2016

Anjo do amor

Eu tô perdido e confuso,
Sozinho num caminho louco,
Não aceita cartão de débito por aqui.
Não sei o que fazer, muito menos sentir,
Queria ser como Van Morrison,
Perfeccionista ao extremo,
Te escrever uma canção,
Ver se o solo de sax tá certo,
Te agarrar, te sentir.
Mas sou um intruso,
Um covarde, que todos os dias,
Todos os dias, queria dar um “olá” pra ti.
Pode parecer bobagem, uma loucura irreal,
Mas, desde que conheci você, te vi,
Tudo que desejo são noites quentes,
Sua cabeleira loira, seu cheiro,
E seu corpo todo, todo pra mim.
Sei que não tô rimando,
Nem tenho inspiração pra tanto,
Mas queria você aqui.
Queria você me afagando a dor,
Fazendo trapézio da minha solidão,
Me amando como sou.
Não sou um infeliz,
Muito menos imbecil,
E, talvez, tô esperando um anjo louro,
Que me traga algum tipo de conforto,
E que, de certa forma, ore por mim
Não vou chorar e sofrer.
Sei que seu caminho é longo,
E eu tô perdido, perdido no meu destino.
Gritando contra a dor, procurando seu amor.
E, do nada,
Você pode surgir aqui pra mim,
Cheia de dúvida e certo rancor,
Com velhos receios,
Quem sabe sem medos,
Pronta para ser, apenas,
Meu eterno anjo do amor.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

O Cara Certo

Eu devia estar me afogando em lágrimas,
bebendo tequila barata e confidenciando 
a minha vida ao garçom.
Devia estar com vontade de me esconder,
botar fogo em algum canto, apenas te odiar.
Devia estar com uma dor de cotovelo daquelas,
tentando me jogar de alguma  janela
 ou nadar até um lugar bem distante no mar.
Devia mandar botar seu nome na macumba,
te amaldiçoar, desejar pra ti uma bela corcunda.
ou ver você virar loba ao luar.
Mas não consigo, você sabe que eu não minto.
Tô feliz, alegre por você, pelo mundo,
rido até pro cara de sorte que agora vai te amar.
Fui incapaz, sou grosseiro,
o carrapato no seu travesseiro,
o cavaleiro destinado a te libertar.
Agora você traçou o seu próprio caminho,
abriu as porteiras do seu próprio espaço,
me libertando, deixando eu ser feliz sozinho.
Mas mantendo certo carinho,
que espero não perder
em alguma virada do destino.
Mas, egoísta que sou,
Tomo mais um trago, fumo rapidamente 
e fico observando  alguma garota passar.
Nosso tempo sempre foi outro
e agora, sem receio algum,
com um sorriso cínico na boca
e um cigarro preso nos lábios,
te digo, com certeza,
 que nunca fui o cara certo pra te amar.

Seguindo em frente

Continuar, prosseguir. Por que é tão difícil pra tanta gente seguir em frente? Claro que é confortável manter velhos hábitos e seguir padrões que não levam a caminho algum, mas vale a pena? De que vale manter velhas amarguras dentro do peito se você pode encontrar novos prazeres por essa estrada mal pavimentada que é a vida. Não vou falar que foi fácil para mim, mas seguir em frente, sem olhar as coisas que deixei no meio do caminho, hoje é algo natural, simples, como passar manteiga derretida em um pão francês. É só dar um passo de cada vez, sem pressa alguma. Como o passageiro de um trem viajando para o desconhecido, que resolveu descer em uma estação pacata só para sentir o cheiro do orvalho matinal. Claro que seguir em frente é um exercício doloroso muitas vezes, mas é um processo libertador e a chance de trazer novas cores pra vida. Velhas ideias, gostos e paixões ficam guardadas em armários enferrujados dentro do cérebro e da alma, tudo separado por arquivos. Aquilo que foi bom e acrescentou algo será lembrado. Já os sentimentos ruins, a raiva e o ódio por inimigos inexistentes logo desaparece, nem vale a pena lembrar. Há um incinerador em pleno funcionamento em algum lugar remoto de nossa memória. Seguir em frente é a chance de fazer tudo diferente, de cometer novos erros, mas sempre com a oportunidade de jogar os dados novamente. Regozijar-nos, regozijar-nos, não temos outra opção senão seguir em frente. Ouvi isso em uma canção de tempos turbulentos, nas vozes de sonhadores que apenas queriam um amanhã mais ensolarado e repleto de paz. Talvez hoje eles estejam velhos como seus sonhos, quase mortos e desesperançados, mas sabiam que pra cantar o blues, você tem de viver no tom e seguir o fluxo sempre pra frente. Como eles diziam em inglês, go your way, I'll go mine and carry on.


quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Volta, Belchior - 70 anos de um gênio máximo da canção


"Há tempo, muito tempo
Que eu estou
Longe de casa
E nessas ilhas
Cheias de distância
O meu blusão de couro
Se estragou

Ouvi dizer num papo
Da rapaziada
Que aquele amigo
Que embarcou comigo
Cheio de esperança e fé
Já se mandou

Sentado à beira do caminho
Prá pedir carona
Tenho falado
À mulher companheira
Quem sabe lá no trópico
A vida esteja a mil...

E um cara
Que transava à noite
No "Danúbio azul"
Me disse que faz sol
Na América do Sul
E nossas irmãs nos esperam
No coração do Brasil...

Minha rede branca
Meu cachorro ligeiro
Sertão, olha o Concorde
Que vem vindo do estrangeiro
O fim do termo "saudade"
Como o charme brasileiro
De alguém sozinho a cismar...

Gente de minha rua
Como eu andei distante
Quando eu desapareci
Ela arranjou um amante
Minha normalista linda
Ainda sou estudante
Da vida que eu quero dar...

Até parece que foi ontem
Minha mocidade
Com diploma de sofrer
De outra Universidade
Minha fala nordestina
Quero esquecer o francês...

E vou viver as coisas novas
Que também são boas
O amor, humor das praças
Cheias de pessoas
Agora eu quero tudo
Tudo outra vez...

Minha rede branca
Meu cachorro ligeiro
Sertão, olha o Concorde
Que vem vindo do estrangeiro
O fim do termo "saudade"
Como o charme brasileiro
De alguém sozinho a cismar...

Gente de minha rua
Como eu andei distante
Quando eu desapareci
Ela arranjou um amante
Minha normalista linda
Ainda sou estudante
Da vida que eu quero dar..."

70 anos de um homem que escreveu coisas à frente do seu tempo ou, talvez, os tempos não tenham mudado quase nada. Trilha sonora pensante e angustiante de tantos perdidos por aí. Ele mesmo se perdeu, desapareceu. Onde estiver, vivo ou morto, que esteja escrevendo canções e poesias viscerais como essa aqui, presente no álbum Era uma vez um homem e seu tempo.  Minha versão favorita é do discaço acústico Eldorado, gravado juntamente com o duo uruguaio Larbanois & Carrero .   Parabéns, gênio. 70 anos do mestre Belchior. Vê se volta, cara.

domingo, 23 de outubro de 2016

Deusa do Rock'n'Roll

Na última semana, Kim Gordon fez dois shows com ingressos esgotados no Sesc Pinheiro. Consegui ter a oportunidade de assistir a última apresentação. Perturbador é a palavra que melhor define Body/Head, seu duo de guitarristas com Bill Nace. Nunca fui fã de Sonic Youth, mas admirava toda atitude de Kim. Ao vê-la pessoalmente na noite do último sábado, essa visão só ampliou. Ela é hipnotizante, com suas botas prateadas, pernas a mostra, guitarra e gaita em punho. É impossível tirar os olhos dela. Há uma selvageria e ao mesmo tempo calma em sua presença no palco. Nem notamos que Kim tem 63 anos e não parece também. Talvez o mais fantástico seja observar o impacto que ela causa nas mulheres da platéia, afinal, Gordon é uma das responsáveis por arrebentar as portas machistas do Rock'n'roll. Após uma hora e pouco de show, tenho que confessar uma coisa: Deusas existem e tive a oportunidade de ver uma delas pessoalmente.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Pro universo

Você partiu na manhã de sábado.
Um sol escaldante pairava sobre o seu corpo.
Sua sombras brilhavam por toda rua.
Era proposital; era a última vez que te via.
Fizemos amor na noite anterior
E no calor do quarto, sufocava ao seu gemido.
Decibéis de prazer como trilha sonora
De uma noite de lua cheia próximo
A uma triste aurora.
Sabia que você ia embora,
Mas evitei qualquer assunto,
Queria evitar um clima de tensão,
Algum tipo de tristeza, sabe.
Me concentrei na safadeza,
Em todo o tesão.
E na natureza dos nossos corpos nus,
O meu desejo era que em seu sexo,
Uma chuva ácida, à lá Hiroshima e Nagasaki,
Surgisse do nada e me fizesse sentir.
Sentir todo o prazer que você me oferecia
Outra vez.
Não insisti pra você ficar,
Já que acredito que a vida são ciclos.
E apesar desse meu pensamento clichê,
Da poesia pobre de revista Amiga
E do meu espírito inconstante,
Achei que por um momento,
Algum instante,
Poderia te amar.
Mas não deu, foi mal,
Deixo você me odiar.
Às vezes acho que há um buraco no meu coração,
Um vazio pra preencher,
Aquele espaço pro rejunte,
Igual nos velhos azulejos azuis da cozinha.
E é melhor você partir,
Talvez você se assuste.
Mas honey darling,
Além da liberdade de ir,
Te dou a de voltar.
E, no momento certo, mesmo que seja no inferno,
Puxe uma cadeira, se aconchegue
E fique pra ficar.
Ou só respire mais um pouco,
Me deixe rouco e, no meu tempo,
Você pode me amar.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

YOU

Queria falar de amor,
Escrever uma canção,
Acertar o tom,
Tirar o acorde certo.
Ser simples, (in) discreto,
Direto, tentando um papo reto.
Pego uma nota, brinco com ela,
Puxo a inspiração de um canto,
Mas nada acontece.
Fico pensando, parado,
Feito um babaca,
E a inspiração não floresce.
Manjo um pouco de inglês,
Tento ser um poeta de Latinoamérica,
Nem um verso aparece.
Dedilho o violão, tiro alguns sons,
Não consigo.
Nesse momento, penso em George Harrison,
Em alguma paixão e no seu corpo nu.
Lembro da crueza da sua alma,
Das ancas e andanças.
E invento uma canção pra tu.
Baby, it’s for you,
Just you...

Deixa sangrar (pra um guitarrista que eu conheço)

Hey, cara solitário,
Eu entendo você.
Pegou sua guitarra,
resolveu seguir a estrada.
Decidiu jogar.
No apartamento no centro,
aquele que você morava,
nada mais tinha graça.
Seu companheiro de quarto se foi.
A mulher que te amou um dia,
resolveu sair da tua vida
e não quer mais voltar.
O que sobra?
Velhos discos de blues,
um riff à lá Bo Diddley
e lágrimas no chão de taco.
É melhor pegar a estrada.
Sem destino, sem medo e sozinho.
Sabe, eu te admiro.
Com seu jeito durão de bom coração,
Surfista velho e solitário,
que chora com músicas de outra geração.
Hoje você tá no Sul, amanhã vai pro mar.
Tentando pescar alguma coisa boa pra vida,
Oh, desregrada vida,
Vida essa que você sempre levou.
Não adianta arrependimentos,
nem a cachaça barata que você é adepto.
As cicatrizes estão no seu corpo
e você tá cansado de dar porrada.
I'll never be your beast of burden
My back is broad but it's a hurting
Você tocou essa canção algumas vezes
e foi pra todas as mulheres que cruzaram teu caminho.
Troca o disco, muda o acorde, se levante, maldito.
O público quer escutar suas notas,
quer chorar te ouvindo.
Vendo você sangrar sobre o palco,
sentindo a harmonia crua da sua guitarra,
E percebendo que tudo é só uma viagem alucinada
até a morte chegar,
Vai, guitarrista solitário,
Pega a guitarra só mais uma vez,
E como os mestres sabiamente disseram,
Deixa sangrar.

Por hoje basta

Sente-se e tome alguma bebida.
Sei o quanto é difícil ficar a vontade,
E o meu papo até parece música,
Música de má qualidade, é claro!
Tente relaxar, de verdade.
Esquece o calor que tá lá fora
E de todos sonhos perdidos outrora.
Daquela gente com coração frio,
Querendo sucesso a qualquer preço,
Sem se importar em amar.
Almas nem tão vazias,
Mas tristes, perdidas,
Sem nenhuma luz pra brilhar.
Encoste o seu corpo com o meu.
Pele com pele, é bem melhor assim.
Fica tudo mais fácil.
Deixa eu beber esse suor repleto de medo.
Com gosto da dúvida e certo receio ao se entregar.
Entendo que seu coração já foi machucado,
Tá calejado, empedrado, enquadrado.
Guardado em alguma gaveta vazia atrás do armário.
Me sinto assim também, mas só de vez em quando.
Aí fico no canto, refletindo e pensando.
Tentando me encontrar.
Mas já tô perdido, milhas e milhas longe 
Do meu real destino.
Então, o que me resta,
É sentir você sem pressa,
Esquecer do meu relógio velho, 
Que fica pendurado na cozinha,
Sentir seu cheiro felino,
E te fazer minha,
Só minha.
E isso, por hoje,  basta.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Sangue em forma de poesia (ou Um Nobel Para Bob Dylan)

Bob Dylan ganhou um Nobel e, por conta disso, está sendo criticado por muitos. Muitos que, inclusive, tiveram sua vida embalada por canções de Dylan, o homem de voz de gralha, do violão de acordes simples e de letras extraordinárias. Ele pode não ser um autor, como seu contemporâneo Leonard Cohen, mas foi o responsável por misturar a melodia e poética de blues simples compostos por Blind Willie McTell ou Blind Lemon Jefferson a raivosa e genial veia manifestante de Woody Guthrie. A canção popular mundial deve ser separada “Antes de Dylan” e “Depois de Dylan”, essa é a verdade.  

Não quero menosprezar Saramago, Camus, Hemingway e outros mestres que já venceram o prêmio, mas o alcance da poesia de Dylan foi e é muito superior do que qualquer livro desses caras. Dylan faz música popular e, consequentemente, toca no rádio. Não é necessário ter grana para ouvi-la, muito pelo contrário. É possível escutá-la na fila de um hipermercado ou enquanto o açougueiro corta um pedaço de carne em seu estabelecimento. Não há necessidade de bibliotecas ou livrarias. Até mesmo na guerra, as palavras escritas por Bob Dylan ecoaram – seja nos sonhos de soldados mortos que apenas queriam sobreviver para resgatar a juventude perdida ou na cabeça de militantes que pediam por tempos de paz. 

Bob Dylan sempre esteve à frente do seu tempo, é um gênio além do campo da contracultura e a chave das portas que levam ao descobrimento de uma geração que ajudou transformar o mundo em um lugar menos banal e um pouco mais consciente. O homem que foi muito além dos cafés esfumaçados do Greenwich Village e se tornou a referência do que todo compositor gostaria de ser.  Ainda lá atrás, nos anos 60, ele fez os jovens se interessarem por poesia novamente, seja através das referências em canções ou da própria estrutura de sua escrita.  De Lennon e McCartney, passando por Jagger e Richards, ao cinema de Scorsese, Oliver Stone e Peckinpah e a literatura barata de um poeta de boteco da esquina, sempre haverá a mão de Bob Dylan lá. Se você discorda que ele é um poeta, então leia todas as letras de Blood On Tracks ou Blonde on Blonde. Se aquilo não é poesia, meu amigo, nada mais será. E não esquente a cabeça que um músico e poeta ganhou o Nobel de Literatura. Isso é só um sinal que os tempos estão mudando.

sábado, 8 de outubro de 2016

Doido pra Brigar... Louco pra Amar

Sozinho numa noite sem fim,
Andando por aí em uma rua vazia.
Dormindo em um banco sujo do carro.
Sempre ando de ressaca.
Tô sempre fodido.
Sem ninguém pra me ensinar algo.
Pode ser até sobre amor.
Mas só quero seguir o caminho,
continuar sendo durão.
Um homem sem medo, sem receio de mostrar
as coisas que dominam seu coração.
O orgulho, bem, ele não leva a nada.
E perdedores, mesmo como eu,
são os verdadeiros campeões.
Não se deixam levar por besteira,
muito menos levam a vida a sério.
Tô falando demais, já enchi o saco.
É melhor acender outro cigarro,
exalar fumaça e partir.
Andar sem dar a mínima,
como aquele herói daquele
velho filme de quinta.
Frases prontas não me convencem,
muito menos daqueles que acham
que vencem.
Estou por aí, numa fria esquina.
Sem classe, muito menos rotina.
Só fica na espreita, esperando a chuva passar.
Tomando algum trago, celebrando a vida.
E, por mais negativa que seja,
a única coisa que me importa,
é a adrenalina.
Seja por meio de poesia
ou correndo em um parque,
sentindo o vento na cara,
fugindo de alguma sincera monotonia.
No fim, me divirto.
Sou como aquele cara de um filme antigo,
doido pra brigar, louco pra amar.
E, se agora você me permitir,
vou entrar em outro boteco.
Quero é me divertir.

Prateleiras

Sentados no parque em um dia de verão.
Mãos com mãos, como se o destino
não reservasse algum final pra aquilo.
Ele dizia que estaria lá a qualquer momento,
a qualquer hora.
Ela custava em acreditar, mas decidiu viver
o clima, aproveitar esse pouco de tempo.
Talvez o que mais ele precisasse era saber que
ela não o queria da mesma forma que ele.
Mas, apesar disso, os dois se olhavam nos olhos,
compartilhavam sorrisos.

Ele sabia que ela era mais esperta.
O cara era um verdadeiro pateta.
Dizia para os amigos que, finalmente,
tinha encontrado sua Cinderella.
Que negócio mais brega.
Ela era mais centrada, direta.
Não vivia em mundos de fantasia,
Muito menos acreditava em amores
pra toda vida.
Tinha certeza que encontraria uma nova paixão,
num momento incerto, nas prateleiras de uma livraria.

Ele ligava pra ela todos os dias.
Era um grude, um porre.
Ela continuava por lá,
Nem sabia o motivo,
Mas queria testar sua sorte.
Acreditava nos olhos de ternura dele,
mesmo sabendo que logo deveria partir.
Ele sofreria, a amaldiçoaria
e ela só queria ser feliz,
mesmo com seus olhos
repletos de melancolia.

Naquele dia no parque,
resolveu dizer toda a verdade.
Disse que não o amava, não precisava viver aquilo.
Gostava de ser só e de suas próprias ideologias.
Ele não caiu em prantos, nem jogou praga.
Disse que entendia perfeitamente,
não queria nenhum tipo de briga.
Ela se surpreendeu, não imaginava essa reação.
Na verdade, ele só estava tentando ser durão.

Nos meses seguintes, ele sofreu.
Bebeu em todas as espeluncas da Rua Augusta.
Passou vexame em todos os restaurantes onde comia.
Até que uma hora caiu na real e viu que isso não resolvia.
Deveria era seguir a vida.
Resolveu comprar um livro idiota de autoajuda,
daqueles repletos de frases sobre o destino
E que não resolvem porra nenhuma.
Ela sobreviveu, era forte.
Não precisava de nenhum homem ( que mulher precisa?).
Se sentia confortável sozinha, até mesmo resolveu
aprender gastronomia.
A cozinha era sua nova paixão,
mas precisava renovar o estoque de receitas.
Resolveu sair de seu novo endereço
e ir até a livraria da esquina.
Perguntou ao vendedor onde ficava
os livros de culinária.
Mas o destino, um infiel companheiro,
Novamente a surpreenderia.
Afinal, entre as prateleiras,
ela avistou ele.
Ele riu e foi até o seu encontro.
Nesse momento, apesar de patético,
ela descobriu que ele, por mais idiota que seja,
poderia ser o amor de sua vida.


Anos depois, apesar de muitas luzes
terem se apagados.
Eles estavam juntos. construíram um sobrado.
Ele amadureceu, compreendeu um pouco
dos mistérios da vida.
Ele havia mudado.
Ela continuava a mesma, só que agora cozinhava
E entendia o que ocorria.
Não queria mais ficar sozinha, cansou da velha rotina
E, no final da noite, ao som de um velho standard de jazz,
os dois dançavam, mas tinham pressa.
Precisavam ir logo pra cama, queriam fazer amor.
Agora eram sinceros um com o outro, diferente do passado,
afinal,descobriram sobre as surpresas que a vida prega.

Papel sulfite

Muitas vezes, uma garrafa de cerveja,
um copo americano, uma caneta
e alguma folha de papel vazia
são as melhores companhias de um homem.
Um toca discos ajuda também,
mas sempre há um risco.
O risco das canções que velhos discos trazem de volta.
Canções bregas, românticas, rock'n' roll ou serestas.
Todas elas trazem lembranças ou, quem sabe,
alguma inspiração nova.
Memórias de festas,
talvez o Sol de uma nova manhã.
E na cabeça do poeta,
Uma confusão acontece.
Na verdade, é quase uma guerra.
Palavras surgem para cobrirem
a folha branca de papel com emoções.
Talvez Dionísio tenha haver com isso,
mas o álcool flui nas veias.
O coração surge através de uma prosa
repleta de besteira.
Velhas paixões se transforma num rabisco
feito pela caneta.
Frustrações se transforma em dores agonizantes,
por mais que sejam patéticas.
Amores se transformam em um filme repleto de frases
e garranchos, sem dúvida alguma, via a veia poética.
E no final de toda essa aventura,
vivida através de bebida e música,
a poesia aparece, mesmo sem sentido ou crua.

Deusas

Amo todas as mulheres que cruzam o meu caminho,
Todas elas, seja mãe, vó, tia, amiga, namorada, amante,
Todas aquelas que vou conhecer em um destino distante.
Todas aquelas que fizeram parte de um passado inconstante.
Amei desde a mais louca, que me fez perder noites de sono,
Ou mesmo aquela, que me fazia vários interurbanos.
Teve uma possessiva, queria todo controle da minha vida.
Outra me chamou de machista por conta da uma mania.
Algumas me odeiam, com todas as suas forças.
Mas detesto falar de passado, muito menos ficar preso a ele.
Só sei que considero todas Deusas com D maiúsculo.
E todas, sem exceção alguma, merecem meu respeito.
Mas, principalmente, a todas eu dou meu maior presente:
Todo o amor que eu tenho guardado no fundo desse peito.